O espermograma é um exame que avalia a qualidade e quantidade dos espermatozoides presentes no sêmen (líquido ejaculado), o que se relaciona diretamente com a capacidade reprodutiva masculina.
Veja quando solicitar e como interpretar um resultado de espermograma.
Quando solicitar um espermograma?
Muitas vezes a infertilidade de um casal decorre de um problema masculino. Sendo assim, os problemas podem ser evidenciados por alterações seminais. Dessa forma, a análise do sêmen é prioritária em uma rotina básica na investigação de infertilidade de um casal, e constitui um exame que já deve ser realizado na primeira consulta, antes de investigações mais extensas (e invasivas) femininas.
O espermograma também é utilizado para avaliar efetividade da varicocelectomia, bem como para documentar esterilização adequada após uma vasectomia.
Ainda, o espermograma é indicado na investigação de doenças e como avaliação de pós-tratamentos sistêmicos que possam comprometer a qualidade do sêmen.
O que é esperado como padrão no espermograma?
Cor = branco / acinzentado.
Volume = 1,5 ml ou mais.
Liquefação = dentro de 60 minutos.
pH = 7,2-8.
Viscosidade = ausente (filamento ≤ 2 cm).
Concentração = acima de 15 milhões/ml.
Número total de espermatozoides = acima de 39 milhões por ejaculado.
Motilidade = 32% ou mais do tipo A+B ou 40% ou mais do tipo A+B+C.
Morfologia = acima de 30% formas normais/ovais (critério da OMS) ou acima de 4% (morfologia estrita de Kruger).
Vitalidade = 58% ou mais.
Leucócitos = até 1 milhão/ml.
MAR teste = até 50%.
Zinco seminal ≥ 2,4 µmol/ejaculado.
Frutose seminal ≥ 13 µmol/ejaculado.
Caso exista alterações, recomenda-se a repetição do espermograma, preferencialmente com mais duas amostras, com intervalo mínimo de 12 semanas entre elas. Isso porque a espermatogênese leva cerca de 3 meses para ser completada. Análises isoladas classificam um homem como sendo anormal aproximadamente em 10%, sendo que se repetir o exame, a taxa se reduz para 2%.
Como interpretar os achados?
Após a coleta do sêmen, rotineiramente analisa-se o material de forma macroscópica e microscópica.
Avaliação macroscópica
Cor: a coloração padrão é branco-acinzentada. Uso de medicamentos ou ficar muito tempo sem ejacular pode tornar a cor mais escura.
Volume: normalmente uma ejaculação tem de 2 a 5 ml. Prostatite e hiperplasia prostática são as principais causas de alterações de volume. Baixo volume (oligospermia) pode estar relacionado à ejaculação retrógrada.
Liquefação: o sêmen perde a consistência gelatinosa, mudando para líquido em cerca de 15 minutos a 1 hora. Usualmente disfunções prostáticas podem prolongar esse período.
pH: embora a próstata produza secreções ácidas, a vesícula seminal produz secreções básicas. O resultado final normal é um pH levemente básico (7,2-8); valores extremos podem comprometer a sobrevivência dos espermatozoides.
Avaliação microscópica
Concentração
A concentração constitui um dos pontos mais importantes na avaliação de fertilidade pelo espermograma.
A normozoospermia (fertilidade normal pela concentração) é acima de 20 milhões de espermatozoides por mililitros de líquido ejaculado.
Na ausência de espermatozoides, estamos diante de uma azoospermia. Possíveis causas incluem: obstrução infecciosa, congênita ou adquirida, vasectomia, radio/quimioterapia, criptorquidia, caxumba, hipopituitarismo, Klinefelter.
Abaixo de 20 milhões de espermatozoides por mililitros, estamos diante de uma oligozoospermia. Nesse caso, a fertilidade é reduzida – gravemente se < 5 milhões/ml. Dentre as possíveis causas, citamos insuficiência gonadal, patologias das vias seminais, criptorquidia, hipoplasia testicular, endocrinopatias, uso de medicamentos/drogas.
No outro extremo, temos a polizoospermia, quando há mais de 200 milhões/ml. Nesse caso, há alta chance de comprometimento da fertilidade por formas anormais.
Morfologia
Nesse caso, avalia-se o padrão dos espermatozoides. Podem ser classificados como ovais (normais), amorfos, afilados, megalocéfalos, defeitos de peça intermediária, defeitos de cauda etc.
Segundo a OMS, considera-se uma “amostra normal” se tiver pelo menos 30% de espermatozoides ovais (normais). Caso estejam alterados refletem uma terazoospermia (geralmente decorrente de varicocele, infecção/inflamação testicular ou alterações citogenéticas).
Atualmente, utiliza-se critérios mais rigorosos como o de Kruger. Nesse, os espermatozoides são medidos quanto a cabeça, centrômero e cauda. Considera-se a amostra normal caso tenha 4% ou mais espermatozoides dentro do padrão.
Vitalidade
Avalia a quantidade de espermatozoides vivos – espera-se ao menos 58% de espermatozoides vivos. Caso o número seja menor de 25%, recebe o nome de necrozoospermia (geralmente decorrente de infecções genitais).
Motilidade
Avalia a capacidade de um espermatozoide em se movimentar, o que é de suprema importância, uma vez que determina a capacidade de ascender até o óvulo.
Para isso, classifica-se os espermatozoides em A, B, C e D:
A = progressão rápida.
B = progressão lenta.
C = móveis, porém sem progressão.
D = imóveis.
Caso haja pelo menos 32% de A+B ou pelos menos 40% de A+B+C considera-se o exame normal. Exames alterados refletem uma astenozoospermia.
Outros parâmetros
Outros exames dentro do espermograma podem ser solicitados para complementação diagnóstica.
Leucócitos: deve existir menos que 1 milhão de leucócitos/ml. Constitui leucospermia quando o valor é acima dessa, o que pode refletir uma prostatite ou infecção do canal seminal.
Células redondas: podem ser células imaturas (células que iriam virar espermatozoides) ou leucócitos. Valores acima de 1 milhão/ml devem ser avaliados para evidenciar se são leucócitos.
Cultura: na necessidade de avaliação de agente etiológico de prostatite.
Frutose, ácido cítrico: produzidos nas vesículas seminais. Deve ser solicitado obrigatoriamente diante de baixo volume seminal e falha em coagulação seminal. Podem refletir comprometimento das vesículas seminais como ausência congênita de deferentes ou obstrução dos ductos ejaculadores.
Zinco seminal: baixos níveis de zinco no sêmen têm sido correlacionados com a diminuição do potencial de fertilidade.
MAR teste: detecta anticorpos anti-espermatozoides no sêmen que interferem na capacidade reprodutiva. Os anticorpos podem decorrer de traumas, infecções ou cirurgias locais.
Teste de fragmentação do DNA espermático: para que o espermatozoide chegue até o óvulo e fertilize, é necessário que o DNA do espermatozoide esteja íntegro. Esse exame avalia justamente isso.
Espermograma com capacitação: simula a capacidade do espermatozoide em conseguir fertilizar através da simulação de condições uterinas
Orientações importantes aos pacientes
Antes da coleta para o espermograma, importante informar o paciente da necessidade de abstinência sexual por 2-5 dias (seja coito ou masturbação). Períodos de abstinência mais curtos podem comprometer a contagem, assim como períodos mais longos podem comprometer a qualidade seminal por baixa motilidade e morfologia.
Além disso, o paciente deve evitar bebidas alcoólicas por pelo menos 5 dias.
A coleta é realizada em salas reservadas de laboratórios especializados, por meio da masturbação. A coleta em casa a partir de relação sexual com preservativo especial, sem substância tóxicas para o espermatozoide, pode ser feita em situações que haja incapacidade de coleta via masturbação. Nessa situação, deve-se levar a amostra para o laboratório em até 1 hora após a coleta – evitando calor ou frio excessivo no transporte (20-37ºC).
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