Escherichia coli: como tratar as diferentes condições clínicas?

e coli

Bactérias Escherichia Coli são causadoras de diversas condições clínicas, desde infecções não complicadas do trato urinário até bacteremia grave. Ainda que causadas pela mesma bactéria, cada condição clínica tem suas particularidades, e um tratamento específico e direcionado.

Veja mais sobre as principais infecções causadas por E. coli, bem como as principais opções de tratamento para os pacientes.

Saiba mais sobre a Escherichia coli

Escherichia coli são bactérias em forma de bastonetes Gram negativas. Podem ser imóveis ou conter flagelos. Crescem bem em temperaturas de 7-46ºC, e a maioria fermenta lactose, e são indol positivas.

As estirpes são diferenciadas pelos antígenos: O = somático, H = flagelar e K = capsular. Quatro formas causam doenças gastrointestinais: E.coli enterotoxigênica (ETEC), E.Coli enteropatogênica (EPEC), E.coli êntero-hemorrágica e E.coli enteroinvasiva (EIEC).

A principal cepa da E coli êntero-hemorrágica é a O157:H7, e produz toxinas “shiga-like” 1 e 2. Pacientes com diarreia sanguinolenta geralmente apresentam bactérias produtoras de shiga 2. É a única cepa que pode ser diferenciada em laboratório não molecular.

As bactérias são transmitidas via fecal-oral, via ascendente em casos de cistite, via hematogênica em casos de bacteremia ou por contaminação direta local em casos de feridas.

De maneira geral, a bactéria coloniza o local de infecção, e começa a produção dos fatores de virulência. Na maioria dos casos, a resposta contra a infecção é bem-sucedida, com células de defesa atuando localmente – causando os sintomas de cada condição clínica.

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Infecções do trato gastrointestinal

A Escherichia coli é a principal causa bacteriana de Gastroenterite Infecciosa Aguda (GECA) – uma inflamação aguda do TGI secundária a patógenos. Nas infecções gastrointestinais, há ingestão das bactérias, colonização intestinal e produção dos fatores de virulência, sendo que quatro cepas diferentes podem estar envolvidas:

E. coli enterotoxigênica: mecanismo secretor. Principal causa bacteriana. Dura cerca de 2 – 5 dias. Apresenta diarreia bem aquosa e náuseas, ausência de febre. Comum em crianças acima de 1 ano e em viajantes (“diarreia do viajante”)

E. coli enteropatogênica: mecanismo de adesão à mucosa intestinal. Causa vômito, febre baixa e diarreia. Geralmente acomete menores de 2 anos.

E. coli êntero-hemorrágica: mecanismo de adesão à mucosa intestinal e produz toxinas “shiga-like”- principal cepa O157:H7. Leva à colite hemorrágica. Não leva à febre. Mais comum em menores de 5 anos.

E. coli enteroinvasiva: mecanismo de invasão intestinal. Presença de diarreia com muco e sangue. Acomete crianças e adultos.

Ainda no sistema gastrointestinal, a bactéria pode estar envolvida em apendicite aguda e doenças inflamatórias intestinais, como Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa.

shigelose

Infecções do Trato Urinário – 85% dos casos são por E. coli

As infecções do trato urinário (ITU) podem ser comumente causas por E.coli – cistite, pielonefrite e prostatite. A bactéria está envolvida em 85% dos casos não complicados, e 50% das infecções complicadas.

A cistite é uma ITU baixa, e corresponde a 90% dos casos de infecções urinárias sintomáticas – disúria, polaciúria, urgência urinária, sensação de urina quente, presença de peso ou dor em região suprapúbica, hematúria e urina turva. É 50 vezes mais frequente em mulheres do que em homens. Estima-se que 10% das mulheres têm pelo menos uma infecção por ano, e 60% têm em algum momento da vida.

Na presença de febre ou dor em região de flancos/costas associado ao quadro, avaliar a possibilidade de estar diante de uma pielonefrite.

A prostatite também é uma ITU baixa, com sintomas semelhantes à cistite, e a E.coli está envolvida em até 88% dos casos. Em 5-10% dos casos, a prostatite aguda pode evoluir para casos crônicos, enquanto outros podem evoluir com síndrome de dor pélvica crônica.

e. coli cistite

Outras infecções causadas por E coli

A E. coli é uma das principais causas de pneumonia nosocomial precoce (até 4 dias de interação), e a contaminação pode ocorrer por 4 formas principais: aspiração, inalação, via hematogênica ou por continuidade (da pleura ou do mediastino, por exemplo).

Caso a E coli chegue com sucesso ao local de infecção, há multiplicação bacteriana alveolar, congestão local e preenchimento por exsudato – que posteriormente passa a ser purulento. Com a produção de anticorpos, a resolução da infecção e eliminação do exsudato alveolar pode ocorrer por fagocitose ou pela tosse.

Ainda, a bactéria está frequentemente envolvida em infecções de feridas, de úlceras de decúbito e de pé diabético. Casos graves e não tratados podem progredir com bacteremia.

Escherichia coli: como tratar as diferentes condições clínicas?

Bacteremia

A bacteremia ocorre em decorrência da progressão das condições clínicas locais, ou em casos específicos como procedimentos médicos ou odontológicos. Em geral, a presença das bactérias na corrente sanguínea é assintomática. Sua deposição e multiplicação em órgãos, bem como a resposta excessiva do hospedeiro, é que definirão os sintomas posteriores.

A sepse, por exemplo, decorre de uma resposta inflamatória sistêmica excessiva a uma infecção, e em 40% dos casos são por bactérias Gram negativas. Pericardite, osteomielite e artrite reativa também são complicações graves, que podem ocorrer por infecções não tratadas. A meningite por E. coli é mais comum em recém-nascidos.

paciente hospital fusariose

Como tratar cada condição?

Embora sejam todas causadas pela mesma bactéria, cada condição clínica deve ter suas particularidades de tratamento avaliadas.

Nas infecções do trato urinário, a antibioticoterapia é oferecida, mesmo que empírica. Em casos de dor, analgésicos/anti-inflamatórios são associados, assim como antissépticos urinários.

Em caso de gastroenterite, formas leves e moderadas, o tratamento é de suporte ambulatorial com soro de reposição via oral. Antibioticoterapia é reservada apenas em casos graves.

Para infecções cutâneas, a primeira opção é o debridamento de feridas. Antibioticoterapia apenas se necessário.

Já em infecções complicadas, a antibioticoterapia é sempre oferecida, e realizada em unidade de terapia intensiva (UTI).

A duração do tratamento depende do antibiótico de escolha e da condição clínica, variando entre 3 e 7 dias. Casos de sepse podem necessitar de tratamentos mais longos (até 21 dias).

alivio da dor analgesico

Quais antibióticos podemos utilizar?

É importante conferir suscetibilidade antimicrobiana antes do tratamento, para evitar resistência. No entanto, alguns casos podem ser tratados de forma empírica. Veja as principais opções:

  • Ciprofloxacino: 500 mg via oral a cada 12 horas por 3-5 dias. Para crianças, 20 mg/kg a cada 12 horas.
  • Nitrofurantoína: 100 mg via oral a cada 6 horas por 7 dias.
  • Fosfomicina: 3 g via oral em dose única.
  • Sulfametoxazol + Trimetoprim: comprimido de 800/160 mg via oral a cada 12 horas por 5-7 dias. Para crianças, 6 mg/kg/dia de trimetoprim em doses fracionadas a cada 12 horas
  • Cefalexina: 250 mg via oral a cada 6 horas por 14 dias.
  • Amoxicilina + Clavulanato: 500 mg + 125 mg via oral a cada 8 horas por 14 dias, ou 875 mg + 125 mg via oral a cada 12 horas por 14 dias.
  • Norfloxacino: 400 mg via oral a cada 12 horas por 3-5 dias.
  • Levofloxacino: 250 mg via oral 1 vez ao dia por 3 dias.

 

Em casos graves, algumas opções adicionais.

  • Azitromicina: 500 mg via oral no primeiro dia, seguido de 250 mg via oral uma vez ao dia, por 5-7 dias. Para crianças, 10 mg/kg/dia uma vez ao dia no primeiro dia, seguido de 5 mg/kg/dia uma vez ao dia por mais 6-7 dias.
  • Doxiciclina: 100 mg via oral, a cada 12 horas, por 5-7 dias. Para crianças, 2,5 mg/kg a cada 12 horas.
  • Cefuroxima: 750 mg via endovenosa a cada 8 horas até melhora.
  • Ceftriaxona: 2 g via endovenosa uma vez ao dia por 3-5 dias. Para crianças, 50 mg/kg/dia.
  • Ceftriaxona + Doxiciclina: 1 g via endovenosa uma vez ao dia + 100 mg via oral, duas vezes ao dia, até a melhora clínica. Sugere-se pelo menos 14 dias.

Escherichia coli: como tratar as diferentes condições clínicas?

E lembre-se: na prática médica geral, deve-se evitar uso de antibióticos de forma desnecessária, assim como limitar o tempo do uso sempre que possível.

O ponto mais importante do tratamento é através da prevenção. Medidas de saneamento básico, assim como a higiene no preparo de alimentos e ingestão de água filtrada/fervida são fundamentais. Ainda, é essencial realizar monitoramento regular em pacientes diabéticos.

 

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Referências:

Zhou, Y., Zhou, Z., Zheng, L., Gong, Z., Li, Y., Jin, Y., Huang, Y., & Chi, M. (2023). Urinary Tract Infections Caused by Uropathogenic Escherichia coli: Mechanisms of Infection and Treatment Options. International journal of molecular sciences, 24(13), 10537. https://doi.org/10.3390/ijms241310537

Kaper, J. B., Nataro, J. P., & Mobley, H. L. (2004). Pathogenic Escherichia coli. Nature reviews. Microbiology, 2(2), 123–140. https://doi.org/10.1038/nrmicro818

 

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