A escala de Fisher é um índice desenvolvido para a identificação e estratificação do risco de desenvolvimento de vasoespasmo cerebral em pacientes com hemorragia subaracnoidea aneurismática.
Na prática, você sabe como utilizá-la?
Escala de Fisher – o que é e quando utilizar
A escala de Fisher foi desenvolvida a partir de um estudo com 47 casos de aneurisma cerebral, no qual investigou-se a relação entre a quantidade e distribuição de sangue subaracnoide detectado por tomografia computadorizada e o futuro desenvolvimento de vasoespasmo cerebral. Na ocasião, observou-se que todos os pacientes com vasoespasmo grave manifestaram sintomas e sinais tardios.
O trabalho foi desenvolvido pelo médico Charles Miller Fisher. Sua linha de pesquisa foi voltada para a neurologia de acidente vascular cerebral. Dr. Charles foi um dos fundadores do Massachusetts General Hospital Stroke Service, além de estar no Canadian Medical Hall of Fame. Dr. Fisher foi professor e clínico da Escola de Medicina de Harvard por 50 anos.
Como mencionamos, a Escala de Fisher tem como principal objetivo predizer o risco de desenvolvimento de vasoespasmo cerebral, e deve ser usada em pacientes com hemorragia subaracnoidea aneurismática (HSA).
A utilização desta escala prediz o risco do desenvolvimento de vasoespasmo cerebral, permitindo que o tratamento preventivo seja iniciado – situação que acomete pelo menos 50% dos pacientes com HSA.
Como utilizar e interpretar?
A Escala de Fisher é composta por 1 critério radiológico, onde deve-se enquadrar o paciente no que melhor corresponder ao achado no exame (TC de crânio). Veja as opções que devem ser levadas em consideração durante a avaliação de um paciente.
Quais os sinais e sintomas?
– Sem hemorragia subaracnoide detectada: Fisher I
– Camada difusa ou vertical de sangue com espessura < 1 mm: Fisher II
– Coágulos localizados e/ou camada de sangue em espessura > 1 mm: Fisher III
– Hemorragia intracerebral ou hemorragia intraventricular, com ou sem sangramento subaracnoideo difuso: Fisher IV
Após o enquadramento do paciente, verificamos a classificação. O risco estimado pode ser avaliado em uma estratificação de 4 categorias. Assim, temos:
Fisher I – Risco baixo de vasoespasmo 0-21%
Fisher II – Risco baixo de vasoespasmo 0-25%
Fisher III – Risco baixo a alto de vasoespasmo 23-96%
Fisher IV – Risco baixo a moderado de vasoespasmo 0-35%
É importante ressaltar que a escala de Fisher é uma escala tomográfica, sendo necessário um médico treinado para a classificação do paciente.
Atenção! Saiba das limitações e armadilhas.
A Escala de Fisher só pode ser utilizada em pacientes com HSA. Logo, não pode ser usada em casos de trauma, malformações arteriovenosas, angiomas cavernosos, fístulas arteriovenosas durais, tromboses venosas corticais ou sinusais, aneurismas micóticos ou êmbolos sépticos com transformação hemorrágica.
Existe a Escala de Fisher Modificada, que leva em consideração outros aspectos.
Ainda, é importante ressaltar que a escala não deve ser usada como único fator para tomada de decisão sobre tratamento preventivo.
Após a estratificação, o que fazer?
Quando maior a escala de Fisher, pior o prognóstico e evolução.
A realização de angiotomografia computadorizada da cabeça é útil para determinar se há uma lesão que exija intervenção cirúrgica ou endovascular.
Lembre-se:
A hemorragia subaracnoidea aneurismática é uma emergência neurológica que requer estabilização imediata do paciente e diagnóstico e tratamento imediatos, visando prevenir lesões secundárias, reduzir o tempo de internação e melhorar os resultados dos sobreviventes da doença.
O vasoespasmo cerebral continua a ser responsável por alta morbidade e mortalidade em pacientes que sobrevivem à HSA inicial. Estratégias proativas e preventivas, como a prescrição de nimodipino como neuroprotetor e terapias de resgate endovascular, podem reduzir a morbidade e a mortalidade associadas.
Ainda, diante de uma HSA, se o paciente faz uso de AAS ou clopidogrel, é necessário suspender. Caso faça o uso de heparina ou cumarínico, deve-se reverter com sulfato de protamina e vitamina k + plasma fresco, respectivamente.
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Referências:
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