

Em janeiro deste ano, foi publicada uma nova classificação de obesidade, baseando-se em outros parâmetros além do índice de massa corpórea (IMC). Ao avaliar outras medidas como circunferência abdominal, relação cintura/quadril e relação cintura/altura, é possível determinar um quadro de “excesso de adiposidade”, mesmo em pacientes com IMC < 30 kg/m².
O IMC deixa de ser o parâmetro principal na avaliação da Obesidade
A obesidade é uma doença crônica que afeta mais de 800 milhões de pessoas no mundo e é associada com diversas outras comorbidades, o que aumenta sua morbimortalidade.
Até o momento, essa doença é basicamente diagnosticada através do índice de massa corpórea (IMC) > 30 kg/m². Porém, tal forma de diagnóstico, apesar de prática, é limitada, já que não leva em consideração outros parâmetros indicativos de excesso de gordura corporal.
Em janeiro de 2025 foi publicada na renomada revista científica The Lancet uma nova classificação de obesidade, proposta por um grupo de especialistas na área, baseando-se em outros parâmetros além do IMC.
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Nova classificação de Obesidade
A nova definição traz a obesidade como uma “condição caracterizada pelo excesso de adiposidade, com ou sem distribuição anormal do tecido adiposo, com causas multifatoriais e ainda não completamente compreendida”.
A proposta leva em consideração outras medidas antropométricas, como circunferência abdominal (CA), relação cintura/quadril (RCQ) e relação cintura/altura (RCA) podendo diagnosticar um quadro de obesidade, mesmo naqueles pacientes com IMC abaixo de 30 kg/m².
Veja os pontos de corte:
- Circunferência abdominal (CA): homens > 102 cm; mulheres > 88 cm.
- Relação cintura/quadril (RCQ): homens > 0,9; mulheres > 0,85.
- Relação cintura/altura (RCA): homens e mulheres > 0,5.
O IMC deixaria de ser o parâmetro principal, mas continuaria sendo utilizado como triagem.
- IMC < 30 kg/m², porém com uma dessas medidas alteradas = excesso de adiposidade.
- IMC < 25 kg/m², porém com duas dessas medidas alteradas = excesso de adiposidade.
Além disso, uma forma complementar de definir o excesso de adiposidade seria através de uma medida direta da gordura corporal, através da densitometria de corpo inteiro (DEXA) ou de outra ferramenta, como a bioimpedância. Porém, o ponto de corte desses métodos ainda é controverso.
Obesidade pré-clínica x Obesidade clínica
Pacientes com excesso de adiposidade devem ser categorizados em obesidade pré-clínica ou clínica. O documento traz essa classificação a fim de identificar aqueles indivíduos que já tiveram algum impacto relacionado ao excesso de adiposidade.
Obesidade pré-clínica: “estado de excesso de adiposidade com função preservada de órgãos e tecidos, com risco variável de desenvolvimento de obesidade clínica e outras condições como diabetes tipo 2 (DM2), doenças cardiovasculares, doenças psiquiátricas e outros tipos de câncer”.
Obesidade clínica: “doença crônica e sistêmica, caracterizada por alterações funcionais em órgãos e tecidos ou no indivíduo como um todo em decorrência do excesso de adiposidade, podendo culminar em lesões graves de órgão alvo, tais como infarto agudo do miocárdio, AVC e insuficiência renal”.
Para essa diferenciação, deve-se avaliar os seguintes critérios:
– Evidência de função reduzida de órgãos e tecidos (sinais, sintomas ou testes diagnósticos mostrando anormalidades na função de tecidos ou órgãos); ou
– Limitações em atividades básicas diárias (banho, higiene, vestimenta, alimentação etc.)
Se 1 ou 2 presentes, o paciente é considerado com obesidade clínica e deve receber tratamento apropriado e baseado em evidências com objetivo de melhora, ou até mesmo remissão.
Se o paciente possui obesidade pré-clínica deve receber aconselhamento e estratégias de monitoramento a fim de evitar a progressão da doença.
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Referências:
Rubino, F., Cummings, D. E., Eckel, R. H., Cohen, R. V., Wilding, J. P. H., Brown, W. A., Stanford, F. C., Batterham, R. L., Farooqi, I. S., Farpour-Lambert, N. J., le Roux, C. W., Sattar, N., Baur, L. A., Morrison, K. M., Misra, A., Kadowaki, T., Tham, K. W., Sumithran, P., Garvey, W. T., Kirwan, J. P., … Mingrone, G. (2025). Definition and diagnostic criteria of clinical obesity. The lancet. Diabetes & endocrinology, 13(3), 221–262. https://doi.org/10.1016/S2213-8587(24)00316-4