As doenças priônicas são um grupo de desordens neurodegenerativas fatais que afetam humanos e vários animais. Elas são causadas por príons, que são partículas infecciosas / patogênicas proteicas.
Atualmente, não há tratamentos que alterem significativamente o curso das doenças priônicas, e o diagnóstico precoce é crucial para o planejamento do cuidado ao paciente, controle de infecções e aconselhamento genético.
O que são e como funcionam as Doenças Priônicas?
As doenças priônicas são um grupo de patologias neurodegenerativas raras e fatais causadas pela acumulação de proteínas priônicas (PrP^Sc^), que são isoformas anômalas e patológicas da proteína priônica celular (PrP^C^). Essas doenças são classificadas como encefalopatias espongiformes transmissíveis (EETs) devido às características histopatológicas observadas no tecido cerebral.
Vamos entender:
As proteínas priônicas (PrP^C^) são normalmente expressa na superfície de neurônios e outras células. Em caso de doenças priônicas, essas proteínas sofrem alterações conformacionais, para a sua forma patológica (PrP^Sc^).
Essa forma alterada é altamente resistente à degradação proteolítica, apresenta alta tendência de formar agregados insolúveis, além de induzir a conversão de proteínas normais em mais príons, propagando assim a doença.
Os agregados de PrP^Sc^ interferem nas funções celulares, resultando em morte neuronal, gliose reativa e vacuolização do tecido cerebral, o que confere o aspecto espongiforme característico.
Principais formas clínicas
As doenças priônicas podem ser classificadas em três categorias principais, baseadas na etiologia: esporádicas, genéticas e adquiridas.
As formas esporádicas, como a Doença de Creutzfeldt-Jakob (CJD), ocorrem sem causa aparente, e são a maioria – 85-90% dos casos. As formas genéticas estão associadas a mutações no gene PRNP, que codifica a proteína príon, e correspondem a cerca de 10-15% dos casos.
Por fim, as formas adquiridas são as menos comuns (< 1%), e podem ocorrer através de exposição iatrogênica ou consumo de alimentos contaminados, como no caso da variante CJD associada à encefalopatia espongiforme bovina (popularmente conhecida como “doença da vaca louca”).
Como diagnosticar um paciente com doença priônica?
Os sintomas variam de acordo com a doença específica, mas em geral incluem início insidioso, com rápida deterioração e declínio cognitivo progressivo. O paciente apresenta alterações motoras, como mioclonias, ataxia e rigidez. Em alguns casos, podem ser vistas alterações psiquiátricas, como ansiedade, depressão e alucinações.
O diagnóstico das doenças priônicas é desafiador e frequentemente requer o uso de ferramentas diagnósticas avançadas, como ressonância magnética e ensaios de conversão induzida por tremor em tempo real (RT-QuIC). O exame neuropatológico do tecido cerebral é necessário para um diagnóstico definitivo.
Doença priônica tem cura?
Atualmente, não há tratamentos que alterem significativamente o curso das doenças priônicas. O manejo é exclusivamente paliativo, visando alívio de sintomas e suporte ao paciente e à família.
Infelizmente, o prognóstico é ruim, com sobrevida média de meses a poucos anos, dependendo da forma da doença. O diagnóstico precoce é crucial para o planejamento do cuidado ao paciente, controle de infecções e aconselhamento genético.
Estudo clínico ION717: uma esperança para os pacientes
As doenças priônicas representam um desafio significativo à medicina, dado o seu mecanismo único de transmissão e resistência às terapias convencionais. Com isso em mente, um grupo de pesquisadores está desenvolvendo um ensaio clínico para avaliar composto potencial contra doenças priônicas.
O estudo de fase 1/2a ION-717 avalia segurança, tolerabilidade, farmacocinética e farmacodinâmica da administração intratecal do ION717 em pacientes com doença priônica.
O composto é um oligonucleotídeo antissenso, desenvolvido pela empresa Ionis Pharmaceuticals, projetado para inibir a produção da proteína alterada. Atualmente, existem 16 centros de ensaio clínico para o ION-717 ao redor do mundo.
Veja mais sobre o estudo em à NCT06153966.
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Referências:
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