A miocardite é uma condição na qual há um processo inflamatório no músculo cardíaco. Ocorre em cerca de 10-20:100.000 pessoas por ano e, em adultos jovens, é responsável por cerca de 10% dos casos de morte súbita.
Revise aqui como identificar um paciente e realizar o diagnóstico de miocardite.
Como identificar um paciente com Miocardite?
Vamos lembrar: a miocardite é a inflamação do miocárdio, que é a camada intermediária da parede cardíaca, responsável pela contração e relaxamento do coração – que faz com que o sangue seja bombeado pelo corpo.
Esse processo inflamatório cursa com o comprometimento das fibras cardíacas, reduzindo o seu poder de contratilidade. Cronologicamente, isso ocorre em 2 tempos: fase aguda, nas primeiras duas semanas, ou fase crônica.
A fase aguda é consequência direta do agente causador – o que causa citotoxidade celular com liberação de citocinas – o que contribui com dano e disfunção miocárdica. Já a fase crônica tem natureza autoimune, sendo associada com expressão anormal do HLA (antígeno leucocitário humano). No caso das etiologias virais há persistência do genoma viral no miocárdio. Esse processo crônico pode levar à fibrose (tecido cicatricial) com comprometimento permanente da contratilidade cardíaca.
E como identificamos os pacientes?
De forma geral, os pacientes com miocardite são assintomáticos do ponto cardíaco, uma vez que os achados podem ser mascarados pelo quadro constitucional etiológico basal.
Na presença de sintomatologia cardíaca, esses são decorrentes principalmente da disfunção ventricular esquerda e arritmias, o que inclui: fadiga, intolerância à exercícios, dor torácica, palpitações e síncope.
Casos agudos apresentam comprometimento com início insidioso – com disfunção ventricular e provável evolução para cardiomiopatia dilatada. Ao exame físico pode se observar à ausculta a presença de B3 e B4, refletindo respectivamente sobrecarga de volume de pressão ventricular.
Como fechar o diagnóstico de Miocardite?
A apresentação clínica da miocardite pode ser altamente variável. A condição deverá ser suspeitada em todos os pacientes com achados de comprometimento cardíaco inexplicado – quer refletido clinicamente ou não.
O exame padrão ouro para o diagnóstico da miocardite é a “Biópsia Miocárdica“. No entanto, não é recomendada rotineiramente – uma vez que é um exame bem invasivo. Então, quando pedir?
De forma geral, recomenda-se a biópsia quando se acredita que os resultados dos achados irão de alguma forma afetar o tratamento proposto. Isso pode ser principalmente nos seguintes casos:
- Ausência de resposta ao tratamento proposto.
- Insuficiência Cardíaca com cardiomiopatia dilatada associada a uma suspeita de eosinofilia e/ou reação alérgica (erupção cutânea, febre, eosinofilia periférica).
- Insuficiência Cardíaca de rápida instalação (< 2 semanas) concomitante à instabilidade hemodinâmica.
- Desenvolvimento de arritmias hemodinamicamente significativas.
- História de doença do colágeno como Lúpus, Esclerodermia ou Poliarterite Nodosa.
- Suspeita de miocardite de células gigantes (jovem com arritmia progressiva ou insuficiência cardíaca aguda).
Histologicamente a miocardite ativa é definida através do “Critério de Dallas”: presença de infiltrado inflamatório localizado ou generalizado com dano ao miócito adjacente, não relacionada a dano isquêmico de doença arterial coronariana.
Os infiltrados são usualmente mononuclerares, porém poder ser compostos por neutrófilos ou eosinóficos. Outro termo utilizado é de “Miocardite borderline“: que constitui a presença de um infiltrado inflamatório do miocárdio, porém sem necrose ou degeneração de miócitos adjacentes.
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Referências:
Montera, Marcelo Westerlund et al. “Brazilian Society of Cardiology Guideline on Myocarditis – 2022.” “Diretriz de Miocardites da Sociedade Brasileira de Cardiologia – 2022.” Arquivos brasileiros de cardiologia vol. 119,1 (2022): 143-211. doi:10.36660/abc.20220412
Copper, LT. – Clinical manifestations and diagnosis of myocarditis in adults. In: UpToDate, Post TW (Ed), UpToDate, Waltham, MA.
Lampejo, T., Durkin, S. M., Bhatt, N., & Guttmann, O. (2021). Acute myocarditis: aetiology, diagnosis and management. Clinical medicine (London, England), 21(5), e505–e510. https://doi.org/10.7861/clinmed.2021-0121