

Neste ano, durante o Congresso Mundial da Federação Internacional de Diabetes (IDF), uma antiga realidade ganhou finalmente um nome: Diabetes Tipo 5 (DM5). Conhecido também como diabetes relacionado à desnutrição, esse novo subtipo descreve uma condição que atinge milhões de pessoas — em especial jovens adultos e adolescentes magros e malnutridos, vivendo em países de baixa e média renda.
A oficialização dessa categoria é mais do que simbólica: é um passo necessário para transformar a abordagem clínica e epidemiológica desta doença.
Como surgiu a classificação de Diabetes tipo 5?
A história do Diabetes Tipo 5 é antiga. Há mais de 70 anos, médicos já observavam que pacientes jovens e desnutridos desenvolviam um tipo diferente de diabetes. Em 1985, a Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a reconhecer a condição, mas retirou o status oficial em 1999, devido à falta de estudos contínuos.
Tudo mudou quando a Dra. Meredith Hawkins, do Albert Einstein College of Medicine, mergulhou neste tema. Após anos ouvindo relatos clínicos vindos de países como Índia e Etiópia, ela decidiu investigar mais a fundo. “O que me chamou atenção foi que esses jovens não respondiam bem à insulina. Na verdade, muitos pioravam com o tratamento convencional”, relatou a pesquisadora.
Com base em novos achados, Hawkins liderou o movimento que culminou no reconhecimento oficial do DM5 pela IDF em 2025.


Quem são os pacientes com Diabetes tipo 5?
O perfil típico desses pacientes foge do que estamos acostumados a associar ao diabetes. São geralmente:
- Jovens adultos ou adolescentes;
- Com baixo IMC;
- Apresentando hiperglicemia persistente;
- E, muitas vezes, vivendo em condições de extrema vulnerabilidade.
O grande desafio é que eles não se encaixam nas categorias clássicas de Diabetes Tipo 1 ou Tipo 2. A insulina, pilar do tratamento do Tipo 1, em alguns casos gera mais danos do que benefícios.
Entendendo a fisiopatologia da Diabetes tipo 5
Em 2022, um estudo coordenado pela Dra. Hawkins evidenciou e comparou os principais achados do novo tipo de Diabetes com a população indiana com DM1 e DM2.
Para isso, ela e seus colegas utilizaram alguns testes sofisticados:
- Clamp hiperinsulinêmico-euglicêmico para medir sensibilidade à insulina (hepática e periférica);
- Mixed-Meal Tolerance Test (MMTT) para avaliar capacidade de secreção de insulina;
- Ressonância magnética para medir gordura hepática e visceral;
- Correção prévia de hiperglicemia para eliminar o efeito da glicotoxicidade nos testes.
Durante muito tempo, acreditava-se que o diabetes relacionado à desnutrição era mais uma variante do Diabetes Tipo 2, baseado na resistência à insulina.
Essa ideia caiu por terra com os estudos recentes. Hoje sabemos que o problema central é outro: uma secreção de insulina gravemente comprometida.
Nas palavras da Dra. Hawkins:
“Descobrimos que a deficiência na capacidade de secretar insulina era profunda — algo que não havia sido reconhecido antes. Essa descoberta muda tudo: do diagnóstico ao tratamento.”
Essa distinção é crucial para entender por que terapias tradicionais muitas vezes falham.
Quando suspeitar de um paciente com DM5?
Atualmente, o diagnóstico do Tipo 5 é baseado mais em contexto clínico do que em exames específicos.
O médico deve suspeitar diante de:
- Pacientes jovens e magros;
- Com histórico de pobreza e insegurança alimentar;
- Que apresentam hiperglicemia refratária ao manejo padrão;
- E que evoluem mal com a insulinoterapia convencional.
E o tratamento?
Não há, até o momento, um protocolo terapêutico formal para o Diabetes Tipo 5. A IDF criou um grupo de trabalho específico para desenvolver guidelines nos próximos dois anos, sob a liderança da Dra. Hawkins.
Enquanto isso, a abordagem prática tende a incluir:
- Cuidado rigoroso com a insulinoterapia, evitando hipoglicemias;
- Suporte nutricional intensivo;
- Correção de deficiências micronutricionais;
- Tratamento de comorbidades associadas.
A criação de terapias que estimulem a secreção residual de insulina ou que atuem em vias alternativas pode revolucionar o manejo dessa condição no futuro.
Caminhos para o futuro
O reconhecimento do Diabetes Tipo 5 pela IDF é apenas o começo. Como destacou a Dra. Hawkins:
“O Diabetes relacionado à desnutrição é mais comum do que a tuberculose e quase tão prevalente quanto o HIV/AIDS, mas faltava-lhe um nome e um plano de ação. Agora temos a chance de mudar essa história.”
Espera-se que nos próximos anos vejamos:
- Expansão de pesquisas clínicas;
- Políticas públicas específicas para diagnóstico e tratamento;
- Educação médica voltada à identificação precoce desses casos.
Reconhecer o problema é o primeiro passo para transformá-lo.
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Referências:
MEDICAL XPRESS. Research leads to designation of new type of diabetes: Type 5. Medical Xpress, 22 abr. 2025. Disponível em: https://medicalxpress.com/news/2025-04-diabetes.html.
LONTCHI-YIMAGOU, Eric; DASGUPTA, Riddhi; ANOOP, Shajith; KEHLENBRINK, Sylvia; KOPPAKA, Sudha; GOYAL, Akankasha et al. An atypical form of diabetes among individuals with low BMI. Diabetes Care, v. 45, n. 6, p. 1428–1437, 2022. DOI: 10.2337/dc21-1957. Disponível em: https://doi.org/10.2337/dc21-1957.
Eric Lontchi-Yimagou, Riddhi Dasgupta, Shajith Anoop, Sylvia Kehlenbrink, Sudha Koppaka, Akankasha Goyal, Padmanaban Venkatesan, Roshan Livingstone, Kenny Ye, Aaron Chapla, Michelle Carey, Arun Jose, Grace Rebekah, Anneka Wickramanayake, Mini Joseph, Priyanka Mathias, Anjali Manavalan, Mathews Edatharayil Kurian, Mercy Inbakumari, Flory Christina, Daniel Stein, Nihal Thomas, Meredith Hawkins; An Atypical Form of Diabetes Among Individuals With Low BMI. Diabetes Care 2 June 2022; 45 (6): 1428–1437. https://doi.org/10.2337/dc21-1957