

O Dia Mundial do Câncer de Ovário, celebrado anualmente em 8 de maio, é uma iniciativa global voltada à promoção da conscientização sobre essa neoplasia ginecológica.
A data mobiliza instituições nacionais e internacionais para destacar a relevância do diagnóstico precoce, do reconhecimento dos sinais e sintomas iniciais e das estratégias de rastreamento adequadas.
Dia Mundial do Câncer de Ovário: uma reflexão sobre a heterogeneidade tumoral e as perspectivas clínicas
O câncer de ovário é uma neoplasia maligna de alta letalidade, sendo a principal causa de morte por câncer ginecológico. A maioria dos casos de câncer de ovário são do tipo epitelial, que representa cerca de 90% dos casos.
Este tipo de câncer é frequentemente diagnosticado em estágios avançados devido à ausência de ferramentas eficazes de rastreamento, o que contribui para um prognóstico geralmente desfavorável.
Os fatores de risco mais significativos incluem histórico familiar de câncer de mama ou ovário, com mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 sendo responsáveis por uma proporção significativa dos casos hereditários.
Além disso, o câncer de ovário é uma doença heterogênea, com várias subtipos histológicos, cada um com características genéticas distintas, o que influencia a abordagem terapêutica.
Pacientes com Câncer de Ovário são frequentemente assintomáticas nos estágios iniciais
Uma vez que o câncer ovariano evolui de maneira insidiosa, no momento do diagnóstico a doença habitualmente já está avançada.
Alguns achados clínicos incluem: aumento de volume abdominal, com distensão e dor, flatulência, eructações, azia, emagrecimento, inapetência, fraqueza e presença de massa pélvica sólida. Quadro de ascite acaba se instalando mais tardiamente, quando a paciente já apresenta um quadro avançado, o que se reflete com a associação com caquexia.
Importante ressaltar que eventualmente as primeiras manifestações das doenças podem ser distúrbios paraneoplásicos, como tromboflebites arterial ou venosa, hipercalcemia e degeneração cerebelar.
De toda forma, na suspeita diagnóstica, um exame físico completo deve ser realizado – o que inclui toque vaginal bimanual, toque retal (avaliação de aderências, nodulações etc.) e avaliação de linfonodomegalias.
Após essas suspeita inicial, o primeiro exame que deverá ser solicitado é a ultrassonografia pélvica.
Ultrassonografia pélvica e Dopplerfluxometria no diagnóstico do câncer de ovário
A ultrassonografia pélvica é permite a avaliação de aspectos morfológicos de massas anexiais.
O achado de lesões com superfície irregular, com projeções papilares internas ou externas, septos, componentes sólidos e paredes espessas, massas > 8 cm, são sugestivos de malignidade. As lesões císticas simples ou com septos de paredes finas, apesar de baixo risco, ainda assim podem ser malignas.
Além disso, a Dopplerfluxometria deve ser associada quando possível.
No estudo da vascularização ovariana por doppler-fluxometria transvaginal, as lesões malignas se apresentam neovascularizadas, com padrões bizarros e muitas anastomoses arterio-venosas, causando diminuição da resistência do fluxo sanguíneo e diminuição do índice de pulsatilidade. Assim, se: índice de resistência < 0,4 e/ou índice de pulsatilidade < 0,1, o significado é provavelmente maligno.
Marcadores tumorais e o papel do CA 125
Outros exames podem ser solicitados para auxiliar na abordagem/complementação diagnóstica inicial, o que inclui marcadores tumorais, conforme a suspeita histológica inicial.
O CA-125 é o principal marcador sérico de câncer de ovário da linhagem epitelial (em geral seroso), e apresenta boa especificidade quando associado a uma imagem ultrassonográfica compatível. O valor de referência é de 35 u/mL. Valores superiores podem estar associados a tumores epidermoides de ovário do tipo seroso.
Outros marcadores importantes incluem:
- CEA: relaciona-se à tumores epiteliais mucinosos. Valores aumentados são acima de 3,8 ng/mL para não fumantes e acima de 5,5 ng/mL para fumantes.
- Ca 19-9: boa sensilidade para tumores epiteliais mucinosos. Positividade para valores acima de 40 U/mL.
- Beta-HCG: é o mesmo exame solicitado para gravidez. Esse hormônio é produzido para as neoplasias de ovário do tipo coriocarcinoma e carcinoma embrionário.
- Alfafetoproteína: níveis elevados desse marcador estão relacionados à tumor do seio endodérmico e carcinoma embrionário.
- Estradiol: marcador relacionado à tumores da células da granulosa.
- Progesterona: relacionado à Tecoma.
- Testosterona: relacionado à Tumores de Sertoli-Leydig.
- LDH: relacionado à Tumor do Seio Endodérmico e Disgerminoma.
A confirmação é realizada por biópsia
A partir da suspeita da condição, associando clínica + exames de imagem + avaliação laboratorial, a confirmação é feita a partir de um estudo histológico pela biópsia da peça em procedimento cirúrgico.
Em menos de 20% dos casos – em doenças avançadas – o diagnóstico ainda pode ser feito a partir de tecido/fluído obtido em biópsia guiada através de imagem, toracocentese ou paracentese.
A melhor opção terapêutica vai depender do estadiamento
O tratamento padrão para o câncer de ovário geralmente envolve cirurgia citorredutora seguida de quimioterapia à base de platina – exceto nos estágios IA e IB – graus g1/g2. No entanto, a resistência à quimioterapia e a alta taxa de recorrência são desafios significativos no manejo da doença.
Avanços recentes na compreensão do perfil genético e molecular do câncer de ovário têm levado ao desenvolvimento de terapias direcionadas, como inibidores de PARP, que oferecem potencial para melhorar a sobrevida dos pacientes.
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Neste 8 de maio, Dia Mundial do Câncer de Ovário, reforça-se a importância do engajamento da comunidade médica na detecção precoce, estratificação de risco e avanço das terapias personalizadas para melhorar o prognóstico das pacientes.
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Referências:
Momenimovahed, Z., et al. (2025). The Role of CA-125 in the Management of Ovarian Cancer: A Systematic Review. Cancer reports (Hoboken, N.J.), 8(3), e70142. https://doi.org/10.1002/cnr2.70142
Arnaoutoglou, C., et al (2023). Epithelial Ovarian Cancer: A Five Year Review. Medicina (Kaunas, Lithuania), 59(7), 1183. https://doi.org/10.3390/medicina59071183
Survival Rates for Ovarian Cancer, by Stage – American Cancer Society – Https://www.cancer.org/cancer/ovarian-cancer/detection-diagnosis-staging/survival-rates.html
BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Biblioteca Virtual em Saúde. 08/5 – Dia Mundial do Câncer de Ovário.