A apresentação da poliomielite é altamente variável, desde sintomas virais sem paralisia até tetraplegia e insuficiência respiratória. Antes das iniciativas globais de saúde, quase 1 em 200 pacientes com poliomielite desenvolvia paralisia permanente. Só em 1988, houve 350.000 casos de poliomielite endêmica espalhados por 125 países.
A administração de vacinas infantis de rotina tem sido bem-sucedida contra a disseminação da doença em escala global. Desde então, metas foram estabelecidas para a erradicação completa da poliomielite do tipo selvagem (causada pelos sorotipos 1, 2 e 3 do poliovírus).
Atualmente, o tipo 1 é o único tipo selvagem ainda em circulação e é endêmico apenas no Paquistão e no Afeganistão. Os tipos selvagens 2 e 3 são considerados erradicados desde 2015.
Poliomielite
A poliomielite (pólio) é uma doença viral contagiosa, que pode variar em gravidade, desde doença autolimitada até meningite. A maioria das infecções é assintomática, e 5-10 a cada 100 pessoas terão sintomas semelhantes a gripe sazonal. Porém, a poliomielite tem o potencial de causar danos graves aos neurônios motores, podendo ocasionar paralisia permanente em membros. Em sua forma mais grave, pode levar o paciente à óbito se a função respiratória for afetada.
Em infecções que progridem para a forma paralítica, a poliomielite pode se manifestar em estágios: estágio agudo, estágio de recuperação e estágio de paralisia residual.
O estágio agudo é composto principalmente de características, como febre, rigidez do pescoço, fraqueza muscular profunda, paraparesia e disfunção autonômica. Nesse estágio, o tratamento envolve medidas gerais de suporte para febre e irritação, prevenção de infecções do trato respiratório e controle de qualquer paralisia respiratória.
No estágio de recuperação, as características agudas desaparecem e a recuperação dos músculos paralisados começa. Essa etapa pode durar até dois anos.
No último estágio, o paciente fica com paralisia residual, desequilíbrio da força muscular e má postura. Intervenções cirúrgicas podem ser levadas em consideração para restabelecer o equilíbrio nos músculos ao redor da articulação e prevenir deformidades. O manejo cirúrgico visa fazer o paciente andar e corrigir os fatores que levarão à deformidade com a idade.
Os cuidados de suporte são a base do tratamento, uma vez que não existem medicamentos antivirais aprovados para a poliomielite. Em pacientes afetados pela poliomielite paralítica, a maioria não recupera a força total. Quanto mais grave for a doença aguda, maior será a probabilidade de déficits residuais.
Vacinas contra Poliomielite
O sucesso no controle da pólio teve início com estudos in vitro e o advento de duas vacinas: a vacina oral de pólio (OPV, do inglês oral polio vaccine) ou Sabin, e a vacina de vírus inativado (IPV, do inglês inactivated polio vaccine).
Com o melhor entendimento da patogenicidade do vírus, foi possível obter o devido licenciamento para o desenvolvimento de vacinas seguras, sendo que as OPV cobriam os tipos 3, 4 e 5 do vírus, e as do tipo IPV cobriam os tipos 1, 2 e 3.
Com o controle rígido de vacinação, implementação de vacinações em massa, incluindo crianças abaixo dos 5 anos e criação de dias nacionais de vacinação, houve uma redução quase total no número de novos casos.
Devido aos bons resultados com a utilização da OPV no controle da doença, esta foi a vacina utilizada como estratégia de imunização para a erradicação da pólio nas américas. Em 1994, foi declarada como erradicada a circulação do tipo selvagem do vírus da pólio nas américas.
Em um cenário de erradicação global do vírus selvagem, concedido em 2015, a formulação da OPV foi alterada, para conter apenas os tipos 1 e 3. O vírus do tipo 3, teve sua erradicação certificada no ano de 2019. Sendo assim a nova formulação da OPV fora alterada novamente, contendo apenas o vírus do tipo 1.
A OPV monovalente, contendo o vírus do tipo 1, é utilizada principalmente em áreas reservatórios para este tipo, como Afeganistão e Paquistão.
Poliomielite paralítica associada à vacina
Existem casos de poliomielite paralítica devido à perda de atenuação viral na vacina oral da poliomielite, conhecida como poliovírus paralítico associado à vacina (VAPP, do inglês vaccine-associated paralytic poliovirus). A VAPP é extremamente rara, ocorrendo aproximadamente 3,8 vezes por milhão de casos em países que usam a OPV. Está associada ao sorotipo 3 e à imunodeficiência do paciente.
Conclusão
Assegurar e manter a erradicação de doenças faz parte de políticas públicas e sanitárias. São necessários esforços globais para promover campanhas de vacinação de rotina e rodadas de vacinação em grande escala, que podem fornecer proteção direta aos indivíduos e minimizar a circulação do vírus.
Embora o sistema de vacinação contra a poliomielite seja eficaz, é importante reconhecer que a doença ainda não está completamente erradicada, e regiões como o Paquistão e o Afeganistão continuam endêmicas.
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Referências:
INTERNATIONAL. WHO. (org.). Poliomielite. 2021.
WOLBERT, J.G., HIGGINBOTHAM, K. Poliomyelitis. 2021.