Desreguladores endócrinos podem ser encontrados nos absorventes menstruais

desreguladores endócrinos nos absorventes menstruais

Uma revisão sistémica recente, publicada na revista internacional BJOG: An International Journal of Obstetrics & Gynaecology, aponta que os produtos para higiene menstrual, especialmente absorventes, podem ser uma fonte de exposição química para pessoas que menstruam. O potencial destes compostos como desreguladores endócrinos destaca a necessidade de entender melhor a natureza dessas exposições.

O uso de produtos para menstruação ocorre por muitos anos na vida da pessoa que menstrua

Sabemos que a administração de medicamentos vaginais leva a concentrações uterinas mais altas em comparação com a circulação sistêmica. O tecido vaginal e vulvar é altamente vascularizado e permeável, e os produtos químicos são absorvidos por essa via.

Esta via de exposição pode ser particularmente relevante para condições ginecológicas como endometriose, fibromas uterinos e adenomiose.

Mas e quanto ao uso de produtos para menstruação? Será que os absorventes podem ser uma fonte de exposição química para pessoas que menstruam? E quanto as condições reprodutivas para as quais as disruptores endócrinos são um fator de risco?

produtos para higiene menstrual

Considerando que a menarca ocorre em média aos 12 anos e a menopausa próximo aos 50 anos, a pessoa que menstrua usará cerca de 11.000 produtos menstruais durante a vida – cerca de 1 semana por mês, todos os meses, por mais ou menos 40 anos.

Apesar de sua natureza episódica, o uso de produtos menstruais ocorre por cerca de 1.800 dias (cerca de 5 anos) de exposição, sendo que pessoas com sangramento menstrual intenso usam ainda mais produtos. O potencial de substâncias químicas disruptoras endócrinas nos produtos menstruais destaca a necessidade de entender melhor a natureza dessas exposições.

desreguladores endocrinos

 

Quais as substâncias químicas encontradas nos produtos para higiene menstrual?

Apesar do potencial para exposição crônica, pouco se sabe sobre as substâncias químicas nos produtos de higiene menstrual. Vários tipos de substâncias químicas podem ser encontrados em produtos de cuidados pessoais, devido às suas propriedades antimicrobianas, de fragrância ou antiaderentes, e podem estar presentes em produtos menstruais.

Os compostos orgânicos voláteis (COVs) são encontrados em produtos de limpeza e adesivos, por exemplo. Absorventes menstruais têm um revestimento adesivo e bordas, o que pode levar à presença potencial de COVs, sendo que vários desses compostos são carcinógenos humanos.

Além disso, as dioxinas são subprodutos de processos de fabricação que utilizam branqueamento com cloro, o qual é usado na produção de alguns produtos menstruais. Essas moléculas também são cancerígenas.

Por fim, devemos lembrar que produtos menstruais perfumados estão amplamente disponíveis. Os produtos químicos de fragrância incluem almíscares sintéticos, um grupo de produtos químicos persistentes, que podem atuar como disruptores endócrinos. Outros produtos químicos de fragrância incluem certos COVs e ftalatos.

Como a fragrância é uma área onde os consumidores podem tomar uma decisão informada, é necessário realizar mais pesquisas sobre se os produtos menstruais perfumados contêm níveis maiores de produtos químicos em comparação com produtos sem fragrância.

menstruação

Desreguladores endócrinos nos absorventes menstruais?

A demanda do consumidor por transparência nos rótulos aumentou, levando a um aumento de produtos comercializados como livres de ftalatos e parabenos; no entanto, isso tem sido mais lento para produtos menstruais.

Com o objetivo de entender melhor o que está presente nos produtos menstruais que estão tão presentes no dia a dia de metade da população, pesquisadoras dos Estados Unidos publicaram uma revisão sistemática a esse respeito, incluindo estudos que analisaram a presença e concentração de substâncias químicas em diferentes produtos menstruais, como absorventes menstruais externos, internos e protetores diários.

Foram encontrados em absorventes menstruais externos, internos e protetores diários: ftalatos, dioxinas, COVs, fragrâncias químicas, fenóis e parabenos, com diferentes níveis de exposição.

Dentre as substâncias, destaca-se a presença de ftalatos, que têm sido associados a efeitos adversos na saúde reprodutiva, e as dioxinas. As dioxinas são poluentes orgânicos persistentes, sendo cancerígenas e associadas a problemas imunológicos e à disrupção hormonal.

Embora os níveis encontrados estivessem abaixo dos limites de segurança para exposição sistêmica, não existe tal limite para produtos menstruais, e estudos com animais observaram a presença de endometriose em decorrência da exposição a essas substâncias.

absorventes

Limitações do estudo

O estudo não avaliou dados sobre exposições químicas em coletores menstruais. Copos menstruais e calcinhas absorventes refletem uma proporção crescente do mercado, e por diversas razões, as pessoas que menstruam podem recorrer a estes produtos – seja por maior consciência em relação ao meio ambiente, economia de dinheiro ou outras justificativas. Dessa forma, é imperativo entender se ocorrem exposições químicas nesses produtos, e quais seriam elas.

Um dos aspectos positivos nesta revisão é que os produtos testados foram de diferentes partes do mundo. Entretanto, isso também dificultou a comparação entre eles devido às regulamentações distintas em cada país. Além disso, nenhum estudo ainda avaliou produtos químicos em produtos menstruais comprados na América do Sul ou Central, ou na África, refletindo outra lacuna importante na literatura.

Também é importante determinar como certos grupos populacionais podem estar mais expostos a esses grupos de produtos químicos devido à preferência por produtos, características do ciclo menstrual ou doenças ginecológicas.

Por exemplo, pessoas com menorragia (sangramento menstrual intenso) usam produtos de maior absorção e provavelmente usam mais produtos por ciclo, e aquelas que experimentam sangramento prolongado ou manchas frequentes também fazem um uso maior. Esses grupos seriam potencialmente suscetíveis aos riscos dos compostos encontrados nos absorventes, ou seriam menos expostos pois trocam os produtos menstruais com mais frequência?

Por fim, considerar as diferenças na absorção de produtos químicos pelo uso interno ou uso externo de absorventes é outra lacuna da pesquisa.

Desreguladores endócrinos podem ser encontrados nos absorventes menstruais

Conclusão

Todos os estudos estudaram produtos menstruais encontraram produtos químicos na sua composição. No entanto, vale destacar que os níveis de produtos químicos variaram dentro dos produtos, sem tendências consistentes.

Existem poucos estudos a respeito do efeito de substâncias químicas em absorventes nas pessoas que menstruam, o que é essencial, visto que esses compostos podem ter implicações para doenças ginecológicas e reprodutivas.

 

Referências:

GIZ BR. GIOVANI, B. Absorventes menstruais: revisão alerta para produtos químicos que desregulam hormônios. 2023. Disponível em: https://gizmodo.uol.com.br/absorventes-menstruais-revisao-alerta-para-produtos-quimicos-que-desregulam-hormonios/.

Marroquin, J., Kiomourtzoglou, M. A., Scranton, A., & Pollack, A. Z. (2024). Chemicals in menstrual products: A systematic review. BJOG : an international journal of obstetrics and gynaecology131(5), 655–664. https://doi.org/10.1111/1471-0528.17668

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