COVID-19: estudos clínicos de fase 3 recrutando pacientes no Brasil

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Desde o início da pandemia de COVID-19, há um aumento exponencial de ensaios clínicos para o desenvolvimento de fármacos. Na base de dados Clinical Trials, há mais de 7mil estudos registrados, e muitos já foram finalizados ou interrompidos. Aqui, listamos aqui cinco estudos clínicos de fase 3 brasileiros que ainda estão recrutando pacientes de COVID-19.

Fases de estudo

Antes de listarmos os estudos clínicos, vamos relembrar rapidamente as fases de investigação científica pelas quais um medicamento precisa passar antes de ser comercializado.

  • Testes pré-clínicos: medicamentos / princípios ativos / potenciais drogas analisadas em laboratório quanto a toxicidade e efetividade.
  • Estudos de fase 1: testados em um pequeno número de pessoas. Determina dose ideal e segura, eficácia e efeitos colaterais iniciais.
  • Estudos de fase 2: aumento do número amostral. Determina a efetividade potencial do medicamento e valida as informações encontradas na fase 1, permitindo o avanço para fase 3.
  • Estudos de fase 3: aumento do número amostra. Determina eficácia real do tratamento, e servem de base para obtenção dos registros sanitários. Em geral, são randomizados, duplo ou triplo-cego e comparados a um grupo controle (placebo), além de comparados ao tratamento padrão para a doença avaliada. É o maior nível de evidência.
  • Estudo de fase 4: farmacovigilância pós-comercialização.

Recentemente, publicamos aqui no Portal um guia para tomada de decisões utilizando ensaios clínicos randomizados. Vale a pena conferir. Falamos sobre os vieses dentro dos estudos, a necessidade de estimativas amostrais, e como utilizar, de fato, os resultados encontrados na rotina clínica.

AZVUDINE

O estudo iniciado em dezembro de 2020 em Campos Dos Goytacazes (RJ) tem como objetivo investigar o potencial terapêutico da Azvudine em pacientes hospitalizados e infectados por coronavírus. Espera-se incluir 342 pacientes até o fim de abril.

O tratamento é composto por 1 mg VO + tratamento padrão por até 14 dias, e comparado com placebo. O medicamento é um antiviral análogo de nucleosídeos, utilizado em casos de infecção por HIV.

Para saber mais sobre o estudo clínico, acesse o identificador NCT04668235 ou clique aqui.

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CIPROEPTADINA PARA SUPORTE VENTILATÓRIO

Este ensaio clínico está sendo realizado em pacientes com insuficiência respiratória internados na UTI e que necessitam de suporte ventilatório (invasivo ou não invasivo). O objetivo avaliar se o tratamento com ciproeptadina, um antagonista do receptor de serotonina, aumenta o número de dias sem ventilador.

Alguns estudos mostraram aumento da ativação e reatividade plaquetária em pacientes com COVID-19, e essa ativação está associada à liberação de serotonina. Com isso, os pesquisadores buscam o antagonismo da ação da serotonina como forma de melhora na evolução clínica dos pacientes.

E estimativa inicial era de 274 pacientes até o fim de fevereiro desse ano, mas o estudo segue em andamento. Os pacientes recebem ciproeptadina 8 mg três vezes ao dia por 10 dias.

O estudo está sendo realizado no Hospital de Clínica de Porto Alegre. Para saber mais sobre o estudo clínico, acesse o identificador NCT04869228 ou clique aqui.

STRUCK

O estudo STRUCK (do inglês, Survival TRial Using CytoKines) teve início em janeiro de 2021 na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP. Na busca por melhores tratamentos para pacientes com COVID-19 grave, três diferentes terapias são propostas: colchicina (anti-IL-6), ixecizumabe (anti-IL-17) e aldesleucina (IL-2 recombinante).

Os três tratamentos são comparados ao grupo padrão de tratamento, com corticoides (em geral dexametasona) e antirretrovirais, além da suplementação de oxigênio. Como critério de inclusão, os pacientes devem ser adultos, sem doenças hepáticas ou infecciosas associadas e apresentar, além do teste positivo para SARS-CoV-2, pneumonia.

Para acessar o estudo clínico, procure pelo identificador NCT04724629 ou clique aqui.

COVID-RASi

O estudo COVID-RASi é um ensaio clínico randomizado internacional. Além dos 15 hospitais brasileiros, dois hospitais no México e mais dois no Canadá também fazem parte do estudo.

O objetivo é avaliar o potencial benefício dos moduladores de angiotensina nos resultados clínicos em pacientes com COVID-19 que estão em alto risco de doença cardiovascular. São utilizados os inibidores do sistema renina-angiotensina, como inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) ou bloqueadores dos receptores da angiotensina II (BRA). Além disso, os pesquisadores buscam avaliar se já diferença entre os tratamentos com IECA e BRA nesses casos.

Como IECA, são sugeridos perindopril, ramipril ou enalapril; como BRA, sugere-se o uso de candesartana, valsartana ou losartana. Os participantes devem ter 65 anos ou mais em caso de atendimento ambulatoriais, ou 40 anos ou mais em caso de internamento, e serão tratados de acordo com as diretrizes de cada hospital / instituição.

Espera-se que até o final do estudo, em dezembro desse ano, sejam incluídos mais de 1000 participantes. Para saber mais sobre o estudo, acesse o identificador NCT04591210  ou clique aqui.

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GT0918 – PROXALUTAMIDA

O objetivo deste estudo é avaliar a eficácia e segurança da Proxalutamida (GT0918), um antiandrogênio, em homens com COVID-19 leve a moderada. O estudo teve início em março de 2021 e estima incluir 724 pacientes até maio de 2022.

Como critérios de inclusão, serão analisados pacientes adultos, homens, não hospitalizados, com teste positivo em até 3 dias antes da randomização. Os indivíduos do grupo experimental receberão o medicamento 200 mg VO uma vez ao dia por 14 dias + tratamento de suporte, e comparados ao placebo.

O estudo está sendo realizado no Hospital Santa Paula, em São Paulo. Para saber mais sobre o estudo clínico, acesse o identificador NCT04869228 ou clique aqui.

Importante!

No Brasil, um estudo com a Proxalutamina causou controvérsias no ano passado. Em outubro, o Conselho Nacional de Saúde emitiu uma nota elucidando os fatos quanto ao estudo irregular com o medicamento.

É importante destacar que, embora ambos sejam realizados no Brasil, estamos falando de estudos diferentes, sendo o último aqui comentado finalizado em dezembro de 2021 em Brasília. Os detalhes desse último estudo podem ser acessados pelo identificador NCT04446429 ou clicando aqui.

 

Bônus – MEPLAZUMABE em fase 2/3

O meplazumabe é um anticorpo monoclonal humanizado do tipo IgG2 anti-CD147. Estudos pré-clínicos demonstraram uma inibição efetiva do número de cópias do gene viral mediado por meplazumabe > 90%. Logo, espera-se que ele bloqueie a ligação da proteína spike do coronavírus o CD147 expresso na célula hospedeira humana, bloqueando assim a entrada do vírus. O meplazumabe também pode inibir a tempestade de citocinas associada a COVID-19.

Este estudo é do tipo fase 2/3 (ou seja, ainda há um caminho a ser percorrido por aqui!), com o objetivo de avaliar a segurança e eficácia do Meplazumabe para o tratamento da COVID-19 em adultos hospitalizados. Estima-se alcançar cerca de 450 pacientes até a finalização da fase 3 do estudo, prevista para julho desse ano.

Para acessar o estudo clínico, busque o identificador NCT04586153 ou clique aqui.

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Referências:

  1. Study on Safety and Clinical Efficacy of AZVUDINE in COVID-19 Patients (SARS-CoV-2 Infected). ClinicalTrials.gov Identifier: NCT04668235
  2. Effect of Cyproheptadine on Ventilatory Support-free Days in Critically Ill Patients With COVID-19. ClinicalTrials.gov Identifier: NCT04979221
  3. Survival TRial Using CytoKines in COVID-19 (STRUCK Trial) (STRUCK). ClinicalTrials.gov Identifier: NCT04724629
  4. The COVID-RASi Trial (COVID-19). ClinicalTrials.gov Identifier: NCT04591210
  5. A Phase 3 Randomized, Double-Blind Placebo Controlled, Multi-regional Trial to Evaluate the Efficacy and Safety of GT0918 for the Treatment of Mild to Moderate COVID-19 Male Patients. ClinicalTrials.gov Identifier: NCT04869228
  6. Study to Assess the Effect of Meplazumab on COVID-19. ClinicalTrials.gov Identifier: NCT04586153

 

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