Como identificar um paciente com Coqueluche

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A Coqueluche é uma doença infectocontagiosa causada tipicamente pela bactéria Bordetella pertussis. Afeta as vias aéreas superiores, traqueia e brônquios, sendo refletido clinicamente por presença de tosse paroxística – tosse súbita incontrolável, com tossidas rápidas e curtas (5 a 10) em uma única expiração.

Nos últimos dias, houve um aumento no número de casos de coqueluche. O último pico de epidemia no Brasil ocorreu em 2014, com mais de 8500 casos.

Veja mais sobre a doença, quais são os sinais e sintomas, complicações e prognóstico.

Por ano, há cerca de 40 milhões de casos de coqueluche

A Coqueluche era uma das principais causas de mortes em crianças até o início do século XX. Em 1940, com o início da vacinação, a incidência diminui drasticamente, com queda de mais de 95%.

No mundo inteiro são cerca de 40 milhões de casos por ano, com destaque para o Sudeste Asiático e África. No Brasil, são cerca de 1000 casos/ano. A incidência é diretamente proporcional com o grau de vacinação da população. Logo, a população mais cometida são crianças lactentes e em fase pré-escolar (não vacinadas).

Além disso, a vacinação não é duradoura (eficácia até 10 anos), acometendo muitos idosos, e gerando surtos em diversos países a cada 2-5 anos.

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Como identificar um paciente?

A Coqueluche é causada pela bactéria Bordetella pertussis, sendo extremamente contagiosa. É tipicamente transmitida por gotículas de secreção de pessoas contaminadas, provenientes de via respiratória e excreção pela nasofaringe (tosse, espirro, fala).

O período de incubação varia entre 7 e 14 dias, e o quadro clínico pode ser dividido em três fases:

  1. Fase catarral: tem início após a incubação, e dura cerca de 1 – 2 semanas. O paciente tipicamente apresenta um quadro de “virose” respiratória, o que inclui febre baixa, rinorreia / coriza, espirros, lacrimejamento ocular e tosse.
  2. Fase paroxística: dura em média 2 – 6 semanas. Os achados da fase catarral vão desaparecendo, com exceção da tosse que começa a se intensificar, sendo irritativa, seca, podendo se apresentar de forma intermitente ou paroxística.

Lembre-se: tosse paroxística são acessos súbitos de tosse em que o paciente apresenta 5 – 10 tossidas em apenas uma expiração. A tosse é tão intensa, que o paciente fica com a face vermelha/cianótica e coloca a língua para fora; na sequência pode existir apneia ou mesmo vômitos. De toda maneira, após a tosse, o paciente tende a fazer uma inspiração forçada pela falta de ar, no entanto, a glote está parcialmente fechada – tal fato resulta em um som agudo como um “guincho”.

  1. Fase de convalescença: após até 6 semanas da fase paroxística, tem-se o início da fase de convalescença que dura de 2 – 6 semanas. Nessa fase, há o desaparecimento da tosse paroxística, dando lugar a uma “tosse comum” – que pode durar até 3 meses. Caso o paciente adquira outra infecção das vias áreas nesse período, a tosse paroxística pode retornar.

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Em adultos, a coqueluche pode não apresentar essa distinção clássica das fases, porém a tosse é uma regra. Além disso, em lactentes (< 3 meses) as fases são inexistentes e o quadro não é clássico, podendo o paciente apresentar desde apneia com cianose sem tosse, até engasgos e tosse com guincho.

O diagnóstico é feito inicialmente pelos achados clínicos, e a confirmação laboratorial não é necessária. Na prática, solicitamos identificação do patógeno com frequência, particularmente quando há a necessidade de uma profilaxia para contactantes.

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Definição de caso pelo Ministério da Saúde

De acordo com a Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, um caso de coqueluche pode ser suspeito, confirmado ou descartado:

  • Caso suspeito:

Todo indivíduo, independentemente da idade e estado vacinal, que apresente tosse seca há 14 dias ou mais, associada a um ou mais sintomas (tosse paroxística, guincho inspiratório e vômitos pós-tosse), ou com história de contato com caso confirmado como coqueluche pelo critério clínico.

  • Caso confirmado:

Critério laboratorial – todo caso suspeito de coqueluche com isolamento de B. pertussis.

Critério clínico-epidemiológico – todo caso suspeito que teve contato com caso confirmado como coqueluche pelo critério laboratorial, entre o início do período catarral até 3 semanas após o início do período paroxístico da doença (período de transmissibilidade).

Critério clínico – todo caso suspeito de coqueluche cujo hemograma apresente leucocitose (acima de 20 mil leucócitos/mm³) e linfocitose absoluta (acima de 10 mil linfócitos/mm³), desde que sejam obedecidas as seguintes condições:

– resultado de cultura negativa ou não realizada;

– inexistência de vínculo epidemiológico (item anterior);

– após realizado diagnóstico diferencial não confirmado de outra etiologia.

  • Caso descartado:

Caso suspeito que não se enquadre em nenhuma das situações descritas anteriormente.

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Complicações e prognóstico

As complicações ocorrem com maior frequência nas crianças menores que 6 meses – período em que a vacinação completa não foi efetivada. Usualmente, são complicações secundárias às crises violentas de tosse, como pneumotórax, fratura de costela, pneumonia, apneia, ruptura de diafragma e ativação de tuberculose.

Diversas outras complicações são possíveis, como distensão muscular, hérnias abdominais, surdez, otite, estrabismo, convulsão etc.

A mortalidade é próxima de 1% dos casos, sendo mais comum em crianças – 92% dos óbitos ocorrem em lactentes < 1 ano de idade. Como regra, quanto mais nova for a criança, pior é o prognóstico.

Em crianças acima de 1 anos, e em adultos, o prognóstico é usualmente muito bom – a grande maioria vai apresentar melhora completa, embora a tosse possa permanecer por alguns meses.

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Referências:

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis – Guia Vigilância de Saúde Atualizado – Brasília: Ministério da Saúde, 2014.

Cornia, P.; Lipsky, BA – Pertussis infection: Epidemiology, microbiology, and pathogenesis. In: UpToDate, Post TW (Ed), UpToDate, Waltham, MA.

Yeh, S.; Mink, CM – Pertussis infection in infants and children: Clinical features and diagnosis. In: UpToDate, Post TW (Ed), UpToDate, Waltham, MA.

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