Como diagnosticar um paciente com Leptospirose?

leptospirose

A Leptospirose é uma doença infecciosa febril transmitida pela urina de animais infectados, principalmente ratos. É a zoonose mais comum no Brasil.

Inundações propiciam disseminação e persistência do agente causador, facilitando ocorrência de surtos. Diante da tragédia que o Rio Grande do Sul enfrenta, é preciso estar atento aos riscos. Veja mais sobre a leptospirose, quais são os sinais e sintomas e como diagnosticar um paciente.

Enchentes aumentam o risco de Leptospirose

A Leptospirose é uma zoonose causada por bactérias Leptospira interrogans, que podem ser transmitidas pelo contato com urina de animais infectados.

Os ratos são os principais reservatórios da bactéria, e estima-se que 60% dos ratos de rua no Brasil carregam o patógeno. Os rins desses roedores são os principais locais em que a bactéria reside sem causar doença.

O próprio ser humano, ou outros mamíferos como cães, gatos, cavalos, bois, porcos e ovelhas podem ser hospedeiros “acidentais” – podendo se infectar de forma assintomática ou evoluir com a doença.

As leptospiras que residem nos rins dos ratos saem através da urina até o meio ambiente. Elas sobrevivem principalmente em meios úmidos/aquosos, sendo a água uma forma de transmissão muito importante (risco alto em enchentes). De toda forma, elas são bastante móveis e penetram de forma ativa em pele lesada ou em mucosa integra; há ainda descrições de infecção por inalação.

leptospirose

Como ocorre a Leptospirose?

Como comentamos, as leptospiras penetram de forma ativa pela pele. Após alcançar a corrente sanguínea, a bactéria se multiplica intensivamente, alcançando diversos órgãos, principalmente os mais vascularizados. Essa é a fase da leptospiremia, que dura entre 3 e 7 dias.

A bactéria leva a pouco processo inflamatório ao hospedeiro, sendo a lesão do endotélio vascular e adesão à membrana plasmática seu mecanismo patogênico – o que causa aumento da permeabilidade celular com hemorragias e perda de líquidos para o terceiro espaço (espaço intercelular – entre as células). A febre é secundária a liberação de citocinas da bactéria.

Em seguida, ocorre a fase imune, na qual há desenvolvimento de anticorpos contra a bactéria. Estes anticorpos são altamente eficientes em quase todos os órgãos, com exceção de olhos, meninge e rins. Há então uma reação de hipersensibilidade, podendo evoluir com sinais/sintomas nesses locais, como meningite e uveíte.

uveíte

Quais são os sintomas?

O tempo entre a exposição e o início dos sintomas é de 7-14 dias. A partir disso, dependendo da variante genética da superfície celular da bactéria, diferentes manifestações clínicas ocorrem.

A maioria dos casos (95%) é semelhante a uma gripe forte, com febre entre 38 e 40ºC, náuseas, vômitos, cefaleia, mialgia, olhos vermelhos. Essa fase dura até 7 dias (como citamos, leptospiremia), até a formação de anticorpos. Logo após essa fase, ocorre a redução da febre, com o paciente iniciando novos sintomas pela reação de hipersensibilidade (fase imune).

Casos graves são conhecidos como “síndrome de Weil” ou forma íctero-hemorrágica. Ocorre em 5% dos casos, em decorrência da infecção pelo sorotipo Icterohaemorrhagie. Nesses casos, a fase inicial também é semelhante a uma síndrome gripal, mas a fase imune é caracterizada por icterícia, disfunção renal aguda e diátese hemorrágica.

Epcoritamabe linfoma

Como realizar o diagnóstico?

O médico deve realizar um exame físico completo, com anamnese questionando fatores de risco relacionado com a doença (como enchentes). A confirmação diagnóstica é feita por exames laboratoriais, sendo o teste de microaglutinação (MAT) de sangue e liquor padrão-ouro.

Outras possibilidades incluem cultura para isolamento da bactéria (primeiros 10 dias, hemocultura; após 10 dias, urocultura) e sorologia (ELISA) a partir do sétimo dia.

De acordo com a Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, um caso pode ser suspeito, confirmado ou descartado de acordo com alguns critérios.

 

Caso Suspeito

Indivíduo com febre, cefaleia e mialgia, que apresente pelo menos um dos seguintes critérios:

  1. Critério 1: antecedentes epidemiológicos sugestivos nos 30 dias anteriores à data de início dos sintomas.

Isso inclui: exposição a enchentes, alagamentos, lama ou coleções hídricas, exposição a esgoto, fossas, lixo e entulho, atividades que envolvam risco ocupacional como coleta de lixo e de material para reciclagem, limpeza de córregos, trabalho em água ou esgoto, manejo de animais, agricultura em áreas alagadas, vínculo epidemiológico com um caso confirmado por critério laboratorial, residir ou trabalhar em áreas de risco para a leptospirose.

Como diagnosticar um paciente com Leptospirose?

  1. Critério 2: pelo menos um dos seguintes sinais ou sintomas: sufusão conjuntival, sinais de insuficiência renal aguda (incluindo alterações no volume urinário), icterícia e/ou aumento de bilirrubinas, e/ou fenômeno hemorrágico.

 

Caso confirmado

Pode ser por critério laboratorial ou critério clínico-epidemiológico.

  1. Critério Laboratorial: casos suspeito + teste laboratorial positivo.

Em caso de ELISA ou teste de microaglutinação (MAT), amostra em fase aguda não reagente, e amostra após 14 dias com título maior ou igual a 200. Ainda, pode ser definido como aumento de pelo menos 4 vezes nos títulos de teste MAT entre duas amostras sanguíneas coletadas com um intervalo de 14 dias após o início dos sintomas (máximo de 60 dias) entre elas.

Quando não houver disponibilidade de duas ou mais amostras, um título maior ou igual a 800 na MAT confirma o diagnóstico.

O resultado negativo (não reagente) de qualquer exame sorológico específico para a leptospirose, com amostra sanguínea coletada antes do sétimo dia do início dos sintomas, não descarta o caso suspeito. Outra amostra sanguínea deverá ser coletada a partir do dia 7 do início dos sintomas, para auxiliar na interpretação do diagnóstico.

Em caso de isolamento da leptospira ou componentes da bactéria, o diagnóstico é confirmado na positividade do teste (cultura, testes moleculares, imuno-histoquímica etc.).

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  1. Critério Clínico-Epidemiológico

Todo caso suspeito que apresente febre e alterações nas funções hepática, renal ou vascular, associado a antecedentes epidemiológicos e que não tenha sido possível a coleta de material para exames laboratoriais específicos, ou estes tenham resultado não reagente com amostra única coletada antes do 7º dia de doença.

 

Caso descartado

Definido se o teste de ELISA-IgM for não reagente em amostra sanguínea a partir de 7 dias de sintomas ou duas reações de MAT não reagentes, a partir do primeiro atendimento e com intervalo de 2-3 semanas entre elas.

 

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Referências:

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Leptospirose: diagnóstico e manejo clínico / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. – Brasília: Ministério da Saúde

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