Cartilha orienta profissionais de saúde no atendimento ao luto

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Médicos da USP de Ribeirão Preto criaram uma cartilha de orientação sobre luto para os profissionais da área da saúde. A publicação aborda conceitos e etapas de suporte para atendimento efetivo e humanizado ao luto, em casos de luto antecipatório, parental, infantojuvenil, fetal e morte inesperada.

Cartilha de orientações sobre luto para profissionais de saúde

A publicação tem como principal objetivo orientar os profissionais de saúde a lidar com as situações de luto vivenciadas em ambiente hospitalar. É uma cartilha completa, que aborda desde as definições até as condutas, baseadas em evidências e experiências com situações familiares.

Nesse artigo, vamos abordar resumidamente cada conceito, e focar nas orientações sugeridas quanto ao atendimento adequado em cada processo de luto. Se quiser saber mais sobre os conceitos, clique aqui para acessar o conteúdo completo.

Luto antecipatório – o que fazer?

O luto antecipatório é vivenciado diante da ameaça de perda ou morte, como depois do anúncio do diagnóstico ou de intercorrências. Nesses casos, os seguintes passos são recomendados:

  1. Comunicar más notícias de forma clara, efetiva e empática. Nesse caso, protocolos de boas práticas como o Protocolo SPIKES pode ser utilizado.
  2. Estreitar relações e criar memórias. A formação de boas memórias permite bons momentos, que podem ficar marcados na vida dos pacientes e familiares, e amenizar o luto.
  3. Promover o trabalho interdisciplinar.
  4. Valorizar a espiritualidade e/ou religiosidade individual. Nesse caso, pode-se recorrer a Escala SPIRIT.
  5. Envolver outras pessoas próximas.
  6. Envolver Unidade de Cuidados Paliativos.

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Luto parental – o que fazer?

O luto parental é aquele que ocorre quando pais perdem seus filhos. Em geral, tem alto risco de desenvolvimento de crise, desestruturações, repercussões e complicações. Nesses casos, os seguintes passos são recomendados:

  1. Comunicar más notícias de forma clara, efetiva e empática. Atualizar constantemente os pais (ou responsáveis) quanto ao prognóstico e permitir participação ativa na tomada de decisão.
  2. Criar memórias e permitir o momento de despedida da família.
  3. Continuar o cuidado familiar.
  4. Prestar condolências.
  5. Recomendar / incentivar a psicoterapia, hábitos para uma vida saudável e terapias alternativas.
  6. Sugerir grupos de apoio.

Luto infantojuvenil – o que fazer?

Frequentemente, crianças e adolescentes são vistas como pouco afetadas pelo processo de luto, o que torna o luto infantojuvenil negligenciado socialmente. No entanto, a conduta deve ser cautelosa e afetuosa, pois os efeitos de ruptura são mais intensos do que em adultos.

A compreensão de morte e luto da criança é relativa ao desenvolvimento cognitivo e psicomotor, e é necessário estar atento a cada etapa.

  1. Crianças de 0-2 anos: são sensíveis a ausência dos pais e/ou cuidadores diretos. A partir dos 12 meses, a percepção de morte como “ausência” é possível. Nesse caso, reagem de forma sintomática, com emoções fortes, confusão, ansiedade de separação, irritabilidade, agitação, alteração de sono e apetite.
  2. Crianças 2-6 anos: a compreensão de morte é fantasiosa, mas o entendimento como irreversível ainda é limitado. As crianças dessa idade possuem uma visão egocêntrica, então acreditam que os eventos que acontecem são resultado de algo que fizeram. Nesse caso, podem apresentar regressão nos marcos de desenvolvimento, constante sentimento de culpa e hostilidade, insegurança, dificuldade em separação, pouca expressão de sentimentos e isolamento.
  3. Crianças 7-11 anos: compreendem a morte de forma lógica, mas necessariamente de forma permanente e final, associado a uma causa e de forma universal. Podem apresentar sentimentos intercalados. Nesses casos, funerais e rituais podem ser úteis.
  4. Crianças >12 anos: entendem completamente o conceito de morte. Nesse caso, há o risco de complicações do luto devido as mudanças relacionadas a adolescência.

Em todos os casos de crianças e adolescentes enlutadas, os profissionais da saúde são orientados a envolver os pacientes em grupos de apoio, incentivar a expressão dos sentimentos, permitir e incentivar a visita de amigos e familiares e recomendar evitar mudanças extremas de rotina.

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Luto fetal ou perda gestacional – o que fazer?

Independente da duração da gestação, a morte do produto de concepção antes da expulsão ou retirada completa do corpo da mãe é considerado perda fetal. O luto fetal / perda gestacional priva a família das experiências pós-parto, criando uma quebra de expectativa e uma sensação de não existência.

Ainda, esse tipo de sofrimento carrega uma falta de aceitação social, resultando em impacto emocional relevante. Dessa forma, recomenda-se ao profissional de saúde:

  1. Oferecer acompanhamento psicológico.
  2. Quando possível, oferecer pulseiras de identificação específica para as pacientes na área hospitalar e evitar constrangimentos.
  3. Quando possível, acomodações pré-parto em ala exclusiva.
  4. Quando possível e viável, permitir a participação do(a) acompanhante escolhido pela mãe na retirada do natimorto.
  5. Expedir certidão ao bebê, com data, local de parto e nome escolhido pelos pais, assim como o carimbo mão/pé.
  6. Possibilitar a decisão de sepultamento, caso seja de interesse da família.
  7. Comunicar às unidades de saúde locais para que descontinuem as visitas pré-natais e evitem questionamentos.

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Luto por morte inesperada – o que fazer?

Casos de ruptura abrupta da convivência resultam em sentimentos intensos e de muito sofrimento, pois não houve tempo para o luto antecipatório. Ainda, alguns casos de morte inesperada podem ser traumáticos, agravando o enlutamento por morte inesperada.

Nesses casos, é importante diferenciar o luto normal do complicado, e a necessidade de atenção clínica quanto ao transtorno do luto complexo persistente (DSM-5/2014).

Transtorno do luto complexo persistente

Ocorre quando a ligação afetiva permanece intensa, mantendo os sintomas e comprometendo o processo e aceitação da perda. Em casos de adultos, os sintomas devem persistir por mais de 12 meses; para crianças e adolescentes, 6 meses.

Alguns sintomas devem estar presentes em grau clinicamente relevante na maioria dos dias, como saudade persistente, intenso pesar e dor emocional, preocupação com o falecido e/ou com situações de morte.

Outros sintomas experienciados em pacientes com o transtorno complicado incluem: dificuldade em aceitar a morte, incredulidade, entorpecimento emocional, raiva ou mágoa relacionados à perda, dificuldade com memórias positivas a respeito do falecido, e avaliações desadaptativas sobre si mesmo em relação à morte.

Ainda, há uma constante perturbação social e de identidade, como desejo de morrer ou estar com a pessoa que faleceu, dificuldade em confiar em outras pessoas ou isolamento.

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Referências:

Giovanna Grepi. Publicação orienta profissionais da saúde sobre atendimento adequado no processo de luto. Jornal da USP. Março 2022. https://jornal.usp.br/?p=496024

Raissa Souza Aguiar. CARTILHA DE ORIENTAÇÕES SOBRE LUTO PARA PROFISSIONAIS DA ÁREA DE SAÚDE. Programa de Pediatria e Puericultura da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP.

 

 

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