Os Arenavírus são transmitidos principalmente de roedores para humanos, e são bem conhecidos por causarem Febres Hemorrágicas. Dentre as mais conhecidas, temos a Febre de Lassa e a Coriomeningite linfocitária.
A Família Arenaviridae contém diversos vírus de RNA fita simples. São divididos em dois grandes grupos, considerando antigenicidade, filogenia e distribuição geográfica:
- Arenavírus do Velho Mundo: predominantes na África.
– Vírus da coriomeningite linfocítica – protótipo do grupo. Vírus de distribuição global. Soroprevalência média de 2-5%.
– Vírus Lassa: causa febre de Lassa.
– Outros menos comuns: vírus Mobala, vírus Mopeia, vírus Ippy e vírus Lujo.
- Arenavírus do Novo Mundo: predominantes nas Américas.
Divididos em 3 classes principais – A, B e C. Os do tipo C que causam febre hemorrágica em humanos.
Os arenavírus representam um desafio em saúde pública, especialmente em regiões endêmicas, devido à sua alta letalidade e ao potencial de surtos. A febre de Lassa, por exemplo, causa epidemias anuais na África Ocidental, enquanto os arenavírus do Novo Mundo são responsáveis por surtos esporádicos de febres hemorrágicas na América do Sul.
Os Arenavírus são transmitidos principalmente de roedores para humanos (o único transmitido por morcegos é o vírus Tacaribe). Ocorre quando há contato com fezes e urinas de animais infectados. Os casos podem ocorrer durante todo o ano, mas há aumento nos meses de inverno e outono, quando os roedores procuram abrigo em ambientes fechados.
Além disso, pode ocorrer a transmissão de pessoa para pessoa, principalmente por inalação de aerossóis com partículas virais. Ainda, pode ocorrer por meio do contato com fluidos corporais de um paciente infectado, como sangue, urina, saliva, vômito ou fezes.
A transmissão vertical também é uma opção, da mãe infectada para o feto, bem como o contato indireto, pela contaminação de alimentos ou de superfícies.
Na grande maioria dos casos, os Arenavírus são causadores de doenças febris assintomáticas ou oligossintomáticas, com febre, mal-estar e dores musculares.
As infecções são leves, e mortalidade é geralmente baixa em indivíduos imunocompetentes (< 1%). Os riscos maiores são em imunocomprometidos, especialmente transplantados, e em gestantes – pela alta mortalidade e o risco de transmissão placentária.
As condições hemorrágicas ocorrem como complicações da infecção primária em cerca de 20% dos pacientes.
Clinicamente, os pacientes apresentam petéquias, sangramento gengival, epistaxe, sangramento vaginal e gastrointestinal. Laboratorialmente, pode haver leucopenia, hiperbilirrubinemia, aumento de transaminases, prolongamento de RNI e aumento de TAP e TTPA. Em gestantes, quadros hemorrágicos são graves, especialmente no final da gestação.
São conhecidas as febres hemorrágicas da Argentina (vírus Junin), do Caribe (vírus Tacaribe), Boliviana (vírus Machupo), Venezuelana (vírus Guanarito), Peruana (vírus Allphahuayo), e Brasileira (vírus Sabiá e vírus Juquitiba).
Outra doença hemorrágica causada por esse grupo de vírus é a Febre de Lassa, que ocorre principalmente na África Ocidental.
Febre de Lassa: condição endêmica na África Ocidental
A Febre de Lassa é uma infecção grave causada pelo Vírus de Lassa. A condição é endêmica em várias regiões da África Ocidental, em países como Nigéria, Serra Leoa, Libéria, Guiné, Gana.
Clinicamente, a condição pode variar desde assintomática até fatal. Cerca de 80% dos casos são leves e com sintomas inespecíficos. De forma geral, nos primeiros 7 dias o paciente apresenta febre alta, fadiga, mialgia e artralgia, cefaleia e dor de garganta.
Após uma semana, cerca de 20% dos pacientes podem evoluir de forma grave, que pode envolver: febre hemorrágica e danos ao SNC, pulmonares e/ou cardiovasculares. Ainda, outros achados incluem: insuficiência renal (28% dos casos) linfadenopatia cervical, faringite (70%), conjuntivite bilateral (40%), edema de cabeça e pescoço (30%). A surdez é uma complicação identificada em 25% dos pacientes.
A taxa de letalidade é alta, variando de 15-50%.
Coriomeningite Linfocitária: infecção que pode acometer o SNC
A Coriomeningite linfocitária é uma infecção grave causada pelo Vírus da Coriomeningite linfocitária (LMCV).
Clinicamente, a condição pode variar desde assintomática até fatal. De forma geral, nos primeiros 7 dias o paciente apresenta febre alta, mal-estar, mialgia, artralgia, dor retro orbital e náuseas.
Após uma semana, cerca de 10-20% dos pacientes podem evoluir de forma grave, apresentando sintomas como dor de cabeça, rigidez de nuca e sensibilidade à luz, clássicos de meningite asséptica. Em casos graves, há encefalite ou meningoencefalite. Achados laboratoriais incluem baixas concentrações de glicose e leucócitos < 1000 /mcL no liquor.
Na grande maioria dos casos, o tratamento é apenas de suporte. Em casos leves, a infecção é autolimitada, com resolução em 7-10 dias.
O uso de ribavirina tem sido empregado em alguns casos, mas a evidência de sua eficácia é limitada para a maioria das infecções. A exceção ocorre na Febre de Lassa, em que a Ribavirina é a primeira opção.
É absolutamente necessário isolar o paciente pelo risco de transmissão. Ainda, o número de profissionais de saúde que entram nos quartos dos pacientes deve ser minimizado, e as áreas infectadas devem ser desinfetadas constantemente.
Além disso, é necessário realizar controle de complicações como alterações neurológicas, insuficiência renal, choque ou hemorragias. Monitorar função hepática, renal e hematológica durante o tratamento.
Por fim, cuidar com o uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e ácido acetilsalicílico (AAS), pelo maior risco hemorrágico.
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Referências:
BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Arenavírus.
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