Terapia baseada em anticorpos neutralizantes contra a COVID-19

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Na recente infecção por COVID-19, anticorpos neutralizantes podem ser utilizados tanto para diagnóstico e vigilância imunológica, como ferramentas terapêuticas. Até agora, muitos anticorpos estão em fase de ensaio clínico, e alguns deles já estão em uso.

Uma revisão sistemática publicada no ano passado reuniu os principais trabalhos, comparando os efeitos dos medicamentos baseados em anticorpos propostos para o tratamento da COVID-19. Aqui, trouxemos os resultados mais relevantes.

Terapia baseada em anticorpos

Os anticorpos fornecem uma nova esperança para o tratamento de pacientes com COVID-19. Devido à sua ligação específica às partículas virais e a capacidade de neutralização, ajudam na depuração ou reduzem a carga viral no hospedeiro. Somado ao seu perfil de toxicidade favorável e diversas evidências históricas positivas de uso (como com H1N1, gripe espanhola e Ebola), o uso de anticorpos representa opções terapêuticas atraentes.

Existem vários anticorpos monoclonais em diferentes estágios de desenvolvimento, desde o pré-clínico até o clínico, e vários países emitiram autorização para uso emergencial no tratamento de pacientes hospitalizados com COVID-19.

Até o momento, os anticorpos neutralizantes que foram aprovados para intervenção terapêutica incluem REGN-COV-2 (combinado de Casirivimabe e Imdevimabe), Bamlanivimabe ou uma combinação de Bamlanivimabe e Etesevimabe.

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Dados atualizados em revisão sistemática e metanálise

Como a COVID-19 representa uma ameaça significativa à saúde global, esforços internacionais coordenados para identificar terapias baseadas em evidências resultaram mais de 3 mil ensaios clínicos registrados. Aproximadamente 12% desses estudos estão investigando terapias celulares ou baseadas em anticorpos, como plasma convalescente, imunoglobulinas intravenosas (IV-Ig) ou anticorpos antivirais.

Uma revisão sistemática seguida de metanálise publicada no ano passado reuniu os principais trabalhos, comparando os efeitos dos medicamentos baseados em anticorpos propostos para o tratamento da COVID-19.

No trabalho, foram incluídos estudos randomizados que avaliaram pessoas com COVID-19 suspeita, provável ou confirmada, e que compararam produtos sanguíneos e anticorpos antivirais específicos da doença entre si – ou contra nenhuma intervenção, placebo ou tratamento padrão. Estudos com vacinas, medicamentos, dietas, intervenções não farmacológicas ou quaisquer outras propostas terapêuticas não foram incluídas.

Dos mais de 5 mil trabalhos inicialmente identificados, 47 de fato entraram para as análises (destes, 4 eram brasileiros). Os principais resultados encontrados foram classificados de acordo com o desfecho, tanto para doença leve a moderada, quanto grave:

Admissão hospitalar e tempo de hospitalização: avaliando mais de 8 mil pacientes, as quatro combinações de anticorpos monoclonais tiveram um risco menor de hospitalização: casirivimabe-imdevimabe, bamlanivimabe, bamlanivimabe-etesevimabe e sotrovimabe. Em pacientes com sintomas mais graves, o tempo de hospitalização não variou baseado em nenhuma das intervenções.

Mortalidade: o risco de mortalidade é muito baixo em pacientes com doença em estágios menos graves. Dessa forma, após avaliar mais de 10 mil pacientes com sintomas leves, nenhuma intervenção resultou em uma redução importante na mortalidade. Em pacientes com sintomas mais graves, apenas um estudo sugeriu que a combinação casirivimabe-imdevimabe pode reduzir a mortalidade em pacientes soronegativos – sem anticorpos detectáveis para proteína spike do coronavírus.

Ventilação mecânica: assim como o risco de mortalidade, o risco de ventilação mecânica é reduzido em pacientes com a doença leve a moderada, e nenhuma intervenção resultou em alterações significativas. Os resultados também não foram significativos em pacientes com sintomas mais graves.

Tempo para redução de sintomas: com mais de 5 mil pacientes avaliados, a combinação casirivimabe-imdevimabe provavelmente reduz a duração dos sintomas. Para as demais intervenções, nenhum efeito foi observado.

Eliminação viral: o tempo de eliminação viral foi avaliado por PCR nasofaríngea, e nenhum dos anticorpos monoclonais testados pareceu ter influência.

 

Como conclusões desse trabalho, os anticorpos monoclonais parecem ser mais eficazes em pacientes com a COVID-19 leve a moderada, em comparação aos pacientes com doença grave.

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Em pacientes com COVID-19 leve, aqueles randomizados para qualquer um dos anticorpos monoclonais tiveram um risco menor de hospitalização do que aqueles randomizados para placebo. No entanto, segundo os autores, apenas casirivimabe + imdevimabe apresentou certeza moderada para este resultado.

Outro comentário relevante dos autores é em relação ao plasma convalescente: não houve qualquer evidência de benefício em pacientes com COVID-19. Apenas um artigo foi identificado com resultados positivos, limitado a doadores com altos títulos de anticorpos neutralizantes.

De fato, o sucesso da técnica de imunização passiva varia de pessoa para pessoa. Os estudos que avaliaram as amostras de plasma convalescente apontam maiores títulos de IgG1, específico para Sars-Cov-2, cerca de 7 dias após o teste de PCR positivo. Logo, o tempo de infecção, a qualidade e os títulos de anticorpos também são relevantes.

Perspectivas futuras

Os desafios continuam substanciais, e diversas questões seguem em aberto, incluindo títulos de anticorpos diferentes por idade ou desenvolvimento de mutações virais, levando à resistência aos tratamentos.

Até o momento, não temos estudos de longo prazo e grandes coortes para avaliar o tempo de duração dos anticorpos neutralizantes e a real eficácia dos tratamentos baseados nessa técnica. Ainda é necessário avaliar a resposta das células B de memória de longo prazo e a amplitude do seu repertório – bem como diversos outros fatores envolvidos na resposta imunológica.

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Referências:

Reed AC Siemieniuk et al. Antibody and cellular therapies for treatment of covid-19: a living systematic review and network meta-analysis. BMJ. 2021.

Gupta SL, Jaiswal RK. Neutralizing antibody: a savior in the Covid-19 disease. Mol Biol Rep. 2022 Jan 6:1–10. doi: 10.1007/s11033-021-07020-6. Epub ahead of print. PMID: 34988889; PMCID: PMC8731133.

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