A antibioticoprofilaxia cirúrgica é uma estratégia utilizada para prevenir infecções em procedimentos cirúrgicos, reduzindo a incidência de complicações pós-operatórias relacionadas a infecções no sítio cirúrgico. Essas infecções podem comprometer a recuperação do paciente e aumentar a morbidade, o tempo de hospitalização e os custos associados ao tratamento.
Veja como e quando realizar a antibioticoprofilaxia no preparo pré-operatório.
A antibioticoprofilaxia cirúrgica depende do tipo de cirurgia realizada
O preparo pré-operatório é um conjunto de medidas realizadas antes de uma cirurgia para garantir a segurança do paciente, reduzir complicações e otimizar os resultados do procedimento. A antibioticoprofilaxia é um dos pilares desse processo.
No entanto, antes de determinar quando, como e qual antibiótico utilizar, precisamos definir qual é o tipo de cirurgia que será realizada.
- Cirurgia limpa: não invade tratos contaminados – trato gastrointestinal, respiratório ou geniturinário.
Nesse tipo de cirurgia, não há exposição a fontes de infecção, e a probabilidade de complicações infecciosas é muito baixa. É o caso de remoção de tumores cutâneos, cirurgias ortopédicas, neurocirurgias, herniorrafia, a maioria das cirurgias plásticas.
- Cirurgia limpa contaminada: invade tratos contaminados, mas sob controle, com boa técnica asséptica.
Também conhecida como potencialmente contaminada. O risco de infecção é moderado, mas controlável com medidas profiláticas adequadas. Exemplos incluem: cirurgias no trato gastrointestinal sem perfuração, colecistectomia videolaparoscópica, cirurgias ginecológicas, cesariana.
- Cirurgia contaminada: invade tratos contaminados e não há controle, ou há inflamação.
A cirurgia é realizada em um local com presença de material biológico ou contaminante. O risco de infecção é alto, pois há risco direto de infecção devido à contaminação evidente.
É o caso de feridas abertas acidentais recentes, operações com falhas técnicas de assepsia e antissepsia, cirurgia no trato gastrointestinal com perfuração ou drenagem de um abscesso etc.
- Cirurgia suja ou infectada: infecção ativa ou víscera perfurada no trauma.
O procedimento envolve áreas com infecção ativa, necrose de tecidos ou presença de material purulento. Exemplos: drenagem de abscessos, remoção de tecido necrosado, cirurgia de emergência em casos de peritonite ou infecção grave.
O risco de infecção é muito alto, pois a infecção já está presente no local, tornando a cicatrização e recuperação mais difíceis.
Quando devemos fazer profilaxia antibiótica em cirurgia?
Como citamos, as classificações ajudam a definir a estratégia de prevenção de infecção e a escolha do tipo de antibiótico profilático a ser administrado. A antibioticoprofilaxia cirúrgica deve ser utilizada sempre que houver risco de infecção
Dessa forma, em cirurgia limpa, não é necessário a antibioticoprofilaxia cirúrgica, exceto em cirurgias ósseas ou em caso de próteses.
Em cirurgia limpa contaminada ou cirurgia contaminada, sempre utilizar antibiótico pré-operatório (exceto na colecistectomia videolaparoscópica).
Por fim, na cirurgia suja ou infectada, não falamos mais de antibioticoprofilaxia, mas sim de antibioticoterapia – visto que a infecção já está presente no local.
Antibioticoprofilaxia no preparo pré-operatório: qual droga escolher?
De forma geral, o antibiótico de escolha é uma cefalosporina de primeira geração, para cobrir S. Aureus e Staphylococcus coagulase negativo. Como primeira escolha, temos a Cefazolina (Kefazol®).
A exceção ocorre em cirurgias colorretais, que devem cobrir patógenos Gram negativos e anaeróbios. Nesses casos, temos algumas opções, como Cefazolina + Metronidazol, Cefazolina + Ampicilina / Sulbactam, ou ainda a Cefoxitina – única cefalosporina da segunda geração que tem ação contra o B. fragilis.
E como fazer?
Deve-se iniciar a antibioticoprofilaxia entre 30 e 60 minutos antes da incisão. A exceção ocorre na apendicite, que iniciamos no momento do diagnóstico.
De forma geral, UMA DOSE é suficiente. Porém, quando o procedimento cirúrgico for demorar mais que 2 vezes a meia vida da droga (~3 horas), ou houver sangramento > 1500 mL, repetir a dose (repique).
Interromper a dose assim que a cirurgia finalizar. Em alguns casos, pode ser necessário manter, mas no máximo até 24 horas (isso apenas para profilaxia, sem contar a antibioticoterapia, das cirurgias sujas).
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Referências:
Gerald W Smetana (2024). Preoperative medical evaluation of the healthy adult patient. In: UpToDate.
Eckmann C, Aghdassi SJS, Brinkmann A, Pletz M, Rademacher J. Perioperative Antibiotic Prophylaxis. Dtsch Arztebl Int. 2024 Apr 5;121(7):233-242. doi: 10.3238/arztebl.m2024.0037. PMID: 38440828; PMCID: PMC11539872.