O teste Anti LKM1 detecta a presença de autoanticorpos contra a fração microssomal do fígado, mais especificamente contra CYP2D6. Um exame anti-LKM1 positivo está relacionado com a presença de hepatite autoimune.
Autoanticorpos Anti LKM1 e a Hepatite Autoimune
Microssomos são fragmentos do retículo endoplasmático celular presente em diversas células do organismo. Nos hepatócitos, drogas e diversos produtos tóxicos do organismo são metabolizadas dentro dessas estruturas por enzimas microssomais – principalmente as enzimas do citocromo P450.
Anticorpos Anti-LKM-1 (do inglês, liver/kidney microssomal type 1 antibodies, ou anticorpo microssomal de fígado e rim tipo 1) são autoanticorpos dirigidos contra a fração microssomal do fígado, mais especificamente contra a enzima P450 2D6 (CYP2D6).
Acredita-se que em pacientes geneticamente suscetíveis, fatores ambientais (como uma infecção viral) sirvam de gatilho para a formação desses autoanticorpos.
Como resultado da reação antígeno-anticorpo no fígado, há início de um processo inflamatório local (Hepatite Autoimune) – podendo evoluir com desorganização citoestrutural local e para um quadro de cirrose.
Didaticamente, podemos dividir a hepatite imune de duas formas: tipo 1 ou clássica (mais comum, 80% dos casos) ou tipo 2, que acomete tipicamente crianças e é comumente associada com outras doenças autoimunes. No caso da hepatite autoimune tipo 2, o principal anticorpo relacionado é o anti-LKM 1.
Dessa forma, a identificação do autoanticorpo anti LKM1 na corrente sanguínea é de fundamental importância para o auxílio diagnóstico de hepatite autoimune e sua classificação.
Por que o nome desse anticorpo envolve os rins?
O nome do autoanticorpo anti LKM 1 é “Anticorpo microssomal de fígado e rim tipo 1”. Isso porque esse autoanticorpo foi inicialmente identificado em tecidos do fígado e rim. No entanto, esse autoanticorpo tem como principal alvo (principal antígeno) o citocromo P450 2D6 (CYP2D6), presente no fígado.
Assim, apesar de estar presente nos rins, os principais danos são causados no fígado.
Quais os valores de referência para o anticorpo anti-LKM1?
Como citamos, deve-se solicitar o exame de anti LKM1 diante da suspeita de hepatite autoimune, bem como na investigação etiológica de hepatopatia crônica.
Para ser considerado um teste negativo, a amostra deve ser não reagente. Considera-se um resultado anti-LKM-1 positivo usualmente com valores de título ≥ 1:40 (ou seja, 1:40, 1:80 etc.).
Lembrando que, em conjunto, os demais autoanticorpos envolvidos com hepatite autoimune também são solicitados – FAN (fator antinuclear), ASMA (Antimúsculo liso), p-ANCA.
Leia também: Entendendo de uma vez por todas o fator antinuclear (FAN).
Como fazer o diagnóstico da Hepatite Autoimune?
A hepatite autoimune é a inflamação do fígado decorrente da produção de autoanticorpos contra células hepáticas. A prevalência é de cerca de 15 casos para cada 100.000 pessoas, sendo mais comum em mulheres.
Deve-se suspeitar dessa doença principalmente em mulheres jovens com sinais/sintomas compatíveis.
Os exames laboratoriais tipicamente refletem um dano hepático com elevação de aminotransferases (geralmente entre 100-1000 U/l), hipoalbuminemia, hiperbilirrubinemia direta (valores entre 3 e 10mg/dl). Um achado laboratorial típico é a hipergamaglobulinemia (> 2,5 g/dl). A partir disso, o diagnóstico se baseia em achados sorológicos e histológicos característicos:
Autoanticorpos: FAN, ASMA, p-ANCA, anti-LKM.
Biópsia hepática: apesar de não ser sempre necessárias, guidelines europeus (2015) orientam a realização de rotina – o achado típico é de “hepatite de interface”.
Diante de achados compatíveis, com exclusão de outras causas, o diagnóstico é feito.
Em casos de dúvida, podemos lançar mão de um score simplificado que facilita a confirmação. Segundo esse score, 6 pontos refletem um diagnóstico provável, e valores ≥ 7 pontos refletem um diagnóstico definitivo. Para chegar ao valor, devemos somar os achados dos itens a seguir:
- Autoanticorpos. Valores de título ≥ 1:40 = 1 ponto. Valores de título ≥ 1:80 = 2 pontos.
- Níveis de IgG. Valores acima do limite superior de normalidade = 1 ponto. Valores acima de 1,1 vezes o limite superior de normalidade = 2 pontos.
- Histopatologia. Achados compatíveis = 1 ponto. Achados típicos= 2 pontos.
- Ausência de hepatite viral= 2 pontos.
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Referências:
Muratori, L., Deleonardi, G., Lalanne, C., Barbato, E., Tovoli, A., Libra, A., Lenzi, M., Cassani, F., & Muratori, P. (2015). Autoantibodies in Autoimmune Hepatitis. Digestive diseases (Basel, Switzerland), 33 Suppl 2, 65–69. https://doi.org/10.1159/000440748
Lapierre, P., & Alvarez, F. (2022). Type 2 autoimmune hepatitis: Genetic susceptibility. Frontiers in immunology, 13, 1025343. https://doi.org/10.3389/fimmu.2022.1025343
Heneghan, MA -Autoimmune hepatitis: Clinical manifestations and diagnosis. In: UpToDate, Post TW (Ed), UpToDate, Waltham, MA.
Johanet, C., & Ballot, E. (2013). Autoantibodies in autoimmune hepatitis: anti-liver kidney microsome type 1 (anti-LKM1) and anti-liver cytosol type 1 (anti-LC1) antibodies. Clinics and research in hepatology and gastroenterology, 37(2), 216–218. https://doi.org/10.1016/j.clinre.2013.02.004