A hipóxia é tradicionalmente associada a condições patológicas como a apneia obstrutiva do sono. Por outro lado, a técnica de hipóxia intermitente por vezes é utilizada por atletas para melhorar o desempenho físico.
Será que podemos elencar alguns benefícios da hipóxia? Seria possível definir uma “dose” de hipóxia que seja segura?
O que é a técnica de Hipóxia Intermitente?
A técnica de hipóxia intermitente refere-se a um método que alterna períodos de exposição a condições de baixa oxigenação (hipóxia) com períodos de oxigenação normal.
A técnica tem sido estudada tanto por seus potenciais benefícios quanto riscos à saúde. Diversos estudos sugerem que essa técnica pode ser utilizada como uma intervenção não farmacológica para melhorar a saúde e o desempenho físico, mas os riscos também são amplamente influenciados pela intensidade, duração e frequência das exposições.
Nessa revisão, vamos falar um pouco dos achados em artigos científicos que mostram tanto os riscos quanto os benefícios da hipóxia intermitente.
Efeitos cardiovasculares
A hipóxia pode induzir vasoconstrição pulmonar, levando à hipertensão pulmonar, especialmente em populações vulneráveis, como crianças com doenças respiratórias.
Em adultos, exposições severas ou prolongadas à hipoxia podem resultar em alterações hemodinâmicas adversas e aumento do risco de doenças cardiovasculares.
Por outro lado, segundo alguns autores, a hipóxia intermitente pode induzir adaptações benéficas no sistema cardiovascular, melhorando a função endotelial e reduzindo o risco de disfunção endotelial, o que pode ser particularmente útil em atletas de elite.
Além disso, estudos indicam que a hipoxia crônica pode ter efeitos benéficos na função cardíaca após um infarto, melhorando a fração de ejeção e a hemodinâmica, embora possa ter efeitos adversos leves na circulação pulmonar.
Impactos neurológicos
Em neonatos, eventos frequentes de hipoxemia intermitente estão associados a desfechos neurológicos adversos, incluindo atrasos cognitivos e motores. Isso é particularmente preocupante em prematuros, onde a hipoxia pode afetar o desenvolvimento cerebral e a função respiratória.
No entanto, a hipóxia intermitente monitorada tem mostrado potencial para proteger contra danos cerebrais hipóxico-isquêmicos, promovendo a angiogênese funcional e melhorando a microcirculação cerebrovascular, sem comprometer a integridade da barreira hematoencefálica.
Um estudo recente também aponto que na presença de hipóxia de intensidade leve, há uma “tentativa de resolução” pelo SNC, conferindo neuroproteção e neuroplasticidade.
Efeitos metabólicos e imunológicos
Alguns estudos apontam que a hipóxia intermitente pode modular o estresse redox e os processos inflamatórios associados ao metabolismo lipídico, ativando respostas antioxidantes e anti-inflamatórias, o que pode ser benéfico em ambientes de alta altitude.
Porém, protocolos de hipóxia mais severos podem desencadear respostas desencadear respostas inflamatórias e estresse oxidativo mais intensos, potencialmente levando a condições como resistência à insulina e esteatohepatite.
Outros efeitos da hipóxia
A exposição à hipoxia pode melhorar a capacidade de resistência, possivelmente através da remodelação da microbiota intestinal e aumento da produção de ácidos graxos de cadeia curta, que estão associados à biogênese mitocondrial e ao desempenho físico.
Um estudo de 2014 já mostrou que a hipóxia intermitente leve pode aumentar a capacidade respiratória, por induzir mecanismos de plasticidade dos motoneurônios respiratórios. Já a hipoxia crônica pode levar a adaptações que, embora inicialmente protetoras, podem resultar em doenças, como a síndrome da doença de montanha crônica.
É importante ressaltar que, embora a hipoxia possa ter benefícios potenciais, sua aplicação clínica deve ser cuidadosamente controlada para evitar riscos associados à exposição inadequada ao baixo nível de oxigênio. A segurança e eficácia dependem de uma compreensão detalhada das características de cada protocolo, como a severidade da hipoxia e o número de episódios por dia.
Afinal, a técnica de hipóxia pode ter benefícios?
A técnica de hipóxia intermitente é uma abordagem promissora que está sendo explorada para diversas aplicações clínicas e fisiológicas, com evidências emergentes de seus benefícios potenciais em diferentes contextos.
Porém, para maximizar os benefícios e minimizar os riscos, é crucial que a técnica seja administrada sob protocolos cuidadosamente controlados, com exposições moderadas e agudas sendo mais propensas a efeitos benéficos sem patologia significativa.
A aplicação clínica da hipóxia intermitente deve ser feita com cautela, considerando as características individuais dos pacientes e as condições específicas de saúde.
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Referências:
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