A intoxicação por naftalina ocorre quando uma pessoa é exposta a quantidades tóxicas dessa substância química – que quando ingerida, inalada ou absorvida pela pele, pode causar efeitos adversos no organismo.
Por ser produzida em formato de “bolinhas”, a naftalina pode ser facilmente confundida com balas e serem ingeridas por crianças. Cada bolinha tem cerca de 2-5 gramas, e a dose letal de naftaleno para crianças é estimada em 2-3 g – ou seja, ingerir só uma bolinha já tem potencial fatal. Dessa forma, é essencial realizar um diagnóstico e tratamento da intoxicação por naftalina o quanto antes.
A Naftalina pode ser absorvida via oral, inalatória ou dérmica
A naftalina (ou naftaleno), é um hidrocarboneto aromático, cuja fórmula molecular é C10H8. É uma substância cristalina branca, volátil, com um odor característico. Tem a característica de sublimar (passar diretamente do estado sólido para o gasoso). É obtido principalmente a partir do petróleo.
A naftalina é utilizada geralmente como pesticida doméstico, pois o gás que libera faz com que insetos se afastem. Além de repelente de traças e baratas, a naftalina pode ser usada como desinfetante sanitário, no controle de pragas de solos e em manufaturas de tintas.
A naftalina tem rápida absorção oral, sendo a ingestão o principal mecanismo tóxico. É também absorvida via inalatória ou dérmica – mecanismo mais comum durante sua produção em indústrias petroquímicas.
De toda forma, quando absorvida, leva a importante irritação do trato gastrointestinal e do sistema nervoso central por irritação direta, podendo ainda causar hemólise, formação de meta-hemoglobina e insuficiência renal.
Estima-se que a dose letal de naftaleno seja 5-15 gramas para adultos, e 2-3 gramas para crianças. No entanto, segundo um estudo recente, nem todos os produtos são 100% naftaleno – podendo conter outras substâncias menos tóxicas associadas.
Como identificar um paciente com Intoxicação por Naftalina?
Como citamos, na maioria das vezes, a intoxicação vai ser decorrente da ingestão desses compostos. O diagnóstico de intoxicação por naftalina é prioritariamente clínico, pautado na história e exame clínico do paciente. É possível solicitar dosagem urinária da naftalina, porém esse exame não está disponível em todos os hospitais.
Os sinais/sintomas principais incluem: irritação gastrointestinal e/ou do sistema geniturinário, sudorese excessiva, hiperexcitabilidade, letargia e convulsões. Pode evoluir com insuficiência renal e/ou coma.
Os achados laboratoriais da intoxicação por naftalina são inespecíficos. De forma geral, podemos evidenciar anemia microcítica microcrômica com reticulócitos acima de 2%, bilirrubina indireta aumentada, LDH elevada e ureia e creatinina aumentas.
Como tratar Intoxicação por Naftalina?
Não há um tratamento para intoxicação por naftalina que seja específico, sendo o suporte clínico a principal abordagem.
Os pacientes devem receber monitorização contínua de dados vitais e controle hidroeletrolítico adequado, com hidratação endovenosa se necessário. Também é essencial manter controle de vias áreas e saturação, provendo via aérea definitiva (p.ex. intubação orotraqueal) quando aplicável.
Além disso, é essencial realizar a descontaminação. Em caso de exposição ocular ou dermatológica à naftalina, lavar a região abundantemente com água fria por 15-20 minutos.
Em casos de ingestão de naftalina nas últimas 2 horas, procede-se à lavagem gástrica – manter o paciente em Trendelenburg (pernas elevadas em 45°), e decúbito lateral esquerdo, para evitar broncoaspiração. Após isso, passar uma sonda nasogástrica, e administrar e aspirar 300 mL de soro fisiológico 0,9%, perfazendo um total de 5 Litros.
Importante ressaltar que em pacientes que estão com nível de consciência rebaixado ou sedados, esse procedimento só poderá ser feito caso o paciente esteja entubado.
Uma outra opção é a utilização de carvão ativado via oral ou via sonda nasogástrica – no entanto, não é muito recomendada.
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Referências:
Velez, LI. – Approach to the child with occult toxic exposure. In: UpToDate, Post TW (Ed), UpToDate, Waltham, MA.
Nascimento SN, Michel RV, Santos BP, Scola BT, Rosa JP, Sebben VC. Profile of cases of mothball poisoning attended at the Centro de Informação Toxicológica do Rio Grande do Sul (CIT-RS) between 2005 and 2023. RBAC. 2024;56(2):105-112.