Todos os pacientes que convivem com HIV devem ser tratados de forma precoce e adequada, visando uma sobrevida semelhante à de indivíduos não infectados. Embora os medicamentos antirretrovirais sejam disponíveis de forma gratuita pelo Ministério da Saúde, a necessidade de uso diário (por vezes a cada 8 horas) aumenta as chances de o paciente esquecer ou não aderir ao tratamento corretamente.
Dessa forma, uma opção viável e recente para o tratamento de HIV é a combinação de cabotegravir e rilpivirina injetáveis, de uso mensal ou a cada 2 meses.
Veja mais como funcionam esses medicamentos, e como orientar o uso aos pacientes.
A cada ano que se passa, descobre-se que o HIV causa mais do que uma simples queda de imunidade: independentemente da quantidade de CD4 do paciente, o vírus por meio de uma “infecção crônica” leva ao envelhecimento celular precoce e danos em órgãos alvos (rins, coração, cérebro, pulmão).
Por isso, seguindo uma tendência mundial, o Ministério da Saúde orienta o tratamento para todos os pacientes com HIV / AIDS – sintomáticos ou não. O uso da TARV (terapia antirretroviral) está associada com diversos benefícios tanto para o paciente, quanto para o sistema de saúde. Há melhora da sobrevida do paciente e redução da transmissão viral.
São diversas as opções para a TARV e os medicamentos são disponíveis de forma gratuita no Brasil. No entanto, a necessidade de uso diário pode dificultar a adesão ao tratamento.
Cabotegravir e Rilpivirina: uma combinação eficaz contra o HIV
Recentemente foram aprovadas duas drogas para uso em pacientes com HIV: o Cabotegravir (Vocabria®) e a Rilpivirina (Rekambys®).
O cabotegravir é um antirretroviral que se liga ao sítio ativo da integrase e inibe a etapa de transferência de fita da integração do DNA do HIV-1, necessária para o ciclo de replicação do HIV. Já a rilpivirina é um antirretroviral do tipo não nucleosídeo, inibidor da enzima transcriptase reversa – bloqueia a atividade enzimática e impede a replicação viral.
Como prescrever?
Ambos os medicamentos estão disponíveis para uso via oral ou injetável. O tratamento inicia com comprimidos via oral todos os dias, a fim de avaliar a tolerabilidade do paciente. No entanto, o objetivo é manter o uso de cabotegravir e rilpivirina via intramuscular a cada 1-2 meses.
Indução oral: 30 mg cabotegravir + 25 mg rilpivirina via oral, uma vez ao dia, por pelo menos 28 dias. Após esse período, orienta-se a troca para o uso via intramuscular.
Tratamento intramuscular inicial: iniciar com 3 mL de cada uma das soluções injetáveis via intramuscular (3 mL (600 mg) de cabotegravir + 3 mL (900 mg) de rilpivirina). Após 30 dias, uma nova dose de 2 mL deve ser administrada (2 mL (400 mg) de cabotegravir + 2 mL (600 mg) de rilpivirina).
Manutenção intramuscular: após as doses iniciais, manter o tratamento mensal ou a cada 2 meses, sendo:
Mensal = 2 mL (400 mg) de cabotegravir + 2 mL (600 mg) de rilpivirina.
Bimestral = 3 mL (600 mg) de cabotegravir + 3 mL (900 mg) de rilpivirina.
Caso o paciente faça uma troca de terapia (mensal à bimestral, ou bimestral à mensal), é necessário realizar um ajuste para manutenção da eficácia terapêutica, com uma dose extra administrada. De forma resumida, o intervalo é mantido e a dose aumentada/reduzida. Por exemplo:
Se o paciente usava 2 mL de cada droga a cada 30 dias e agora vai ser a cada 2 meses, mantemos o tempo inicial por uma dose (30 dias), mas já com dose alta (3 mL). A partir disso, segue o tratamento bimestral regular.
Esquecimento de dose: como lidar?
É essencial que o paciente tenha um acompanhamento adequado e possa se comprometer a evitar esquecimentos de dose, para manter a eficácia terapêutica. Além disso, o uso inadequado dos medicamentos para HIV pode causar resistência e dificultar o tratamento.
Caso ocorra esquecimento, as orientações são as seguintes:
- Atraso dos comprimidos: tomar assim que lembrar. Porém, se o esquecimento for > 12 horas, pular a dose esquecida e tomar apenas a de horário. Não dobrar a dose para compensação.
- Atraso da injeção: se for em até 7 dias, administrar assim que lembrar. Se passar de 7 dias, recomenda-se realizar um tratamento via oral de suporte com 25 mg de rilpivirina + cabotegravir 30 mg em comprimidos, uma vez ao dia, por 2 meses consecutivos.
E como retomar as injeções?
- Se o paciente só tomou a primeira injeção e perdeu a segunda, até 2 meses, e faz uso mensal: continuar o esquema uma vez ao mês.
- Se o paciente só tomou a primeira injeção e perdeu a segunda, passando mais de 2 meses da última dose: reiniciar o tratamento com 3 mL de cada droga via intramuscular.
- Se o paciente perdeu da terceira injeção em diante, em até 3 meses: reiniciar o tratamento.
- Se o paciente perdeu da terceira injeção em diante, e mais de 3 meses: recomeçar o tratamento injetável e oferecer dose adicional de 3 mL de cada droga após 30 dias. Em seguida, retomar ao esquema original.
Saiba mais com WeMEDS®
Quer saber mais sobre a bula destes medicamentos e outros, bem como a conduta completa em pacientes com HIV / AIDS? Acesse o conteúdo completo no nosso aplicativo WeMEDS®. Disponível na versão web ou para download para iOS ou Android.
Referências:
Vocabria®. GlaxoSmithKline Brasil Ltda. 2024.
REKAMBYS®. Janssen-Cilag International NV. 2024.
UpToDate®. Rilpivirine: Drug information. 2024.
UpToDate®. Cabotegravir: Drug information. 2024.
Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa. REKAMBYS® (Rilpivirina): novo registro. Publicado em 20/05/2024.