Na semana passada, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) emitiu uma nota informando que está revisando dados sobre o risco de pensamentos suicidas e de automutilação com o uso de Semaglutida (Ozempic®) e Liraglutida (Saxenda®).
Essa notícia teve ampla repercussão na área médica, visto que são medicamentos amplamente utilizados na endocrinologia para perda de peso e diabetes tipo 2.
Veja mais sobre a declaração da EMA e revise os mecanismos de atuação dos medicamentos na diabetes tipo 2 e na obesidade.
Revisão de dados de segurança pela EMA
Segundo o comitê de segurança da EMA, há uma revisão em andamento quanto aos riscos de pensamentos suicidas e de automutilação com medicamentos agonistas do receptor GLP-1, como Ozempic® e Saxenda®.
A agência informa que houve sinalização de pensamentos suicidas e de automutilação em 3 pacientes em uso de análogos de GLP-1 na Islândia – dois em uso de semaglutida, um em uso de liraglutida.
Essa revisão está sendo realizada no contexto de um procedimento de sinalização, ou seja, um evento adverso novo foi sinalizado, e que justifica uma investigação mais profunda. No entanto, a EMA destaca que “a presença de um sinal não significa necessariamente que um medicamento causou o evento adverso em questão”.
É importante lembrar que os medicamentos são aprovados e seguros para uso, e que o processo de revisão atual faz parte da farmacovigilância pós-comercialização. O Comitê de Avaliação de Risco de Farmacovigilância é o responsável por avaliar todos os aspectos do risco de medicamentos para uso humano.
A farmacovigilância para esses dados começou no início de julho, e tem previsão de conclusão até novembro. Estão sendo analisados cerca de 150 relatórios, mas não está claro se os relatos estão ligados aos medicamentos ou às condições subjacentes dos pacientes.
Ozempic e Saxenda para diabetes tipo 2 e obesidade
A semaglutida (Ozempic®, Wegovy®) e a liraglutida (Saxenda®) são agonistas seletivos do receptor do peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP-1).
O GLP-1 é um hormônio secretado por células enteroendócrinas no íleo e cólon. A função dele é aumentar a secreção de insulina pelo pâncreas, diminuir a secreção de glucagon, bem como aumento das células beta pancreáticas e aumento da sensação de saciedade.
Os medicamentos são indicados para o tratamento de diabetes tipo 2 e perda e controle de peso em pacientes com IMC > 27 kg/m².
Os efeitos secundários mais frequentes associados aos medicamentos são náuseas, vômitos, diarreia e constipação, e todos são considerados controláveis.
O Ozempic® demonstrou ser eficaz no controle dos níveis de glicose no sangue, bem como apresentou benefícios no controle de peso, o que é considerado positivo em pacientes com diabetes. A droga também foi eficaz na redução de complicações graves associadas, como ataque cardíaco e derrame.
Da mesma forma, os estudos mostram que os benefícios do uso de Saxenda® são maiores que seus riscos, e por essa razão o medicamento segue aprovado pela EMA desde 2015.
Obesidade e depressão: uma relação bidirecional
Um ponto importante que pode ser destacado nessa discussão é que tanto a depressão quanto a obesidade são condições comuns e que tendem a ocorrer simultaneamente entre os indivíduos.
Diversos estudos já mostraram que a relação entre essas condições é bidirecional: a presença de uma aumenta o risco de desenvolver a outra. Sabemos que a alimentação não saudável, acúmulo de gordura visceral, disfunções metabólicas e inflamação podem aumentar o risco de sintomas depressivos e ansiosos.
Para alguns pacientes, a busca pela medicação pode ser uma alternativa excelente para a perda de peso, mas não soluciona as questões psiquiátricas adjacentes. É essencial mantermos a monitorização adequada durante todo o tratamento, e lembrar que cada paciente é único e deve ter sua terapia individualizada.
Segundo o Dr. John Buse, médico e pesquisador da Universidade de Medicina da Carolina do Norte, “as pessoas que estão deprimidas e infelizes com seu peso procuram a intervenção para perda de peso para resolver seu desespero. Se esse desespero não desaparecer com o tratamento, pensamentos de suicídio ou automutilação podem ser o resultado”.
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Referências:
EUROPEAN MEDICINES AGENCY. EMA statement on ongoing review of GLP-1 receptor agonists. News 11/07/2023. https://www.ema.europa.eu/en/news/ema-statement-ongoing-review-glp-1-receptor-agonists
Michael O’Riordan. TCTMD. EMA Investigating Suicidal Thinking With GLP-1 Drugs for Weight Loss. News 12/07/2023. https://www.tctmd.com/news/ema-investigating-suicidal-thinking-glp-1-drugs-weight-loss
Milaneschi Y, Simmons WK, van Rossum EFC, Penninx BW. Depression and obesity: evidence of shared biological mechanisms. Mol Psychiatry. 2019 Jan;24(1):18-33. doi: 10.1038/s41380-018-0017-5.