Riscos do uso indevido de Ritalina devem ser mais claros na bula, exige FDA

uso indevido de ritalina

A base farmacológica no tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é o uso de estimulantes do Sistema Nervoso Central, como o Metilfenidato (Ritalina®). Quando prescritos adequadamente, auxiliam a reduzir a impulsividade e a hiperatividade e aumentar a atenção nestes pacientes. Porém, com o uso indevido, apresentam alto risco de abuso e dependência.

A fim de lidar com as preocupações contínuas do uso indevido, abuso, dependência e overdose de estimulantes, a Food and Drug Administration (FDA) emitiu um comunicado, exigindo atualizações nas embalagens dos medicamentos, incluindo a Ritalina®, visando garantir que as informações sejam consistentes com os riscos.

Comunicado da FDA: as bulas dos medicamentos precisam informar melhor os riscos!

Segundo a agência reguladora, as informações disponíveis atualmente nas bulas dos medicamentos para TDAH (como a Ritalina) não fornecem avisos suficientemente atualizados quanto aos danos do uso indevido e abuso.

Inclusive, uma das preocupações citadas é quanto ao uso compartilhado. Muitos indivíduos que usam tais estimulantes de forma inadequada, ainda que prescritos, compartilham com membros da família ou colegas – 80% do uso não médico é de fonte compartilhada.

Compartilhar esses medicamentos com pessoas que não passaram por uma avaliação médica prévia pode aumentar o risco de desenvolvimento de transtorno de abuso de substâncias, surtos psicóticos, crises depressivas e outros eventos adversos graves.

De forma prática, quais as recomendações?

A recomendação da FDA é que, em breve, as bulas informativas sejam atualizadas considerando os riscos de forma bem evidente.

Na bula para o profissional de saúde, deve-se incluir a necessidade de monitorização cautelosa dos pacientes quanto a sinais/sintomas de uso indevido de estimulantes, tolerância, abuso e dependência. É necessário também um item adicional de como identificar e lidar com overdose.

Também deve ser atualizado cada item que considera o abuso de estimulantes apenas com “uso prolongado”, pelos riscos não só dessa forma. Os folhetos informativos devem incluir claramente a informação de nunca compartilhar, e os riscos associados.

Por fim, é necessário relembrar que o médico prescritor deve aconselhar seus pacientes que não compartilhem nenhum de seus remédios! Precisamos estar sempre atentos, monitorando os sinais e sintomas de desvio, como a solicitação de receitas com mais frequência do que o necessário.

uso indevido de anfetaminas

A promessa de melhora no desempenho cognitivo é verdadeira?

As anfetaminas representam uma classe de medicamentos psicoativos, amplamente utilizadas no tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). No entanto, o uso não médico é amplamente difundido – especialmente na área médica.

Altos níveis de estresse e a natureza exigente das faculdades de medicina tornam seu uso particularmente comum entre estudantes. Prolongar o tempo de vigília, manter o foco por períodos maiores e conseguir estudar antes de provas importantes são as “promessas” do uso ocasional.

O mesmo ocorre com médicos plantonistas, na necessidade de manter-se atento por 12, 24, 36 horas. Quando o uso da Ritalina® é associado ao café ou uma bebida energética, então…

Porém, os efeitos potencialmente positivos logo são ofuscados pelos efeitos colaterais negativos, bem como pela dosagem incorreta. As elevações específicas induzidas por estimulantes na dopamina cerebral parecem ser essenciais tanto para a eficácia no TDAH quanto para o potencial de abuso. Com isso, o uso “ocasional” passa a ser crônico, levando ao abuso, tolerância e dependência.

uso indevido de Ritalina

E lembrando: além dos riscos, nem sempre funciona!

O uso de estimulantes, seja café, bebidas energéticas ou anfetaminas, por vezes seduz com a ideia de que eles podem aumentar muito sua capacidade cognitiva em um curto período e com o mínimo de esforço. Porém, vamos com calma.

Os estimulantes podem sim fornecer certos benefícios, quando usados em pequenas doses e com moderação. Porém, rapidamente os riscos superam os benefícios – especialmente quando falamos de medicamentos.

Muitos estudos mostram que, embora essas drogas aumentem o foco, aqueles que usam anfetaminas não têm um índice de desempenho escolar mais alto do que os não usuários. Ainda, os trabalhos sugerem que o uso excessivo de estimulantes resulta em diminuição da qualidade e quantidade do sono, o que pode levar ao aumento da fadiga.

O mais eficaz é promover hábitos sustentáveis e produtivos, realizar atividades que apoiem o desempenho cognitivo sem o uso de estimulantes e manter o uso apenas para os pacientes de, de fato, se beneficiam.

Referências:

U.S. Food and Drug Administration. FDA updating warnings to improve safe use of prescription stimulants used to treat ADHD and other conditions. https://www.fda.gov/drugs/drug-safety-and-availability/fda-updating-warnings-improve-safe-use-prescription-stimulants-used-treat-adhd-and-other-conditions?utm_medium=email&utm_source=govdelivery

Plumber N, Majeed M, Ziff S, Thomas SE, Bolla SR, Gorantla VR. Stimulant Usage by Medical Students for Cognitive Enhancement: A Systematic Review. Cureus. 2021 May 22;13(5):e15163. doi: 10.7759/cureus.15163. PMID: 34178492; PMCID: PMC8216643.

Clemow DB, Walker DJ. The potential for misuse and abuse of medications in ADHD: a review. Postgrad Med. 2014 Sep;126(5):64-81. doi: 10.3810/pgm.2014.09.2801. PMID: 25295651.

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