Doença do Refluxo Gastroesofágico em crianças: diagnóstico e tratamento

O refluxo gastroesofágico (RGE) é definido como a passagem involuntária do conteúdo gástrico para o esôfago, apresentando ou não regurgitação ou vômitos. Trata-se de uma condição fisiológica em recém-nascidos, e pode ocorrer várias vezes ao dia, em maioria no período pós prandial e de maneira assintomática.

Diferente desta condição, temos a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE), que ocorre quando o refluxo do conteúdo gástrico provoca sintomas ou complicações como: incapacidade de crescimento, problemas de alimentação ou sono, esofagite, apneia, entre outros.

Veja mais sobre os principais sintomas, como diagnosticar, como e quando tratar a DRGE em crianças.

Apresentação Clínica (principais sintomas) e diagnóstico

Regurgitação e vômitos: são os sintomas mais comuns na RGE infantil, caracterizados como uma regurgitação indolor e sem esforços. Em casos de asfixia, engasgamentos, tosse durante alimentação ou irritabilidade, deve-se ficar alerta para possível DRGE.

Choro inexplicável e comportamento de angústia: foi demonstrado que o choro dos bebês está associado a episódios de refluxo durante a monitorização por vídeo por sonda de pH esofágico. Um estudo aponta que a DRGE foi encontrada em 66% dos bebês irritáveis.

Insuficiência de crescimento ou pouco ganho de peso: esses sintomas constituem sinais de alerta para DRGE, onde deve ser obtida uma anamnese alimentar detalhada, incluindo frequência de mamadas, quantidade de alimentos ingeridos e comportamento de sucção e deglutição do bebê.

bebê chorando com doença do refluxo gastroesofágico

E como diagnosticar?

O diagnóstico de DRGE sem complicações normalmente é feito com história e um exame físico detalhado. Em apresentações atípicas são indicadas outras avaliações diagnósticas, que podem incluir: radiografia, endoscopia com biópsia esofágica, pHmetria esofágica.

 

Tratamento

De maneira geral, um paciente pediátrico com RGE não deve ser tratado com medicamentos, a exceção quando este é comprovadamente patológico. No caso da DRGE, deve-se tratar, com objetivo de aliviar sintomas e prevenir complicações. Porém, o tratamento de DRGE em crianças se mostra muito inconstante quanto a evidências científicas.

No geral é possível dividir o tratamento em 3 formas: não medicamentoso, medicamentoso e cirúrgico.

Tratamento não medicamentoso

É considerada a primeira linha no tratamento e podem ser ensinadas aos pais para diminuir o tratamento medicamentoso desnecessário. Recomenda-se fracionar as mamadas, dando menor volume por vez e com menor intervalo entre elas. Acertar a técnica da mamada, para evitar deglutição de muito ar, e deixar arrotar bem antes de colocar na posição adequada.

RGE em crianças

Tratamento medicamentoso

Os medicamentos atualmente utilizados para tratar a DRGE em bebés são agentes tamponantes do ácido gástrico, barreiras de superfície da mucosa, agentes anti-secretores gástricos e agentes procinéticos.

Tratamento cirúrgico

A cirurgia da DRGE, quando bem indicada, previne as consequências crônicas da presença do ácido no esôfago, melhorando a qualidade de vida do paciente. Várias técnicas cirúrgicas têm sido utilizadas, mas a fundoplicatura de Nissen é a mais frequentemente realizada na faixa etária pediátrica.

 

Quais as maiores dificuldades no diagnóstico da Doença do Refluxo Gastroesofágico em bebês?

Em 2018, a Sociedade Norte-Americana de Gastrenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátricas junto com a Sociedade Europeia de Gastrenterologia Pediátrica Hepatologia e Nutrição publicaram diretrizes sobre a abordagem das crianças que apresentem RGE ou DRGE. Entretanto, é necessária mais investigação, uma vez que estas diretrizes não são totalmente claras quanto à sua aplicabilidade a bebês na UTI neonatal.

Os bebês na UTI neonatal que apresentem sinais onde se suspeite de uma possível DRGE devem ser cuidadosamente avaliados para detectar quaisquer achados sugestivos de outras condições não associadas à DRGE. Podemos ver que uma variedade de sintomas clínicos é atribuída à DRGE em recém-nascidos, no entanto, a confiabilidade destes sintomas como manifestação da DRGE não é clara.

A avaliação de um recém-nascido com suspeita de DRGE começa com uma história clínica completa e um exame físico. A avaliação deve ser efetuada através de um exame completo, prestando atenção aos sistemas faringoesofágico, cardiorrespiratório e neurológico, à nutrição, aos métodos de alimentação e às características de crescimento.

Em particular, a avaliação deve prestar atenção a sinais e sintomas de problemas aerodigestivos, sinais comportamentais inespecíficos, incluindo arqueamento e irritabilidade, e problemas de alimentação que possam estar associados à DRGE. Para que isso seja feito, é de grande importância excluir sinais e sintomas que mascarem a DRGE.

DRGE em crianças

Para o tratamento se preconiza inicialmente a alimentação, com foco em atenção à nutrição e a continuidade da amamentação. Na ausência de melhora, pode ser utilizada uma fórmula a base de proteínas e aminoácidos; na falha desta é recomendado testes de especialidade gastrointestinal, monitorando o pH e correlacionando com sintomas, ou fazer de uso da manometria para detectar anomalias faringoesofágicas.

Na falta de exames especializados, pode-se considerar o uso de inibidores de bomba de prótons em um período de 4 a 8 semanas.

 

Considerações finais

Podemos ver que o diagnóstico de DRGE em recém-nascidos representam um desafio, uma vez que sua apresentação clínica não são típicas como nos adultos, o diagnóstico baseado em sintomas e as terapêuticas empíricas não são adequadas no caso. É de grande importância que sempre sejam abordadas anomalias estruturais e fatores de risco para DRGE.

Uma vez que os sintomas são inespecíficos, devem ser consideradas outras etiologias e diagnósticos que se mascaram de DRGE. Minimizar a utilização e a duração das terapêuticas supressoras de ácido é adequada, ponderando os benefícios e os riscos.

É extremamente necessária maior investigação nesta população de alto risco (bebés recém-nascidos), com relevância para o rastreio, algoritmos de diagnóstico, critérios objetivos e abordagens não farmacológicas e farmacológicas para gerir a DRGE objetivamente determinada como ácida ou não ácida ou as suas consequências.

 

Referências:

Czinn SJ, Blanchard S. Gastroesophageal reflux disease in neonates and infants : when and how to treat. Paediatr Drugs. 2013 Feb;15(1):19-27. doi: 10.1007/s40272-012-0004-2. PMID: 23322552.

Gulati IK, Jadcherla SR. Gastroesophageal Reflux Disease in the Neonatal Intensive Care Unit Infant: Who Needs to Be Treated and What Approach Is Beneficial? Pediatr Clin North Am. 2019 Apr;66(2):461-473. doi: 10.1016/j.pcl.2018.12.012. Epub 2019 Feb 1. PMID: 30819348; PMCID: PMC6400306.

CARNEIRO, Geizi Francisca; SABINO, Lia Lúcia; LUZIA, Débora Maria Moreno. REFLUXO GASTROESOFÁGICO EM CRIANÇAS: UM AREVISÃO DA LITERATURA.

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