Uma pesquisa realizada com mais de 3 mil médicos revelou a influência dos planos de saúde na conduta diária dos profissionais, apontando a pressão envolvida por estas operadoras e limitando a autonomia médica.
A influência dos planos de saúde
A Associação Médica Brasileira (AMP) e a Associação Paulista de Medicina (APM) juntas apresentaram os resultados de uma pesquisa sobre a relação entre médicos brasileiros e planos de saúde.
Foram avaliados mais de 3 mil profissionais (utilizando a ferramenta Survey Monkey) no início desse ano em todo o Brasil. Mais de 80% dos médicos participantes possuíam especialização, sendo Clínica Médica e Ginecologia e Obstetrícia as mais frequentes.
Quando questionados quanto a restrições dos planos para solicitações e autorização de exames, a grande maioria respondeu de forma afirmativa (80,6% para “às vezes” ou “com frequência”). No mesmo sentido, mais da metade dos médicos teve dificuldade para internar os pacientes pelas operadoras.
De forma mais impactante, 53% dos profissionais revelaram tentativas prévias ou interferência nos tratamentos por parte das operadoras de planos de saúde, sendo 12% dos casos acontecendo com frequência. Para a antecipação da alta, o resultado foi bem semelhante.
Outra questão abordada no questionário foi quanto ao reajuste dos planos e o impacto no tratamento do paciente. Quase 90% dos médicos relataram que já tiveram (ou têm) pacientes que abandonaram o tratamento por conta dos valores cobrados pelas empresas.
De todos os médicos participantes, cerca 70% atendem planos de saúde, mais da metade há mais de 20 anos e com pelo menos cinco operadoras diferentes. No entanto, mais da metade atribui notas negativas e se mostra insatisfeito com o serviço.
Quanto à remuneração profissional, a insatisfação é ainda maior. A maioria (65,6%) dos médicos relatou avaliação ruim ou péssima, considerando-se insatisfeitos ou muito insatisfeitos em todos os serviços prestados – consultas, procedimentos, exames e cirurgias.
Como está a fiscalização?
O Programa de Qualificação de Operadoras (PQD) foi desenvolvido pela Agência Nacional de Saúde (ANS) com o objetivo de avaliar e comparar o desempenho das operadoras anualmente, através do Índice de Desempenho da Saúde Suplementar (IDSS) e da Troca de Informações na Saúde Suplementar (TISS).
De forma geral, quatro dimensões são avaliadas: (1) qualidade em atenção à saúde, (2) garantia de acesso, (3) sustentabilidade no mercado e (4) gestão de processos e regulação. Considerando cada item avaliado, cada operadora pode se enquadrar em diferentes categorias de avaliação.
No ano de 2019, apenas cerca de um quartodas empresas avaliadas encontrava-se na melhor faixa de avaliação. Ainda, 33,7% das empresas ficaram na média ou abaixo na pontuação avaliada. Porém, vale notar: estamos observando uma melhora! Em 2017, apenas 11% das empresas apresentavam boa pontuação.
Outro ponto positivo apresentado pelo PQD é quanto a migração dos beneficiários. À medida que as empresas vão sendo avaliadas de forma negativa, o número de beneficiários nos planos de saúde em empresas com notas mais alta aumenta.
Considerações finais
Precisamos destacar que as operadoras de planos de saúde prestam um serviço importante à população, e facilitam seu acesso à saúde. Nós da Equipe WeMEDS® não estamos diminuindo sua importância, tampouco deixando de notar sua eficiência. Ainda, não temos o intuito de emitir qualquer parecer ou incentivar a quebra do vínculo com as empresas.
No entanto, é nosso objetivo divulgar os dados, assim como julgamos importante manter a fiscalização, especialmente em casos em que a empresa pode influenciar o profissional. Os interesses econômicos devem estar desvinculados da conduta médica.
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Referências:
Pesquisa revela que 80,6% dos médicos sofreram pressões e interferências de planos de saúde – Medscape – 1 de abril de 2022.
Relatório do Programa de Qualificação de Operadoras 2020. Ano Base 2019. Índice de Desempenho da Saúde Suplementar IDSS-TISS. ANS.
PESQUISA OS MÉDICOS BRASILEIROS E OS PLANOS DE SAÚDE. AMB. APM.