A exposição pré-natal a medicamentos com risco teratogênico conhecido é uma preocupação significativa, tanto para os pais, quanto para os profissionais prescritores e as agências reguladoras. Por isso, aprendendo com a tragédia da talidomida na década de 1960, as estratégias de gerenciamento de risco utilizadas por agências governamentais para mitigar a exposição pré-natal evoluíram, desde bulas até guias de medicamentos e planos de ação de minimização de risco.
Mas os avanços foram colocados à prova por uma equipe de pesquisadores da University of Florida, que avaliou um número considerável de gestantes e buscou a prevalência de exposição a medicamentos potencialmente nocivos durante a gravidez (teratogênicos, fetotóxicos, embriotóxicos).
Dados alarmantes!
A lista de fármacos investigados incluiu 206 nomes de medicamentos genéricos exclusivos, sendo 141 designados como tendo risco teratogênico já definido e 65 medicamentos designados como tendo risco potencial.
As classes de medicamentos proeminentes no grupo de risco definido incluíram agentes que atuam no sistema renina-angiotensina, certos agentes antiepilépticos, antimicóticos sistêmicos e antineoplásicos. Isotretinoína, sulfametoxazol e varfarina também foram incluídos.
Os medicamentos com risco potencial incluíram medicamentos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), antivirais sistêmicos, betabloqueadores, aminoglicosídeos, antiarrítmicos e imunossupressores prescritos, juntamente com vários agentes individuais (por exemplo, duloxetina, gabapentina, teriflunomida).
A coorte final incluiu 3.445.612 episódios de gravidez, dos quais 2.532.444 (73,5%) episódios tiveram desfechos de nascidos vivos e 913.168 foram abortos (eletivos ou espontâneos), natimortos ou gestações ectópicas.
Os resultados encontrados foram (no mínimo) preocupantes:
- Ao longo dos anos do estudo (2006-2017), um total de 80.800 gestantes tiveram exposição a drogas com risco teratogênico conhecido no período pré-concepcional, 33.483 foram expostas durante o primeiro trimestre (0,97%) e 58.810 foram expostas em qualquer momento da gestação (1,71%).
- Para medicamentos com potencial efeito teratogênico, o estudo identificou 136.740 gestações com exposição no período pré-concepcional (3,97%), 75.249 com exposição durante o primeiro trimestre (2,18%) e 170.106 foram expostas em qualquer momento da gestação (4,94%).
- As gestações que resultaram em parto vivo tiveram menores prevalências de exposição a drogas com risco teratogênico definido ou potencial do que gestações que terminaram com aborto ou natimorto.
- Além disso, gestantes expostas às drogas no primeiro trimestre tiveram menor frequência de partos vivos em comparação com as exposições durante o terceiro trimestre.
Medicamentos listados
Elencamos aqui alguns dos medicamentos citados pelos pesquisadores do estudo como drogas de risco teratogênico definido e risco teratogênico potencial. Para a classificação nestes grupos, foram utilizados os bancos de dados Teratogen Information System® (TERIS) e Clinical Pharmacology®. Apenas os medicamentos disponíveis nos EUA foram incluídos.
Confira as tabelas:
Drogas de risco definido
Drogas de risco potencial
O que esses dados nos dizem?
O objetivo do trabalho foi avaliar a eficácia de políticas públicas no controle de medicamentos durante a gestação. Desta forma, os pesquisadores observaram que a exposição a medicamentos teratogênicos com risco definido diminuiu ligeiramente de 2006 a 2017. Entretanto, a exposição a medicamentos com risco potencial aumentou.
Isso faz com que mais de 1 em cada 16 gestações continuem expostas a drogas com potencial teratogênico.
Por isso, é importante sempre estar atento a medicação de seus pacientes, e conferir as indicações e risco durante a gestação, para garantir que os medicamentos usados não coloquem o feto em risco.
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Referências:
Sarayani A, Albogami Y, Thai TN, Smolinski NE, Patel P, Wang Y, Nduaguba S, Rasmussen SA, Winterstein AG, Prenatal Exposure to Teratogenic Medications in the Era of Risk Evaluation and Mitigation Strategies (REMS), American Journal of Obstetrics and Gynecology (2022), doi: https://doi.org/10.1016/j.ajog.2022.01.004
University of Florida. Study finds 1 in 16 women take harmful drugs during pregnancy. MedicalXPress. Feb 2022.
