Não é novidade que a mudança climática está aumentando os riscos de lesões, doenças e mortes em todo o mundo. Recentemente falamos sobre os impactos diretos do aquecimento global na saúde humana.
Alguns sinais e sintomas também acompanham o aumento da temperatura, como a sudorese induzida pelo calor e a desidratação. E diante deste contexto, manter os rins em pleno funcionamento é essencial.
Funcionamento adequado dos rins
Cerca de 15% da população possui algum nível de alteração da função renal, e permanecem assintomáticos por longos períodos. Embora (em alguns casos) sinais e sintomas possam ser identificados precocemente, a maioria dos sintomas típicos e complicações aparecem apenas em estágios mais avançados.
A ingestão adequada de água pode manter a saúde dos rins. Inclusive, em um artigo anterior nosso comentamos sobre um trabalho que avaliou a quantidade de água ideal para a manutenção das funções renais – nem demais, nem de menos!
Porém, com o aumento da temperatura global, nem sempre nos atentamos a aumentar a ingesta líquida e os riscos de desidratação pode aumentar.
Aumenta a temperatura, aumenta o número de hospitalizações por doenças renais
Um estudo recente avaliou dados de mais de 2.700.000 hospitalizações em decorrência de doenças renais no período de 2000 a 2015. Os pesquisadores identificaram um aumento no número de hospitalizações correlacionado ao aumento da temperatura global.
Para cada aumento de 1ºC na temperatura global, o período de hospitalização poderia aumentar em 0,9%. Esses resultados foram mais incidentes em mulheres e idosos com mais de 80 anos, e em crianças de 0-4 anos, esse aumento foi de até 3,5%!
As doenças renais podem ocorrer como consequência da desidratação ou diminuição do líquido extracelular pelo aumento da temperatura – o que pode estar relacionado aos efeitos da vasopressina, à ativação da via da aldose redutase-frutocinase e aos efeitos da hiperuricemia crônica. De todos os internamentos, cerca de 7% foram identificados em decorrência dos sinais e sintomas causados pelo aumento da temperatura.
A incidência de pielonefrite é maior em mulheres do que em homens. Inclusive, o sexo feminino está entre um dos fatores de risco para o desenvolvimento da doença. Nesse estudo, os pesquisadores evidenciaram que, de fato, a saúde renal das mulheres é mais afetada pelo aumento da temperatura global.
Quando os pesquisadores estratificaram um pouco mais os grupos, observaram que houve um aumento de internações especialmente por doenças renais túbulo-intersticiais associado ao aumento da temperatura global. Enquanto o risco de internamento por pielonefrite aumentou acima da média (1,8% para cada 1ºC), esse dado para insuficiência renal aguda foi de apenas 0,4%.
Nesse caso, os autores justificam que a insuficiência renal aguda de fato pode ocorrer devido à precipitação de mioglobina nos túbulos renais quando os indivíduos são expostos a altas temperaturas; no entanto, também pode ocorrer em outras diversas situações, como em quadro de rabdomiólise por esforço com infecção viral ou bacteriana pré-existente ou uso de analgésicos e AINEs.
Como todo estudo, algumas limitações são apontadas, como não avaliar fatores de influência como poluição do ar ajustada por cidade ou aumento dos níveis de ozônio. Ainda, os dados de insuficiência renal crônica foram um tanto controversos.
No entanto, o número de indivíduos avaliados foi significativamente grande (cerca de 80% da população brasileira!), resultando em uma amostra bastante heterogênea e reduzindo os vieses.
Os danos à saúde causados diretamente pelo aumento da temperatura global são alarmantes, e aqui apresentamos um aumento de hospitalizações por doenças renais. Nesse contexto, sistemas de alerta de calor e medidas preventivas imediatas devem ser implementados para reduzir a mortalidade e morbidade evitáveis.
______________________________________________________________________
Referências: