

O Tracoma é uma doença infecciosa oftálmica, causa pela bactéria Chlamydia trachomatis. A doença é caracterizada por episódios repetidos de inflamação conjuntival, que ocorrem principalmente na infância, levando a cicatrizes na conjuntiva e, eventualmente, ao desenvolvimento de triquíase, onde os cílios se voltam para dentro e arranham a córnea, causando opacificação corneana e perda de visão.
Embora seja a principal causa infecciosa e evitável de cegueira no mundo, é uma doença negligenciada, por ser endêmica em regiões de extrema pobreza e falta de recursos.
Como ocorre o Tracoma?
O tracoma é uma doença infecciosa ocular crônica causada pela Chlamydia trachomatis. Essa patologia representa uma importante causa evitável de cegueira em áreas endêmicas, especialmente em regiões com condições sanitárias precárias.
A transmissão ocorre por contato direto com secreções oculares e nasais de indivíduos infectados, principalmente crianças, sendo também facilitada por vetores mecânicos como moscas, que pousam no rosto, especialmente em áreas com alta densidade populacional e escassez de água.
Na fase inicial, conhecida como tracoma inflamatório ativo, observa-se ceratoconjuntivite folicular, com presença de folículos no fórnix conjuntival superior, hiperemia e infiltrado inflamatório.
Episódios recorrentes de infecção, especialmente durante a infância, são responsáveis por alterações cicatriciais progressivas na conjuntiva palpebral, que evoluem para a fase crônica da doença. Essa cicatrização pode levar à distorção anatômica das pálpebras, particularmente do tarso superior, culminando em triquíase — condição na qual os cílios se projetam em direção à superfície ocular.
A triquíase, frequentemente acompanhada de entrópio palpebral, resulta no atrito constante dos cílios contra a córnea, promovendo ulcerações, vascularização corneana e subsequente opacificação. A opacidade corneana pode ser central e densa, levando à perda visual significativa ou até mesmo à cegueira irreversível.
O diagnóstico clínico do tracoma baseia-se nos critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS), e sua abordagem exige uma combinação de tratamento antibiótico, cirúrgico (para casos de triquíase ou entrópio) e medidas de saúde pública, como melhoria do acesso à água, higiene e controle de vetores.
Como tratar a infecção oftalmológica por Chlamydia trachomatis?
A infecção responde bem a tetraciclinas, macrolídeos e algumas quinolonas. Inicialmente, a Azitromicina 1 g via oral em dose única é eficaz, sendo também a opção mais segura para gestantes. Para crianças, a dose é de 20 mg/kg, também em dose única.
A Doxiciclina é uma alternativa, sendo segura em qualquer idade por até 21 dias – deve ser evitada na gestação (categoria D).
A cegueira por Tracoma é evitável
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a abordagem recomendada para o controle e eliminação do tracoma como causa de cegueira evitável é sintetizada no protocolo SAFE, um acrônimo que representa quatro pilares estratégicos:
S (Surgery) – intervenção cirúrgica para correção da triquíase tracomatosa, a fim de prevenir a progressão para opacificação corneana e cegueira;
A (Antibiotics) – administração de antibióticos, como a azitromicina em dose única, para erradicação da Chlamydia trachomatis e interrupção da cadeia de transmissão;
F (Facial cleanliness) – promoção da higiene facial, especialmente em crianças, visando à redução da carga bacteriana e à diminuição do contato com secreções contaminadas; e
E (Environmental improvement) – ações voltadas à melhoria das condições ambientais, incluindo acesso à água potável, saneamento básico e controle de vetores.
A implementação coordenada e sustentada dessas medidas tem demonstrado eficácia significativa em diversos países endêmicos, contribuindo para a meta global de eliminação do tracoma como problema de saúde pública até 2030.
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Referências:
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Tian, L., & Wang, N. L. (2018). Trachoma control: the SAFE strategy. International journal of ophthalmology, 11(12), 1887–1888. https://doi.org/10.18240/ijo.2018.12.01