Quando pensamos em saúde dos pais e desenvolvimento fetal, qual é a primeira ideia que nos vem à mente? Provavelmente questões como diabetes gestacional, hipertensão e pré-eclâmpsia — todas associadas à mãe. Nesse caso, utilizamos “pais” de forma generalista, para ambos os genitores.
Um estudo recente realizado por pesquisadoras brasileiras mostra que a saúde dos pais (genitores masculinos, e não apenas das mães) desempenha papel crucial no desenvolvimento fetal e na saúde infantil. Segundo as pesquisadoras, há um impacto do IMC paterno no peso do recém-nascido, e o excesso de peso dos pais pode influenciar no tamanho do recém-nascido.
Impacto do IMC paterno no peso do recém-nascido: estudo da USP aponta novas evidências
Um estudo realizado por pesquisadoras da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP identificou uma relação significativa entre o índice de massa corporal (IMC) paterno e o peso do bebê ao nascer.
Publicado no International Journal of Obesity, o estudo aponta que o aumento do IMC dos pais está associado a um menor peso dos recém-nascidos. Este achado reforça que a saúde dos pais, e não apenas das mães, desempenha papel crucial no desenvolvimento fetal e na saúde infantil.
Além do peso, a pesquisa revelou que o aumento do IMC e da circunferência da cintura dos pais também está correlacionado com uma menor circunferência cefálica dos bebês. Embora não tenham sido observadas anomalias, este parâmetro é considerado relevante para o crescimento saudável e merece investigações futuras.
O peso ao nascer é um indicador importante de saúde do bebê
O peso ao nascer é um indicador importante de saúde, tanto na infância quanto na vida adulta. Pesquisas anteriores já demonstraram que bebês com peso abaixo ou acima da média ao nascer têm maior probabilidade de desenvolver doenças crônicas, como diabetes tipo 2, problemas cardiovasculares e até alguns tipos de câncer.
O estudo da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) é parte de uma pesquisa maior apoiada pela Fapesp, que analisou a efetividade do aconselhamento nutricional para gestantes com sobrepeso atendidas em Unidades Básicas de Saúde. Contudo, a nova etapa focou na influência da antropometria paterna no desenvolvimento fetal. Segundo Daniela Saes Sartorelli, professora da FMRP, havia uma lacuna na compreensão do papel paterno nessa equação.
Futuros estudos do grupo investigarão a influência da dieta paterna na adiposidade neonatal, avaliando o consumo de alimentos ultraprocessados e a qualidade das gorduras consumidas pelos pais. Esses fatores podem contribuir para mudanças epigenéticas — modificações no DNA que afetam a expressão dos genes — nos filhos.
Como o excesso de peso e os hábitos de vida influenciam as gerações futuras
O excesso de peso materno já é amplamente reconhecido como uma questão de saúde pública, com impactos diretos na mãe e no bebê. Mulheres com obesidade durante a gestação têm maior risco de diabetes gestacional, hipertensão e pré-eclâmpsia, além de altas taxas de cesarianas. Para os bebês, os riscos incluem nascimento com peso inadequado e propensão a doenças crônicas como obesidade.
Embora as mães tenham uma conexão direta com o feto através da placenta, o peso paterno pode influenciar indiretamente o desenvolvimento fetal por meio de alterações epigenéticas nos espermatozoides.
Estudos com animais já demonstraram que genes transmitidos pelo pai podem interferir no crescimento feto-placentário. Esses estressores ambientais, como dieta inadequada, sedentarismo e tabagismo, alteram a qualidade dos espermatozoides e podem restringir o potencial genético de crescimento do feto.
Essas descobertas evidenciam que tanto pais quanto mães devem adotar estilos de vida saudáveis antes da concepção para promover um desenvolvimento fetal saudável. A epigenética é uma área em expansão que ajuda a compreender como fatores ambientais podem ativar ou silenciar genes, afetando gerações futuras.
Saúde dos pais e desenvolvimento fetal: o peso da responsabilidade ainda é maior para as mulheres
É fundamental que pesquisas evidenciem uma verdade muitas vezes negligenciada: pais e mães, em relações heterossexuais, têm uma responsabilidade compartilhada no crescimento e bem-estar dos filhos.
Embora direitos, posições sociais e rendimentos das mulheres estejam se equiparando aos dos homens, ainda persiste um desequilíbrio significativo na participação masculina no cuidado com os filhos.
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Referências:
Excesso de peso paterno influencia no tamanho de recém-nascidos, aponta estudo. Jornal da USP, 2024.
Carvalho, M.R., Miranda, D.E.G.d.A., Baroni, N.F. et al. Relationship between paternal excessive weight and neonatal anthropometry in a clinical trial of nutritional counseling for pregnant women with overweight. Int J Obes 48, 1831–1838 (2024). https://doi.org/10.1038/s41366-024-01639-8
