Está circulando uma versão não oficial da semaglutida, conhecida como “Ozempic manipulado”. Como o medicamento tem ganhado popularidade por causa do seu uso para emagrecimento, há riscos do uso destas versões manipuladas sem a devida orientação médica.
Ozempic manipulado promete preço reduzido, mas é um medicamento irregular
O medicamento Ozempic® tem como princípio ativo a Semaglutida, um receptor químico do peptídeo semelhante ao glucagon (GLP-1). Sua indicação, em bula, é para tratamento do diabetes tipo 2, porém de forma off-label é utilizada também para tratamento da obesidade.
Além do Ozempic® (injetável nas doses de 0,25 mg, 0,5 mg e 1 mg), a Semaglutida é comercializada no Brasil sob a forma de comprimidos de administração via oral (Rybelsus® 3 mg, 7 mg e 14 mg) ou outra apresentação também injetável, que vai até a doses maiores, e é o único em bula aprovado para o tratamento da obesidade (Wegovy® 0,25 mg, 0,5 mg, 1 mg, 1,7 mg e 2,4 mg).
Devido à crescente popularidade dessa medicação, pelo grande potencial de perda de peso, e devido ao seu custo elevado, algumas farmácias de manipulação tem comercializado “Ozempic manipulado”, muitas vezes custando a metade do valor.
A Novo Nordisk, empresa detentora da patente da Semaglutida até 2026, emitiu comunicado informando que “desconhece a origem das matérias-primas e a forma de fabricação desses produtos”.
Segundo a Anvisa, não existe garantia de eficácia, segurança e qualidade em relação a esses medicamentos que são considerados irregulares. Ainda pior: esse tipo de prática pode causar danos e ameaça à saúde dos usuários.
Os riscos da semaglutida manipulada
Um estudo qualitativo publicado na revista JAMA Network Open avaliou o risco de fornecimento on-line de Semaglutida.
Foram realizadas pesquisas estruturadas no Google e no Bing para identificar sites que anunciavam a compra de Semaglutida sem receita médica. Canetas de 0,25 mg ou frascos com a dosagem equivalente foram solicitados. Depois do recebimento do produto, os autores do estudo utilizaram uma lista de verificação da Federação Farmacêutica Internacional para avaliar potenciais riscos de falsificação.
Os resultados: todas as amostras continham Semaglutida, porém com níveis de pureza consideravelmente mais baixos (7-14% vs. 99% anunciados).
Ainda, o conteúdo de Semaglutida medido excedeu substancialmente a quantidade rotulada em cada amostra em 29% a 39% – o que significa que os usuários podem estar recebendo até 39% a mais da droga por injeção.
O uso de Semaglutida manipulada e sem indicação médica pode levar a efeitos adversos graves e eles são ainda piores com o risco de overdose da medicação. Portanto, não há segurança sobre a procedência desses manipulados.
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Referências:
NOVO NORDISK®. COMUNICADO – PRODUTOS IRREGULARES. Fevereiro, 2024. Disponível em: https://www.novonordisk.com.br/content/dam/nncorp/br/pt/pdfs/pdfs-cominucados/Comunicado-Produtos-Irregulares.pdf. Acessado em 23/09/2024.
Ashraf AR, Mackey TK, Schmidt J, et al. Safety and Risk Assessment of No-Prescription Online Semaglutide Purchases. JAMA Netw Open. 2024;7(8):e2428280. doi:10.1001/jamanetworkopen.2024.28280