Nessa semana, o cantor e compositor Chico Buarque foi submetido a uma cirurgia para o tratamento da Hidrocefalia de Pressão Normal. Essa condição neurológica ocorre devido à dificuldade na drenagem do liquor (líquido cefalorraquidiano), resultando em acúmulo dentro dos ventrículos cerebrais. É uma causa potencialmente reversível de demência, mais frequente em adultos mais velhos.
A seguir, revise os principais aspectos da HPN: fisiopatologia, diagnóstico e opções de tratamento.
Entendendo a Fisiopatologia da Hidrocefalia de Pressão Normal
A Hidrocefalia de Pressão Normal (HPN), ou Hidrocefalia Normobárica, é uma condição neurológica é decorrente da dificuldade da drenagem do liquor cerebral. É um causa de demência reversível, sendo mais comum em adultos mais velhos.
O paciente acometido evolui com dificuldade de marcha, demência (perda de capacidades cognitivas) e incontinência urinária. Há aumento do ventrículo cerebral detectado radiograficamente, com pressão normal do liquor cefalorraquidiano (daí o nome, normobárica).
Mas como isso acontece?
O líquido cefalorraquidiano (liquor) é um líquido que circula no cérebro (ventrículos cerebrais + espaço subaracnoide) e na medula espinhal (espaço subaracnoide). Temos cerca de 150 ml desse líquido presente no corpo.
É composto basicamente por glicose e sais, e sua função é de proteção, além de auxiliar no transporte de nutrientes. Ele é produzido em regiões chamadas de “plexos coroides” (nos ventrículos cerebrais); ali células pegam o plasma sanguíneo, e o transformam em liquor. Sua eliminação se dá por “vilos aracnoides”, espécie de válvulas unilaterais, presentes principalmente no seio sagital superior (vilos aracnoides).
Quando há inflamação e consequente fibrose dos vilos aracnoides, há dificuldade de eliminação desse líquido; como consequência, há dilatação ventricular com compressão do tecido cerebral, causando os sinais/sintomas.
Nesse caso, essa dilatação do ventrículo permite que a pressão do liquor se mantenha normal (normobárica).
Como identificar um paciente com Hidrocefalia Normobárica?
A HPN é caracterizada classicamente pela tríade: Demência + Incontinência Urinária + Distúrbio da Marcha.
- Distúrbio da Marcha: geralmente é o primeiro sinal que aparece. O paciente apresenta marcha lenta, com base alargada, passos curtos com pés arrastados no chão.
- Alterações Cognitivas: demência é a segunda manifestação que aparece. É caracterizada por déficit progressivo de atenção, concentração, alteração de memória, retardo psicomotor etc.
- Incontinência Urinária: presente nos estágios avançados da doença. Relaciona-se com hiperatividade do músculo detrusor da bexiga por interrupção de vias neuronais periventriculares.
O médico sempre deve suspeitar dessa hipótese diagnóstica a partir de uma anamnese com exame neurológico completo. A partir disso, é necessário solicitar exames confirmatórios, como ressonância magnética, cisternocintilografia e punção lombar.
Quais as opções de tratamento para HPN?
O tratamento da Hidrocefalia de Pressão Normal tem como objetivo restaurar capacidade plena do paciente. A condição, quando tratada adequadamente, apresenta ótimos resultados na sequência dos anos. Fatores favoráveis de melhora para tratamento incluem: aparecimento precoce de distúrbio de marcha e início do quadro inferior a 6 meses.
O tratamento visa drenar o conteúdo liquórico em excesso. O procedimento de escolha é a Derivação Ventrículo-Peritoneal (DVP), em que um catéter de silicone unidirecional é colocado dentro do ventrículo para se comunicar com o peritônio. A taxa de eficácia chega a 90%.
Uma outra opção é a realização de “terceiro ventriculostomia endoscópica (TVE)”; basicamente um “furo” é realizado no assoalho do terceiro ventrículo, funcionando como uma passagem alternativa para a eliminação do liquor.
Após o procedimento, deve-se fazer monitoramento dos pacientes para se avaliar a presença de infecções e o correto funcionamento do dispositivo de drenagem.
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Referências:
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