Fluvoxamina no tratamento da COVID-19

COVID-19 azvudine

A pandemia de COVID-19 tem sido caracterizada por alta morbidade e mortalidade, especialmente em certos subgrupos de pacientes. Até o momento, nenhum tratamento se mostrou eficaz em pacientes com doença de início precoce e sintomas leves.

Dados epidemiológicos sugerem que, apesar do desenvolvimento de vacinas, teremos centenas de milhares de casos nos próximos dois anos. Dessa forma, há uma urgência em avaliar a eficácia de medicamentos para tratar a doença.

Em outros posts falamos um pouco sobre alguns medicamentos estudados, como a Melatonina e o Molnupiravir. Vale a pena a leitura! Aqui, vamos falar um pouco sobre a Fluvoxamina.

Fluvoxamina – como atua?

A Fluvoxamina (Luvox®, Revoc®) é um antidepressivo da classe dos inibidores da recaptação da serotonina (ISRS). Atualmente, é indicado para tratar depressão maior e transtorno obsessivo compulsivo.

Sua ação se dá ao bloquear o transporte de serotonina de volta à célula pré-sináptica, concentrando essa molécula na fenda pré-sináptica. Dessa forma, há um aumento da atividade serotoninérgica no SNC.

Além disso, a fluvoxamina é um agonista do receptor sigma-1 (Sig-1R), um receptor do retículo endoplasmático com diversas funções relacionadas. Além de regulação de canais iônicos e modulação de liberação de neurotransmissores, estudos recentes apontam o Sgm-1R como regulador dos principais mecanismos da resposta adaptativa ao estresse durante as etapas iniciais da replicação viral – um ponto interessante a ser explorado na terapia contra o coronavírus!

 

Indicação de Fluvoxamina contra COVID-19

Em janeiro deste ano, uma equipe de pesquisadores começou a investigar o uso de alguns medicamentos contra a COVID-19:  fluvoxamina, ivermectina, doxasozina, peginterferon lambda e peginterferon beta. E os resultados observados têm sido promissores!

A fluvoxamina foi administrada por 10 dias em pacientes positivos para Sars-Cov-2, e foi observada uma redução de 32% no risco relativo de hospitalizações. Quanto ao risco absoluto de desfecho primário, foi observada uma redução de 5%.

Falamos um pouco da interação da fluvoxamina com os receptores sigma-1. A ligação ao receptor também modula a resposta imunológica, regulando a produção de citocinas. Portanto, como agonista, a fluvoxamina pode atuar como um anti-inflamatório.

Os vírus desenvolveram mecanismos para perturbar a homeostase de cálcio da célula hospedeira, pois o cálcio é essencial para a entrada, maturação e replicação viral. Dessa forma, regular os canais de cálcio pode ser uma estratégia terapêutica em infecções virais.

Portanto, (deixando de lado todos os detalhes complexos por trás das vias moleculares envolvidas), a modulação do receptor Sgm-1R pode dificultar a entrada de cálcio intracelular. Além disso, a interação com o receptor altera o remodelamento do retículo endoplasmático e o fornecimento de energia mitocondrial, ambos necessários para a replicação viral.

 

Considerações

A busca por medicamentos que possam tratar a COVID-19 tem sido desafiadora. Os resultados apresentados até o momento com a fluvoxamina parecem promissores, mas é preciso ter cautela, pois todo estudo tem suas limitações, como por exemplo a dificuldade em adesão ao tratamento, efeitos adversos e elegibilidade ao uso do medicamento.

_______________________________________________________________________

Referências:

Omi, T., Tanimukai, H., Kanayama, D. et al. Fluvoxamine alleviates ER stress via induction of Sigma-1 receptor. Cell Death Dis 5, e1332 (2014).

Vela, J. M. Repurposing Sigma-1 Receptor Ligands for COVID-19 Therapy? 2020

Monica Tarantino. Fluvoxamina reduz chance de hospitalização por covid-19, mostra estudo. 2021. 

Reis, G. Effect of early treatment with fluvoxamine on risk of emergency care and hospitalisation among patients with COVID-19: the TOGETHER randomised, platform clinical trial. 2021. 

 

Google search engine

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui