O que é a Esparganose?
A esparganose é uma zoonose parasitária causada pelas larvas de vermes platelmintos da classe Cestoda, sendo os principais agentes etiológicos o Sparganum proliferum e as tênias do gênero Spirometra.
Essa condição ocorre devido à ingestão de larvas infectantes em água contaminada ou alimentos crus ou malcozidos, especialmente carne de peixes, crustáceos, répteis e anfíbios que atuam como hospedeiros intermediários no ciclo de vida do parasita.
A transmissão pode ocorrer também por contato direto com a pele ou mucosas durante a aplicação de compressas contendo carne de animais infectados, prática observada em algumas culturas tradicionais.
A infecção, embora mais prevalente no leste e sudeste da Ásia, também é observada em outros continentes, como América do Sul, Europa e África, especialmente em áreas rurais ou de saneamento básico precário.
Casos esporádicos têm sido relatados em regiões de maior urbanização, devido à globalização e ao aumento no consumo de alimentos exóticos ou práticas culinárias que envolvem alimentos crus.
A esparganose pode manifestar-se de forma subcutânea, visceral ou até mesmo ocular e neurológica, com sintomas variando de acordo com a localização do parasita, sendo crucial o diagnóstico diferencial com outras condições inflamatórias ou infecciosas.
Como identificar um paciente com Esparganose?
Os sintomas de esparganose costumam variar de acordo com o tecido de migração dos parasitas. Clinicamente, os pacientes não apresentam sintomas quando a migração é subcutânea.
Entretanto, em caso de migração para outros locais, podem causar manifestações oculares (esparganose orbital), doença do sistema nervoso central (esparganose cerebrospinal) e envolvimento visceral (esparganose visceral).
O diagnóstico é clínico-epidemiológico, associado à identificação do parasita em biópsia. Nódulos subcutâneos de migração lenta podem ser um aspecto chave para o diagnóstico da esparganose subcutânea. Porém, a identificação de um paciente com esparganose pode ser desafiadora, devido à apresentação clínica inespecífica e à dificuldade em detectar o parasita em exames histológicos.
O hemograma completo pode ser usado para avaliar eosinofilia, um marcador frequente na esparganose orbital. Ainda, métodos sorológicos, como o ensaio de ELISA, podem ser úteis para a vigilância e diagnóstico.
Qual o tratamento da Esparganose Humana?
A cura da esparganose pode ser obtida através da remoção completa das larvas do paciente, via excisão cirúrgica. O uso de agentes antiparasitários, como o praziquantel, tem sido relatado em alguns casos, mas não é tipicamente recomendado como tratamento primário.
A melhor opção contra os parasitas é profilática. Orientações sobre a necessidade de cozimento correto da carne, além de medidas sanitárias para se evitar a infecção dos animais, devem ser fornecidas aos pacientes.
Sparganum proliferum ou Spirometra?
Como citamos, a Esparganose é uma infecção causada por vermes platelmintos Sparganum proliferum ou Spirometra. Ambos pertencem a classe Cestoda, com larvas não segmentadas e sem escólex.
A espécie Sparganum proliferum é uma espécie independente, mas intimamente relacionada às tênias Spirometra.
De fato, são patógenos muito semelhantes, e clinicamente a única diferença entre eles é que a infecção causada por S. proliferum frequentemente envolve a proliferação de várias larvas no mesmo local do tecido subcutâneo (esparganose proliferativa).
Como ocorre o ciclo de vida dos parasitas?
Os vermes adultos ficam alojados no intestino de carnívoros, principalmente cães e gatos. Os ovos são eliminados nas fezes e eclodem na água, onde liberam coracídios, que são ingeridos pelos copépodes.
Os coracídios se desenvolvem em larvas procercoides no hospedeiro intermediário copépode. Segundos hospedeiros intermediários, incluindo peixes, répteis e anfíbios, ingerem copépodes infectados e adquirem larvas procercoides. As larvas procercoides se desenvolvem em larvas plerocercoides no segundo hospedeiro intermediário.
O ciclo é concluído quando um predador (cão ou gato) come um segundo hospedeiro intermediário infectado.
Note que humanos não podem servir como hospedeiros definitivos para estas espécies parasitas, mas servem como hospedeiros paratênicos ou segundos intermediários e desenvolvem esparganose.
Humanos pode ser infectados a partir da ingestão de copépodes em água contaminada ou hospedeiros intermediários não cozidos. As larvas também podem penetrar na pele a partir de cataplasmas de carne de sapo ou cobra.
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Referências:
Zhang P, Zou Y, Yu FX, et al. Follow-up study of high-dose praziquantel therapy for cerebral sparganosis. PLoS Negl Trop Dis. 2019;13(1):e0007018. Published 2019 Jan 14. doi:10.1371/journal.pntd.0007018.
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