Que pacientes com enxaqueca e perturbação do sono estão intimamente relacionados isso já sabemos. Mas ainda não está claro se a enxaqueca é causa ou consequência do sono insatisfatório.
Uma meta-análise recente avaliou o sono de pacientes e controles por polissonografia. Os autores se questionaram se havia diferença na qualidade do sono entre os grupos e se haveria um efeito maior em pacientes cuja enxaqueca é crônica. Também avaliaram as diferenças entre crianças e adultos.
Os resultados mostraram que adultos e crianças com enxaqueca têm uma redução da quantidade de sono REM. Além disso, as descobertas também mostram que as crianças com dor de cabeça têm menos tempo total de sono.
“Esse resultado não é surpreendente” relatam os autores, pois já é conhecido o sono insatisfatório tem peso importante na progressão para enxaqueca crônica. Porém, os autores observam que a análise não é capaz de provar uma relação causal entre sono e enxaqueca. Além disso, os estudos incluídos na análise também não relataram se os pacientes tiveram crises durante o sono e não estava claro se os pacientes estavam tomando medicamentos que afetam os ciclos do sono.
Noite mal-dormida
A dificuldade da capacidade de dormir ou manter o sono contínuo durante a noite afeta 30-50% dos brasileiros atualmente.
É uma doença multifatorial, e pode ser causada por estresse, depressão, ansiedade, doenças crônicas, medicamentos e até mesmo falta de exercícios físicos regulares. É mais comum em mulheres e idosos e, de forma crônica, essa condição pode causar um comprometimento em diversas áreas da vida do paciente.
Em geral, o próprio indivíduo relata os sintomas de uma noite mal dormida, como redução da concentração, alterações de memória, irritabilidade, cansaço e muito frequentemente: dor de cabeça!
Enxaqueca
A enxaqueca é um transtorno neurológico crônico, de intensidade moderada a grave, em geral com padrão pulsátil e hemicrania. As crises podem ser acompanhadas por diversos sintomas, como sensibilidade à luz, som e odor, náuseas e vômitos.
As causas para enxaqueca ainda são desconhecidas, mas há padrões genéticos bem estabelecidos envolvidos. Assim como a insônia, as mulheres são mais afetadas, e os gatilhos podem ser desencadeados (entre diversas outras razões) por ansiedade, depressão e estresse.
É essencial orientar o paciente para que perceba seus gatilhos e comece a evitá-los e, em casos de mais de 3 crises por mês, o tratamento medicamentoso profilático apresenta benefícios. Ainda, a prática de exercícios regulares e uma vida saudável deve ser estimulada.
Um problema bidirecional
A relação entre o sono e a enxaqueca é complexa, pois os distúrbios do sono podem ser um gatilho no para os sintomas da enxaqueca. Ambas são doenças incapacitantes e que causam um sofrimento considerável na vida do indivíduo, seja criança, adolescente, adulto ou idoso.
O que é importante considerar é a ligação neurofisiológica e neuroanatômica comum entre a enxaqueca e a insônia. Estímulos dolorosos interferem no sono e os distúrbios do sono afetam a percepção da dor.
Há estruturas do sistema nervoso central e neurotransmissores envolvidos na fisiopatologia da enxaqueca e igualmente importante para a regulação da arquitetura normal do sono. Regiões diencefálica e do tronco cerebral são as principais estruturas anatômicas envolvidas na patogênese da enxaqueca e no ciclo sono-vigília. Ainda, melatonina, serotonina, dopamina e adenosinas são as moléculas mais estudadas por seu possível papel como mediadoras dessa relação.
A ideia das pesquisas que relacionam as dores de cabeça e insônia é fornecer uma compreensão mais clara das enxaquecas e de como elas afetam os padrões de sono.
Em todo caso, talvez “receitar” uma melhora na qualidade do sono pode ajudar no tratamento para enxaqueca não é mesmo?
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Referências
Megan Brooks. Does Migraine Cause Poor Sleep or Vice Versa?. 2021
Excelente informação. Parabéns!