Diagnóstico da Doença de Chagas

diagnóstico da doença de chagas

Você sabe como realizar o diagnóstico da Doença de Chagas?

A Doença de Chagas é uma parasitose tropical, causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, transmitidas pelos insetos hematófagos conhecidos como “barbeiros”. Descrita pela primeira vez em 1909, a condição é predominante no continente americano. No Brasil existem cerca de 1,5 milhões de casos atualmente.

Como identificar um paciente com Doença de Chagas?

Didaticamente, podemos dividir a Doença de Chagas em 3 fases principais: aguda, indeterminada e crônica.

A doença aguda inicia-se cerca de 4-12 dias após a infecção, durando por cerca de 8 semanas. Alguns pacientes permanecem assintomáticos, e os demais podem apresentar alguns sinais/sintomas como: febre prolongada e recorrente, cefaleia, mialgia, astenia e erupção cutânea. Ainda, pode haver o “Chagoma de inoculação”, uma reação inflamatória local no local da inoculação do protozoário pelo barbeiro.

Passada a fase aguda (sintomática ou não) se não for realizado o tratamento específico ocorre redução espontânea da parasitemia – porém o parasita continua a se multiplicar. O paciente fica assintomático nesse momento, podendo permanecer assim para o resto da vida.

Cerca de 40% dos pacientes não tratados acabarão evoluindo para algumas das formas crônicas, seja cardíaca, digestiva ou cardiodigestiva.

Diagnóstico da Doença de Chagas T. cruzi
A doença de Chagas é transmitida por insetos hematófagos da subfamília Triatominae, tendo mais de 20 espécies envolvidas.

Como fazer o diagnóstico da Doença de Chagas?

O médico deve realizar um exame físico completo, com anamnese questionando fatores de risco relacionado com a doença (exposição a áreas endêmicas). A confirmação do diagnóstico da Doença de Chagas é feita por exames, e depende se a fase é aguda ou crônica.

 

Fase aguda

Para o diagnóstico da Doença de Chagas em fase aguda, coleta-se amostras de sangue periférico para testes parasitológicos e sorológicos simultaneamente.

O exame PCR (Polymerase Chain Reaction – PCR) apresenta-se como uma técnica promissora para o diagnóstico da Doença de Chagas na fase aguda, contudo os custos atuais e a não padronização em escala são uma barreira importante para justificar seu uso como rotina no momento.

Ainda, na fase aguda, pode-se proceder à realização de lâmina corada de gota espessa ou esfregaço sanguíneo. Porém, possui menor sensibilidade que os outros métodos, sendo realizados prioritariamente na região da Amazônia Legal – em virtude de aspectos operacionais pela sua utilização sistemática para o diagnóstico da malária.

diagnóstico da doença de chagas

  1. Testes parasitológicos: exame a fresco de tripanossomatídeos é o padrão ouro.

A coleta (sangue ou biópsia de linfonodo) deve ser realizada em pessoa com síndrome febril e até 30 dias do início de sintomas. Caso seja positiva, confirma o caso.

Caso a primeira coleta seja negativa e a suspeita clínica persistir, recomenda-se nova coleta entre 12 e 24 horas da primeira.  Além disso, os métodos de concentração são recomendados nos casos em que o exame a fresco for negativo.

  1. Testes sorológicos: ELISA ou Imunofluorescência indireta (IFI).

Na detecção de imunoglobulina M (IgM) com título ≥ 1:40, o caso é confirmado.

Caso resultado negativo (< 1:40), deve-se descartar o caso somente após a avaliação da sorologia por imunoglobulina G (IgG). Para confirmação pelo marcador IgG (≥ 1:80), são necessárias duas coletas com intervalo mínimo de 15 dias entre uma e outra.

sorologia para doença de chagas

Fase crônica

Para o diagnóstico da Doença de Chagas em fase crônica, coleta-se duas amostras de sangue periférico para realização de duas sorologias IgG por métodos diagnósticos distintos. Por poder ter falso positivo/negativo, recomenda-se avaliar IgM por duas técnicas (pode ser ELISA, immunoblotting, fixação de complemento, hemaglutinação direta, imunoflorescência indireta).

Caso obtenha-se positivo para dois testes, confirma o diagnóstico da Doença de Chagas. Caso positivo apenas para um teste, recomenda-se realizar terceiro teste em diferente amostra de sangue. Por fim, negativo para os dois testes descarta o caso.

Testes rápidos vêm sendo sugeridos como estratégia para avaliação da fase crônica. Apesar de não substituírem o diagnóstico convencional, podem ser úteis especialmente em locais remotos sem infraestrutura de laboratório adequada, em pacientes com difícil acesso aos serviços de saúde e com possibilidade de perda de seguimento, assim como em gestantes com suspeita da doença, tanto durante o pré-natal quanto durante o trabalho de parto. Adicionalmente, essa estratégia pode ser considerada uma alternativa para busca ativa por casos em áreas remotas, por exemplo.

Nesses casos, os testes possuem alta sensibilidade; portanto, resultados negativos podem ser utilizados para descartar o diagnóstico da doença de Chagas. Contudo, nos casos de resultado positivo, é preciso realizar a confirmação sorológica, dado o elevado número de resultados falso-positivo.

Por fim, exames parasitológicos indiretos, como xenodiagnóstico e hemocultura, podem ser positivos em pessoas com Doença de Chagas em sua fase crônica.

exame de sangue diagnóstico da doença de chagas

Definição de caso pelo Ministério da Saúde

De acordo com a Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, um caso pode ser confirmado de acordo com alguns critérios:

Caso suspeito de Doença de Chagas aguda: Paciente com quadro febril prolongado (mais de 7 dias) e que apresente esplenomegalia ou acometimento cardíaco agudo, residente ou visitante de área onde haja ocorrência de triatomíneos, que tenha recebido transfusão de hemoderivados ou transplante de órgãos, ou que tenha ingerido alimento suspeito de contaminação.

Caso confirmado de Doença de Chagas aguda: critério laboratorial e/ou critério clínico-epidemiológico.

Critério laboratorial: T. cruzi circulante no sangue periférico identificado por meio de exame parasitológico direto, ou sorologia positiva.

Critério clínico-epidemiológico: vínculo epidemiológico com casos confirmados da doença aguda por critério laboratorial.

O diagnóstico da Doença de Chagas geralmente é confirmado por critério laboratorial. No entanto, em situações eventuais, pode-se adotar critério clínico-epidemiológico para casos suspeitos com os exames parasitológicos negativos e sorológicos inicialmente não reagentes – durante surto de doença na fase aguda por transmissão oral.

exame de sangue caso confirmado

Caso descartado: caso suspeito, com resultado dos exames laboratoriais negativos ou não reagentes, ou que tiver outra doença com diagnóstico.

Caso de Doença de Chagas crônica: pode ser forma indeterminada (nenhuma manifestação clínica, radiológica ou eletrocardiográfica), forma cardíaca, forma digestiva ou forma associada (cardiodigestiva).

Chagas Congênito: Recém-nascido de mãe com exame sorológico ou parasitológico positivo para T. cruzi, que apresente exame parasitológico positivo a partir do nascimento, ou exame sorológico positivo a partir do sexto mês de nascimento, e que não apresente evidência de infecção por qualquer outra forma de transmissão.

Leia também: Doença de Chagas congênita, um desafio para a saúde pública.

doença de chagas congenita

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Referências:

Hochberg, N. S., & Montgomery, S. P. (2023). Chagas Disease. Annals of internal medicine, 176(2), ITC17–ITC32. https://doi.org/10.7326/AITC202302210

Swett, M. C., Rayes, D. L., Campos, S. V., & Kumar, R. N. (2024). Chagas Disease: Epidemiology, Diagnosis, and Treatment. Current cardiology reports, 10.1007/s11886-024-02113-7. Advance online publication. https://doi.org/10.1007/s11886-024-02113-7

Bern, C. – Chagas disease: Natural history and diagnosis. In: UpToDate, Post TW (Ed), UpToDate, Waltham, MA.

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