Em 8 de março, comemora-se o Dia Internacional da Mulher. É um dia histórico, que destaca a importância da mulher na sociedade. E nesse sentido, não podemos deixar de destacar os dados inquietantes divulgados esse ano do estudo Demografia Médica no Brasil.
Mesmo após anos de luta pelos seus direitos, as médicas mulheres seguem recebendo salários inferiores para cumprir as mesmas funções que homens: até 13 mil reais a menos!
Veja os dados.
A partir de 2024, as mulheres serão a maioria entre os médicos
A população brasileira é composta por uma maioria de mulheres (~51%). Segundo dados do IBGE, através da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), são quase 5 milhões a mais do que os homens.
Segundo o estudo Demografia Médica, realizado pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, essa proporção também tem sido mais evidente nas áreas de saúde, e desde 2009 a taxa de médicas dobrou – de 133.000 para 260.000 em 2022.
A projeção do estudo revela que, a partir de 2024, as mulheres serão maioria entre a comunidade médica. Estima-se que do total de 597 mil profissionais, 299.749 sejam do sexo feminino (50,2%).
Até 2035, o crescimento previsto para médicas é de 118%, comparado com um crescimento mais lento para médicos, de 62%.
Mulheres apresentam salários de até 36% menores
Embora haja essa “feminização” da medicina, a proporção salarial não acompanha o mesmo ritmo.
Em um post anterior, falamos do estudo, destacando que a média salarial dos médicos no Brasil apresenta menor rendimento registrado desde 2012.
Este rendimento é desigual em diversos aspectos, mas de forma alarmante destacamos a diferença entre os salários de homens e mulheres: mulheres médicas ganham, e média, mais de 13 mil reais a menos que os homens colegas de profissão.
De acordo com os valores declarados, isso é equivalente a 63,7% do rendimento dos médicos homens. E esse dado é verdadeiro em todas as faixas etárias avaliadas no estudo, e em idades intermediárias as diferenças são maiores.
A produção técnica desse ano produzida pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo está disponível online e contém todas as informações aqui descritas. Acesse o link nas nossas referências.
O Brasil é um dos países com maior desigualdade salarial
Apesar dos grandes avanços na igualdade de gênero, as mulheres ganham menos que os homens em todos os países industrializados avançados.
Os países que ocupam os primeiros lugares em atuar ativamente na redução de disparidade de gênero são Islândia, Finlândia, Noruega e Suécia. O Brasil ocupa o 94º lugar no ranking de progresso para paridade de gênero, ainda longe do ideal.
Segundo o Global Gender Gap Report de 2022, estamos muito distantes de alcançar a paridade de gênero. Sem mudanças, precisaremos de mais pelo menos 130 anos para que isso aconteça. E cada crise vivenciada agrava a situação, com o trabalho das mulheres em risco de retrocesso na paridade global.
A desigualdade de gênero é elaborada muito antes do profissional ser inserido no mercado de trabalho, e os dados observados são apenas consequência de uma estrutura econômica, política e social ainda pouco desenvolvida.
É preciso insistir em políticas focadas em remuneração igual para trabalhos semelhantes, bem como incentivo a contratação e promoção de mulheres, visando estabelecer a igualdade de gênero no mercado de trabalho.
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Referências:
SCHEFFER, M. et al. Demografia Médica no Brasil 2023. São Paulo, SP: FMUSP, AMB, 2023. 344 p. ISBN: 978-65-00-60986-8. https://www.fm.usp.br/fmusp/noticias/lancado-o-estudo-demografia-medica-no-brasil-2023
Global Gender Gap Report 2022. Insight Report, July 2022. World Economic Forum.
Penner AM, et al. Within-job gender pay inequality in 15 countries. Nat Hum Behav. 2023 Feb;7(2):184-189. doi: 10.1038/s41562-022-01470-z.