Câncer de próstata e qualidade de sono: qual a relação?

cancer de prostata

O câncer de próstata é a neoplasia que mais afeta homens no ocidente, depois do câncer de pelo não melanoma. E as estatísticas são de dar medo: estudos epidemiológicos sugerem que um em cada nove homens desenvolverá a doença em alguma etapa da vida.

Por trás disso, diversos fatores podem estar desempenhando um papel para o surgimento e desenvolvimento do câncer. Entre eles, os mais frequentes são os hormônios endógenos, histórico familiar, dieta e mutações genéticas. Mas um novo agente vem sendo foco de pesquisas e parece exercer grande influência nesta doença: o sono. Mais precisamente a interrupção do ciclo circadiano, mas chegaremos lá…

Boa noite!

Talvez não seja nenhuma novidade que a qualidade do sono e a qualidade de vida estão associadas. A falta de sono tem sido associada a vários problemas de saúde, incluindo doenças cardiovasculares, depressão, diabetes e obesidade. A alteração do turno de sono, vivenciado por trabalhadores noturnos, por exemplo, é considerada um provável carcinógeno humano pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC).

Em mulheres, já foi observada associação entre sono de má qualidade e aumento do risco de câncer de mama, principalmente pela alteração de produção da melatonina, hormônio relacionado ao ritmo circadiano. Mais recentemente, estudos tem mostrado associação entre a qualidade do sono e o risco de câncer de próstata em homens.

Embora mais evidente em outras doenças, o papel da qualidade do sono no câncer e, especificamente, no câncer de próstata, não é bem compreendido – mas fortes indícios vêm sendo observados. Alguns estudos investigaram o impacto do trabalho noturno na saúde e observaram níveis elevados de antígeno prostático específico (PSA) em homens sem câncer de próstata, além de uma frequência maior de câncer de próstata em trabalhadores do turno da noite.

cancer de prostata

Em 2019, um grande estudo, desenvolvido na China Medical University, avaliou mais de 41 mil pacientes homens, comparando indivíduos com e indivíduos sem distúrbios de sono (DS). De forma surpreendente, a incidência geral de câncer de próstata foi 51% maior na coorte com DS do que na coorte sem DS.

Outro grande estudo, desenvolvido em 2020 na Konkuk University, avaliou mais de 900 mil homens para entender o papel que DS, mais especificamente da apneia obstrutiva do sono, desempenham no câncer de próstata. Assim como o estudo de 2019, câncer de próstata ocorreu mais frequentemente no grupo com apneia em comparação com o grupo controle.

Além disso, separando os pacientes com relação às suas características demográficas, os resultados continuam apontando uma associação positiva entre a má qualidade de sono e risco de câncer de próstata. A análise específica da idade, ocupação, área de urbanização, comorbidades e medicação dos indivíduos dos estudos revelou um risco significativamente maior de desenvolver câncer de próstata nos pacientes com DS em comparação com o grupo equivalente sem DS.

O que o sono tem a ver com a próstata?

O mecanismo exato pelo qual o sono contribui para o câncer de próstata ainda não é conhecido, embora algumas hipóteses tenham sido criadas.

Primeiro: a hipóxia crônica causada por eventos de apneia, por exemplo, pode induzir a produção de fatores (como o fator-1a induzível por hipóxia) envolvidos na metástase, angiogênese, crescimento e progressão hormonal-refratária do câncer, inclusive câncer de próstata.

Segundo: a fragmentação do sono induz a desregulação dos ritmos circadianos, duração inadequada do sono e supressão dos níveis de melatonina, que desempenha um papel importante na regulação de outros hormônios ligados à progressão tumoral.

Terceiro: eventos de hipoventilação são seguidos por hiperventilação durante o sono. Este processo repetitivo leva a produção de radicais livres de oxigênio, que podem causar inflamações e desregulação na produção de citocinas, tendo potencial de influenciar no câncer.

Como a ciência brasileira pode ajudar neste mistério?

Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e do Instituto do Sono estão desenvolvendo um estudo que pretende lançar uma luz sobre uma questão fundamental e ainda não respondida: qual mecanismo de desenvolvimento do câncer de próstata é ativado pela má qualidade do sono?

Em outras palavras, o grupo pretende descobrir se a privação de sono e a dessaturação de oxigênio causada pelos DS influenciam diretamente no câncer ou se estão associados à alteração dos níveis de PSA. Mas a previsão dos resultados é para 2023. Resta aguardar.

Fica a dica

Poucas pessoas buscam tratamento adequado na presença dos sinais e sintomas de distúrbios do sono. Embora ainda vistos como normal por parte da população, ronco intenso e frequente, pausas da respiração durante o sono, engasgos noturnos, respirar de boca aberta, acordar com frequência e sono inquieto, sonolência excessiva diurna e sono não reparador são indicativos de má qualidade de sono e devem ser tratados.

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Referências:

Teresa Santos. Medscape Notícias Médicas. Pesquisa investiga relação entre apneia obstrutiva do sono e níveis de antígeno prostático específico. Jan 2022.

Lee, Eun Jung MD, PhDa; Suh, Jeffrey D. MDb; Cho, Jae Hoon MD, PhD, MPHc,∗ The incidence of prostate cancer is increased in patients with obstructive sleep apnea, Medicine: February 12, 2021 – Volume 100 – Issue 6 – p e24659 doi: 10.1097/MD.0000000000024659

Chung WS, Lin CL. Sleep disorders associated with risk of prostate cancer: a population-based cohort study. BMC Cancer. 2019;19(1):146. Published 2019 Feb 13. doi:10.1186/s12885-019-5361-6

Porcacchia AS, Câmara DAD, Andersen ML, Tufik S. Sleep disorders and prostate cancer prognosis: biology, epidemiology, and association with cancer development risk. Eur J Cancer Prev. 2021 May 7. doi: 10.1097/CEJ.0000000000000685. Epub ahead of print. PMID: 33990093.

 

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