Em outubro temos a campanha do “Outubro Rosa”, que visa divulgar informações sobre o câncer de mama. Nesse ano, o tema é “Com mais Empatia, somos mais Vida”, e tem como objetivo olhar para o coletivo e explorar como essa neoplasia afetada a vida do paciente e de todos os que convivem com ele. Com mais empatia, podemos visualizar novas perspectivas sobre o câncer e oferecer melhores opções com base na individualidade de cada paciente.
Nesse artigo, trouxemos uma revisão dos principais tópicos já abordados sobre a doença vivida diferentes realidades por cada paciente: mulheres negras, mulheres transgênero e homens.
Câncer de mama em mulheres negras
Segundo dados do INCA desse ano, o câncer de mama é a neoplasia mais incidente em mulheres em todo mundo, com exceção do câncer de pele não melanoma. Essas taxas são maiores tanto em países com alto IDH quanto naqueles com baixo e médio índice.
Estima-se que para o triênio 2023-2024-2025, mais de 73 mil novos casos da doença sejam identificados no Brasil. Embora a incidência seja maior em mulheres brancas, a taxa mortalidade é 40% maior em mulheres negras.
Dentre as diversas razões para tal disparidade, podemos destacar:
- Incidência desproporcional de câncer de mama triplo-negativo (TNBC) nessa população, que sabidamente tem um prognóstico ruim e opções limitadas de tratamento.
- Barreiras estruturais e socioeconômicas que são desiguais entre as diferentes populações.
- Mulheres negras com TNBC não metastático não menos propensas a receber tratamento cirúrgico ou quimioterápico, comparado às mulheres caucasianas.
- Estudos clínicos são compostos em sua maioria por mulheres brancas, o que limita o desenvolvimento de terapias que atendam a todos.
Um estudo publicado em janeiro desse ano apontou o papel relevante do microambiente tumoral nessa população, relacionado a diferentes estágios de progressão do tumor, metástase e possibilidades de tratamento.
Segundo os autores, mulheres negras e afro-americanas apresentam uma variação maior de componentes associados a efeitos tumorigênicos. Além disso, o aumento da densidade e vascularização pode facilitar o crescimento de tumores agressivos e metastáticos.
Veja mais em: Câncer de mama em mulheres negras: foco no microambiente tumoral.
Câncer de mama quádruplo negativo
O câncer de mama quádruplo negativo (QNBC) é caracterizado por ausência de 4 receptores na análise imunohistoquímica: estrógeno, progesterona, HER2 e andrógeno. Esse subtipo apresenta um potencial mais agressivo, bem como não são identificados biomarcadores e alvos terapêuticos específicos.
Além disso, grande parte dos casos de TNBC também não apresenta expressão de receptor de andrógeno. Esse dado pode chegar até 90%, dependendo da ancestralidade da paciente, sendo o maior risco em mulheres negras.
Pacientes com TNBC e afrodescendentes apresentam uma tendência maior em perder a expressão de receptor de andrógeno. Esse subtipo é pouco sensível aos quimioterápicos convencionais, e não possui tratamento específico eficiente, apresentando pior prognóstico.
Veja mais em: Câncer de mama quádruplo negativo: um grande desafio para a medicina.
Câncer de mama em mulheres trans
O risco de câncer de mama em mulheres que realizaram reafirmação de gênero é pouco explorado, o que implica na ausência de diretrizes específicas de diagnóstico e tratamento nesses casos.
Com esse foco, um estudo relativamente recente avaliou mais de 3000 pessoas transgêneras (homens e mulheres trans) que receberam tratamento hormonal para reafirmação de gênero. Os pesquisadores observaram que o risco da neoplasia é maior para mulheres trans, em um período não muito longo de tratamento hormonal.
Esses dados fazem sentido, visto que a exposição sustentada ao estrogênio exógeno é um fator de risco bem estabelecido para vários tipos de câncer.
Veja mais em: Câncer de mama em mulheres trans: ainda falamos pouco sobre isso.
Câncer de mama masculino
O carcinoma de mama também pode ocorrer em homens, correspondendo a cerca de 1% dos casos. Embora raro, sua incidência vem aumentando, e a taxa de mortalidade é alta nessa população, na maioria dos casos pelo atraso no diagnóstico.
Aqui destacamos que as principais causas que explicam o diagnóstico tardio em homens são a falta de informação e o preconceito. E nesse sentido, a campanha “Outubro Rosa” é essencial!
Por não ser comum, a doença em homens ainda não é muito bem entendido. Os dados de classificação, prognóstico e tratamento, são feitos pela extrapolação de dados e conhecimento do câncer feminino.
Veja mais em: Câncer de mama masculino: um problema crescente.
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Referências:
INCA, Instituto Nacional de Câncer (Brasil). Estimativa 2023 : incidência de câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer. – Rio de Janeiro : INCA, 2022.
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