Pesquisadores da Universidade de Manitoba se aliaram a especialistas em materiais e anunciaram o desenvolvimento de um bioadesivo que promete conseguir superar as suturas e seus sucessores, os grampos cirúrgicos.
Fim das suturas e grampos cirúrgicos?
Passados séculos desde os primórdios da cirurgia, a sutura realizada com fios permanece o padrão quando se trata de junção e hemostasia de tecidos. Muitos esforços de pesquisa já foram feitos no sentido de se tentar superar as suturas e seus sucessores, os grampos cirúrgicos. O mais efetivo desses substitutos é a cola de fibrina, que, no entanto, não conseguiu esse sucesso em situações de urgência e trauma, ou sangramento de órgãos naturalmente móveis como o coração e os pulmões.
Agora, pesquisadores da Universidade de Manitoba se aliaram a especialistas em materiais e anunciaram o desenvolvimento de uma biocola que promete conseguir esse desempenho.
O artigo do grupo na Science Advances menciona que a principal dificuldade dos potenciais substitutos das suturas e grampos é conseguir uma junção e o tamponamento eficientes do tecido na presença de água, sangue, proteínas e outros fluidos corporais.
Muitos desses adesivos absorvem essas secreções, o que interfere negativamente em sua função. A presença dessas moléculas literalmente dificulta o acesso do adesivo ao tecido, o que pode significar sangramentos graves, e até fatais, algum tempo depois da intervenção.
Como funciona o bioadesivo?
O bioadesivo desenvolvido pela equipe é um gel fluido feito de silicone. Inicialmente, o silicone não interage com a água ou outros fluidos corporais e, portanto, não os absorve. Além disso, o novo gel de silicone é hidrofóbico e por isso desloca as moléculas ao seu redor, conseguindo uma aderência muito mais sólida ao tecido que está sendo tratado.
A nova biocola foi extensamente avaliada em modelos pré-clínicos como ratos, coelhos, cães e porcos. Nesses testes, o novo bioadesivo mostrou a capacidade de selar e hemostasiar instantaneamente um pulmão perfurado, um coração em plena atividade, paredes arteriais e até mesmo um crânio fraturado.
Segundo os autores, a gelificação de fluido macromolecular hidrofóbico altamente emaranhado forneceu um meio para preparar bioadesivos subaquáticos com forte ligação aos tecidos e excelente resistência à água, feito que pode realmente evoluir com a substituição das suturas.
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Referências:
Yuqing Liu et al. Gelation of highly entangled hydrophobic macromolecular fluid for ultrastrong underwater in situ fast tissue adhesion. Sci. Adv.8, eabm9744(2022). DOI:10.1126/sciadv.abm9744
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