Acidentes com perfurocortantes: quando a profilaxia pós-exposição é indicada?

acidentes com perfurocortantes

Estima-se que ocorram cerca de 385 mil acidentes com perfurocortantes por ano em hospitais e, segundo dados do CDC, quase 20% de todos os profissionais de saúde em formação sofrem alguma exposição percutânea anualmente. Ainda, o cansaço extremo após longas horas de trabalho aumenta em 3 vezes o risco de acidentes.

Dentre os profissionais de saúde, os enfermeiros são os mais afetados por acidentes com perfurocortantes (~35%), seguido de médicos residentes, médicos assistentes, técnicos e auxiliares de saúde domiciliar. As seringas descartáveis e as agulhas de sutura são os objetos mais envolvidos nas lesões.

Embora a profilaxia pós-exposição (PEP) seja o primeiro pensamento em caso de acidentes com material biológico, é necessário seguir um fluxo de ação, sendo a limpeza do local a primeira medida a ser realizada.

Veja mais sobre como lidar em caso de acidentes com perfurocortantes.

 

Mais de 5 milhões de profissionais de saúde estão em risco de exposição ocupacional por patógenos em acidentes com perfurocortantes

Acidentes perfurocortantes são aqueles com objetos ou instrumentos que possuem pontas ou bordas afiadas capazes de cortar ou perfurar a pele – como agulhas, lâminas de bisturi, escalpes, entre outros.

acidentes com perfurocortantes

Em um acidente com perfurocortante, pode haver exposição a um material biológico, representando riscos significativos de transmissão de infecções. Mais de 30 microrganismos diferentes já foram relatados em acidentes de trabalho, e os patógenos mais transmitidos envolvendo fluidos biológicos são os vírus da hepatite B e da hepatite C e o HIV.

Também há risco de transmissão de sífilis, embora a infecção por T. pallidum após acidentes com perfurocortantes seja rara.

Para tétano, a situação é diferente, pois trata-se de uma doença infecciosa não contagiosa. Embora a doença seja rara (pois há vacina disponível), há risco de contaminação em acidentes perfurocortantes, pois a C.tetani pode infectar a partir do meio externo pelo próprio objeto cortante, ou pode estar presente na pele/meio ambiente e penetrar.

acidente com perfurocortante

Risco de transmissão e soroconversão – HIV, HBV, HCV

São vários fatores que influenciam na transmissão de patógenos, desde o tipo de lesão até a virulência do microrganismo. Além disso, após a transmissão, devemos considerar o risco de soroconversão – ou seja, há evidências de infecção pelo vírus no indivíduos acidentado.

O HIV está entre os patógenos mais transmitidos em um acidentes de trabalho envolvendo fluidos biológicos. Os materiais envolvidos podem ser: sangue (ou qualquer material com sangue), líquido peritonial, líquido pleural, líquido pericárdico, líquido amniótico e líquor.

Em acidentes com perfurocortantes, o risco de transmissão do HIV é de 0,33%. Em contato com mucosas sem lesão cortante o risco é menor – 0,09%.

Da mesma forma que para a transmissão, o risco de soroconversão depende de diversos fatores. Em caso de lesão profunda, o risco é de 15%. Em contato com sangue visível em dispositivos, 6,2%. Contato com agulha que estava na veia ou artéria da pessoa-fonte oferece risco de 4,3%, e pessoa-fonte com doença terminal (AIDS), 5,6%.

acidente com perfurocortante amostra de sangue hiv

Em acidentes com potencial de transmissão do vírus da hepatite B, o risco depende do estado de replicação viral do indivíduo que contêm o vírus.

Em fase replicante, com altos títulos de HBeAg, o risco de hepatite clínica é de 22-31%, e de soroconversão entre 32% e 62%. Na presença de apenas HBsAg, o risco é menor: 1-6% de hepatite clínica e 23-37% de soroconversão.

Vale lembrar que, embora o risco de soroconversão seja alto após infecção em lesão percutânea, o HBV é altamente infeccioso – logo, outras formas de transmissão são bem relevantes. O vírus pode sobreviver em superfícies por até 1 semana.

Para o vírus da hepatite C, o risco de contaminação pós exposição e soroconversão é de 1,8%. O vírus só é efetivamente transmitido pelo sangue, e quase a totalidade dos casos é por lesão percutânea.

Da mesma forma que outros patógenos, o risco pode mudar a depender da quantidade de vírus ou se a lesão é mais profunda – variando entre 0 e 7%.

acidente com perfurocortante

O que fazer após um acidente com perfurocortante?

Embora a profilaxia pós-exposição (PEP) seja o primeiro pensamento em caso de acidentes com material biológico, é necessário seguir um fluxo de ação. Veja:

Passo 1: cuidado imediato com a área exposta. Realizar lavagem exaustiva com água e sabão ou soluções antissépticas. O álcool também pode ser utilizado por ter ação virucida.

Remover corpos estranhos e tecidos desvitalizados, se aplicável. Em ferimentos graves, realizar debridamento e lavagem com água oxigenada. Não utilizar soluções ou procedimentos que aumentem a área exposta (como injeções locais, hipoclorito, éter).

acidente com perfurocortante

Passo 2: em seguida, deve-se avaliar qual o risco de transmissão HBV, HCV, HIV e sífilis. Isso depende de vários fatores (como mencionamos anteriormente).

Passo 3: avaliar o status sorológico da pessoa-fonte e da pessoa contaminada. Para isso, realizar testes rápidos para HIV, hepatite B, hepatite C e sífilis. Alternativamente, pode ser utilizado exame de HBsAg para hepatite B e anti-HCV para hepatite C.

Passo 4: a pessoa contaminada foi vacinada contra hepatite B e tétano? Se não, proceder imediatamente com a vacinação. O esquema vacinal deve estar sempre atualizado.

Passo 5: agora sim, avaliar a necessidade da profilaxia pós-exposição (PEP). Devemos sempre considerar a gravidade da lesão e o tempo de exposição.

 

Quando realizar a profilaxia pós-exposição?

Acidentes de trabalho que envolvem fluidos corporais potencialmente contaminados devem ser tratados como emergência médica, e a profilaxia deve ser iniciada imediatamente após o acidente.  No entanto, há outras situações nas quais a profilaxia pós-exposição (PEP) deve ser realizada:

  1. Em caso de contato com materiais biológicos de risco – sangue, LCR, líquidos peritoneal, pleural e pericárdico.
  2. Em caso de exposição de risco – lembrando que acidentes por perfurocortantes são sempre de risco para contaminação.
  3. Após avaliar o tempo transcorrido desde a exposição – a profilaxia para HIV só pode ser realizada até 72 horas, e para HBV em até 7 dias.
  4. Em caso de pessoa contaminada com amostra não reagente para HIV, HBV e/ou sífilis – a positividade indica exposição prévia. O indivíduo que sofreu o acidente deverá fazer um teste no momento da exposição, com a utilização de um teste rápido, que tem o resultado em cerca de 30 minutos.
  5. Em caso de hepatite B, para pessoas não vacinadas contra o vírus.
  6. Em caso de pessoa fonte reagente para HIV, HBV e/ou sífilis.
profilaxia HIV acidente com perfurocortante
Profilaxia pós-exposição – acidente com perfurocortante com risco de infecção por HIV

 

Na necessidade de PEP, é importante reforçar para a pessoa exposta quanto a necessidade de manter o tratamento completo. Além disso, durante o tratamento, a pessoa exposta deve ser orientada a manter medidas de prevenção de infecção – como a utilização de preservativos nas relações sexuais.

profilaxia HBV acidente com perfurocortante
Profilaxia pós-exposição – acidente com perfurocortante com risco de infecção por hepatite B

 

E para o vírus da hepatite C?

Não há profilaxia pós-exposição ao vírus da hepatite C. Nesse caso, o monitoramento dos pacientes é essencial, visando o diagnóstico precoce da infecção, caso ocorra.

 

 

Quer saber mais sobre acidentes com perfurocortantes, incluindo a prescrição e orientações em caso de profilaxia pós-exposição? Acesse o conteúdo completo no app WeMEDS®. Disponível na versão web ou para download para iOS ou Android.

Referências:

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Profilaxia Pós-Exposição (PEP) de risco à infecção pelo vírus HIV, IST e hepatites virais. Brasília – DF. 2021

Google search engine

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui