Gripe Aviária em Humanos: entenda mais sobre a Infecção por H5N1

Gripe Aviária em Humanos

A gripe pode ser causada por 3 tipos de vírus: influenza A, influenza B e influenza C. O H5N1 é um subtipo de influenza A, e por ser encontrado também em aves, é conhecido como vírus da gripe aviária. Em geral, a mortalidade da gripe é baixa, mas em caso de infecção por H5N1, a taxa de mortalidade pode chegar a 60%.

Veja mais sobre a infecção pelo vírus da gripe aviária em humanos, incluindo virologia e fisiopatologia básica, diagnóstico e tratamento dos pacientes infectados.

O que é o Vírus da Influenza Aviária de Alta Patogenicidade?

A Gripe Aviária é uma doença infectocontagiosa do trato respiratório superior e inferior, causada pelo vírus influenza H5N1. Em humanos, apenas o vírus influenza aviária de alta patogenicidade causa infecções. Entenda:

Há 4 tipos conhecidos de vírus Influenza: A, B, C e D. Os vírus Influenza A e B causam epidemias sazonais, sendo os tipo A os mais virulentos, originando as formas mais graves de doença.

Os vírus Influenza A apresentam proteínas de membrana hemaglutinina e neuraminidase. São conhecidas 18 variações de hemaglutinina (H) e 11 de neuraminidase (N), e a numeração é relacionada com essas proteínas e a ordem de descobrimento. Mais de 130 combinações já foram descobertas.

O H5N1 é relacionado com a infecção em aves. Nestes animais, pode ser de dois tipos: vírus da influenza aviária de baixa patogenicidade (IABP) ou vírus da influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP).

Quando o vírus de baixa patogenicidade passou de aves selvagens para aves domésticas, houve mudanças na sua proteína H, aumentando sua virulência. Apenas este vírus mais virulento é capaz de infectar humanos. Dessa forma, tecnicamente, os termos IABP e IAAP não são aplicados para humanos.

Gripe Aviária em Humanos

Mudanças significativas nas proteínas do envelope (mudanças antigênicas) podem levar ao surgimento de novas cepas de gripe. Além disso, dois vírus influenza podem infectar uma mesma célula – por exemplo, H5N1 e H1N1. Nesses casos, há um risco alto de recombinação e formação de novas cepas patogênicas.

 

Como ocorre a Gripe Aviária em humanos?

O vírus influenza A (H5N1) é transmitido principalmente através do contato com secreções e excreções de aves infectadas. A transmissão de pessoa para pessoa pode ocorrer, mas é rara, ineficiente e não sustentada.

Após entrar em contato com a mucosa das vias áreas superiores, o vírus penetra nas células através da ligação da hemaglutinina com a superfície celular (reconhecem resíduos de ácido siálicos nas glicoproteínas presentes na membrana das células). Em seguida, os vírus utilizam o material genético do núcleo celular para se replicarem.

Depois de replicados, se exteriorizam com a ajuda da hemaglutinina, e para se “soltarem” da célula utilizam a neuraminidase (quebra as ligações do vírus com a superfície da célula). Dessa forma, há disseminação viral, contaminando outras células.

A célula que foi infectada entrará em apoptose. O vírus geralmente tem tropismo por células do brônquios e do pulmão, porém, até chegar lá infectam diversos tecidos do sistema respiratório, causando reações inflamatórias com liberação de citocinas.

Após o período de incubação (1-10 dias), há apresentação dos sintomas clássicos gripais. Caso os vírus cheguem até as vias aéreas inferiores podem levar a importantes complicações como bronquite e pneumonias – o que pode acarretar insuficiência respiratória aguda.

gripe aviária em humanos

De forma geral, mecanismos imunitários específicos e não específicos vão tentar eliminar o vírus. Inicialmente, a resposta imune inata vai levar a liberação de interferons tipo I que estimulam a produção de uma ribonuclease (RNAse L) que degrada o RNA viral, além de codificar quinases específicas que inativam a síntese proteica parasitária.

Concomitantemente, há ativação das células Natural Killers (NK), que faz com que as células infectadas sejam mortas, impedindo que o vírus replique. A resposta humoral é pautada na produção de anticorpos, porém não é suficiente individualmente: necessita do auxílio da resposta celular que através das células CD8+Tc e CD4+TH1 produzem citocinas que, em último caso, levam à morte viral.

 

Como identificar um paciente com Gripe Aviária?

O diagnóstico da gripe aviária em humanos é clínico-epidemiológico, e em alguns casos pode ser associado à confirmação laboratorial.

gripe aviária em humanos

Achados clínicos

Clinicamente, os pacientes podem apresentar uma ampla variedade de sintomas, e a gravidade depende da virulência da cepa e do sistema imunológico do hospedeiro. Em alguns casos, os pacientes podem apresentar sintomas leves de síndrome gripal (tosse, dor de garganta, congestão nasal, fadiga, dor de cabeça etc.), ou até mesmo serem assintomáticos.

Em casos mais agressivos, há febre alta, alteração de estado mental, desorientação, prostração intensa, tosse e dispneia. Dor de garganta e coriza são menos comuns.

Pacientes infectados com H5N1 também costumam apresentar dor e sangramento gengival, epistaxe, conjuntivite, dor no peito e sintomas gastrointestinais (diarreia, náuseas e vômitos).

Em caso de complicação, pode haver pneumonia grave, insuficiência respiratória, encefalite, choque séptico e morte.

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Quando realizar avaliação laboratorial?

A avaliação laboratorial do vírus da gripe aviária não é necessário em todos os casos. Então, quando realizar?

  • Pacientes imunocompetentes que tenham alto risco de complicação para influenza e estejam com doença respiratória febril por mais de 5 dias.
  • Pacientes imunodeprimidos com doença respiratória febril.
  • Pacientes internados com doença respiratória febril.
  • Profissionais de saúde com doença respiratória febril.
  • Pacientes com sintomas gripais e contato com animais potencialmente infectados.
  • Paciente com contato recente com caso confirmado de gripe aviária.
  • Imunocompetentes e sem fatores de risco apenas para questões epidemiológicas.

A técnica padrão-ouro para identificação do H5N1 é a avaliação molecular por PCR, para identificação de RNA viral. Podem ser utilizadas amostras de swabs nasais/orofaríngeos, escarro e lavagem broncoalveolar.

H5N1 vírus da gripe aviária em humanos

Todos os pacientes com suspeita ou confirmação de gripe aviária devem ser tratados

Medidas gerais devem ser estar sempre presentes como: repouso e adequada hidratação. Também é importante orientar medidas profiláticas, bem como isolamento até a remissão dos sintomas.

Medicamentos como antitérmicos e analgésicos são úteis para aliviar os sintomas, porém não levam a cura mais rápida. O uso de antivirais é indicado para o controle da infecção, e deve ser oferecido o mais rápido possível – sem a necessidade de aguardar confirmação laboratorial.

Como primeira linha, sugere-se o uso do Oseltamvir (Tamiflu®), 75 mg via oral a cada 12 horas por pelo menos 5 dias, até melhora clínica.

Caso o oseltamivir leve a casos de intolerância gastrointestinal grave, alergia e resistência, podemos usar zanamivir. No entanto, é contraindicado para menores de 5 anos, pacientes com doença respiratória crônica (risco de broncoespasmo) e pacientes em ventilação mecânica (pode obstruir os circuitos do ventilador).

gripe aviária em humanos

A infecção por H5N1 apresenta alta taxa de mortalidade

Desde 2003, mais de 800 casos de gripe aviária em humanos já foram notificados. Em geral, a mortalidade da gripe é baixa, mas em caso de infecção por H5N1, a taxa de mortalidade pode chegar a 60%.

Desde o final de 2023, está sendo observado um aumento do número de casos de infecção pelo vírus de alta mortalidade nas Américas. Segundo o MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação), entre 2020 e 2024, o número de espécies de mamíferos infectadas pelo vírus H5N1 aumentou quase cinco vezes.

A prevenção é a forma mais eficaz de gerenciamento da gripe aviária. Em caso de H5N1, controlar surtos de gripe em aves e minimizar sua transmissão também são fatores importantes.

Gripe Aviária em Humanos

Referências:

BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Influenza Aviária. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/i/influenza-aviaria. Acessado em 11/11/2024.

OPAS. Organização Pan-Americana de Saúde. Perguntas e respostas sobre a influenza aviária A (H5N1). Disponível em: https://www.paho.org/pt/noticias/26-7-2023-perguntas-e-respostas-sobre-influenza-aviaria-h5n1. Acessado em 11/11/2024.

BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia de vigilância da influenza aviária em humanos. 2024.

Iain Stephenson, MD, FRCP. Avian influenza: Clinical manifestations and diagnosis. UpToDate. Apr 2024.

Iain Stephenson, MD, FRCP. Avian influenza: Treatment and prevention. UpToDate. Apr 2024.

Iain Stephenson, MD, FRCP. Avian influenza: Epidemiology and transmission. UpToDate. Apr 2024.

 

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