Osteoartrite
A osteoartrite (OA), artrose ou osteoartrose, é uma síndrome clínica em que há alterações articulares bioquímicas, metabólicas e fisiológicas que levam a lesões de cartilagem e osso subcondral. Acomete cerca de 20% da população mundial, com prevalência em indivíduos maiores de 40 anos – mais comumente em mulheres. Além da idade, a obesidade, traumas, alterações preexistes e história familiar positiva são fatores de risco para o desenvolvimento da doença.
Apesar de não ter cura, o tratamento é bastante eficaz, aliviando os sintomas e melhorando a qualidade de vida dos pacientes. A terapêutica é por medidas farmacológicas e não farmacológicas (essas, sempre presentes!). Em último caso, medidas intervencionistas podem ser adotadas.
No nosso app WeMEDS você pode encontrar uma descrição mais detalhada sobre a fisiopatologia da doença, bem como sinais e sintomas, diagnóstico e tratamento. Aqui vamos focar no estudo que avaliou a duloxetina em pacientes com osteoartrite.
Duloxetina não reduz a dor crônica em pacientes com osteoartrite?
Um estudo recente, ousou em dizer que usar ou não a duloxetina em pacientes com dor crônica de joelho e quadril por OA não é clinicamente relevante. O artigo foi aceito para a publicação em 6 de janeiro de 2022 na revista Arthritis and Rheumatology e ainda está em fase de ajustes finais.
Nesse trabalho, foi realizado um ensaio clínico randomizado no qual foram incluídos 132 pacientes com dor crônica de quadril ou joelho por osteoartrite, em que paracetamol e AINEs tiveram resposta insuficiente.
Os pacientes foram excluídos se estivessem programados para artroplastia total do quadril ou do joelho, estivessem em uso de antidepressivos ou analgésicos neuropáticos (gabapentina, pregabalina, carbamazepina, creme de capsaicina e creme de lidocaína), tivessem artrite reumatoide ou fossem incapazes assinar o consentimento informado. Ainda, outros critérios de exclusão como ter contraindicações para o uso de duloxetina foram avaliados.
Um dos grupos recebeu duloxetina 60mg/dia (e manteve os cuidados adicionais recomendados para o tratamento habitual), e foi comparado ao grupo sem tratamento. A presença de dor centralizada foi definida como um escore (modificado) painDETECT >12 e um desfecho primário de dor WOMAC em três meses.
Antes de continuar, apenas para relembrar…
painDETECT é um questionário de nove itens, sendo sete de sintomas sensoriais para dor (graduados de 0 = nunca a 5 = fortemente), um item temporal no padrão de curso da dor (graduado de -1 a +1), e um item espacial na radiação da dor (grau 0 para nenhuma radiação ou +2 para dor irradiada). Uma pontuação total que varia de -1 a 38 pode ser calculada a partir dos nove itens. O WOMAC (Western Ontario and McMaster Universities Osteoarthritis Index) é um questionário que avalia dor, rigidez articular e atividade física, específico para pacientes com osteoartrose. O WOMAC consiste em três domínios: dor (0-20), rigidez (0-8) e função (0-68), com pontuações mais altas indicando mais queixas.
Os pesquisadores não observaram diferenças entre os grupos (com e sem duloxetina) para dor pela avaliação WOMAC em 3 e 12 meses. Os autores comentam que observaram uma leve redução da dor nos pacientes tratados com duloxetina, mas não foi clinicamente relevante, tampouco estatisticamente significativo.
Para pacientes com sintomas de sensibilização central também nenhum efeito foi encontrado. No geral, esses pacientes tinham mais dor no início do estudo e eram um pouco mais jovens (mas tinham uma duração semelhante das queixas) em comparação com o grupo completo. Porém, mesmo com ajustes por idade, sexo e comorbidades, os resultados se mantiveram semelhantes.
Aos 3 meses, quase 90% dos pacientes no grupo duloxetina relataram pelo menos um efeito colateral em comparação com 72,5% no grupo de cuidados habituais. Mas quanto a isso, nada além do esperado – náuseas, perda de peso, constipação, bocejos e hiperidrose são efeitos já conhecidos da duloxetina.
O que teve de diferente nesse estudo?
A primeira diferença desse trabalho em relação aos outros já publicados foi quanto a idade dos pacientes. Nesse estudo, os pacientes eram mais velhos – logo, apresentavam queixas de dor em decorrência da osteoartrite há mais tempo, e mais comorbidades do que os dos outros estudos. Ainda, os pesquisadores avaliaram osteoartrite primária (idiopática), enquanto a maioria dos trabalhos não faz distinção entre osteoartrite primária ou secundária, ou dá preferência a etiologia secundária da doença.
Outra questão avaliada nesse trabalho foi o uso da duloxetina como analgésico de terceira escolha, ou seja, quando o paracetamol e os AINEs falharam para dor crônica em osteoartrite. Na maioria dos outros estudos, isso não foi um pré-requisito para participar do estudo.
Tá, mas e as limitações?
Quando avaliamos as diferenças dos estudos anteriores, também identificamos limitações. O questionário painDETECT desse estudo foi modificado, e com o corte de pontuação 12 apresenta sensibilidade de 50% e especificidade de 74% para detectar sintomas de sensibilização central. Dessa forma, a avaliação e escolha dos pacientes pode não ter sido 100% ideal.
Ainda, o número amostral não é dos maiores. Somado a isso, inicialmente 15% dos pacientes se recusaram a usar a duloxetina, por medo dos efeitos colaterais. Após três meses, quase 40% abandonaram o tratamento e, em um ano, apenas 35% do número inicial de pacientes ainda estava sendo avaliado.
Considerações finais
O estudo mencionado, de fato, trouxe resultados interessantes – e não antes propostos. Estudos maiores podem ser necessários pra um melhor esclarecimento do papel e do benefício da duloxetina da dor crônica de joelho e quadril por osteoartrite. Porém, fica o alerta!
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Referências:
Can antidepressant medication alleviate pain in patients with osteoarthritis? MedicalXPress. 2022.