Os cuidados com uma operação vão muito além da cirurgia. Durante o período pós-cirúrgico, o monitoramento da ferida realizada durante o procedimento é fundamental para a prevenção de infecções e abertura espontânea da cicatriz.
Fácil de falar no caso de procedimentos visíveis. Mas e no caso de cirurgias profundas? Já que a supervisão do Superman não é uma opção, dependemos de técnicas caras, que permitem observações limitadas da condição do local cirúrgico.
A boa notícia? Uma equipe da National University of Singapore desenvolveu um dispositivo capaz de realizar o acompanhamento da ferida cirúrgica in loco. O artigo foi publicado na Nature Biomedical Engineering em outubro de 2021.
A sutura “inteligente”
Visto que a detecção precoce de complicações pode diminuir as chances de consequências fatais, uma equipe da National University of Singapore desenvolveu uma sutura de uma forma muito esperta. O dispositivo sem bateria é mantido no local cirúrgico e transmite, sem fio, informações sobre a saúde da ferida. Desta forma, por conta da tecnologia wireless, o aparelho permite o monitoramento de locais cirúrgicos profundos.
O dispositivo é composto por três partes: uma sutura de grau médico (revestida com polímero condutor), um sensor eletrônico (sem bateria) e um leitor (componente externo).
Um dos aspectos vantajosos deste dispositivo é que a sua implementação não exige alterações no procedimento cirúrgico. Além disso, como a sutura é revestida por um polímero de condução de sinais, os próprios pontos cirúrgicos funcionam como leitores (de forma técnica, são chamados de radio-frequency identification tag, ou RFID tag).
Resultados da inteligência
Com relação à experimentação, o dispositivo teve diversos resultados positivos. A sutura é capaz de identificar diferentes complicações, que incluem micromoções e integridade do tecido. O dispositivo também não influencia no processo de cicatrização natural, além de apresentarem resistência e biotoxicidade similares às suturas convencionais. Em outras palavras, o dispositivo tem a mesma eficácia de uma sutura comum, com acréscimo do monitoramento wireless da ferida.
Outra facilidade é que a leitura pode ser feita em dispositivos implantados à 50 mm de profundidade e a sutura pode ser removida por procedimentos semelhantes aos de remoção de suturas convencionais, grampos ou clipes.
Meta de ano novo?
Apesar de inovadora, a sutura inteligente está longe de permitir uma análise ótima da saúde de feridas cirúrgicas. Mas a equipe responsável tem planos animadores. O próximo passo será adaptar a sutura para o reconhecimento de sangramentos e vazamentos após cirurgias gastrointestinais. A equipe também pretende aumentar o alcance de leitura, permitindo que a sutura seja utilizada para cirurgias mais profundas.
Por fim, um upgrade para o leitor está em vista. A equipe tem ideias para um leitor portátil, capaz de realizar o monitoramento da sutura fora do ambiente clínico. Ou seja, o paciente poderia receber alta hospitaral mais cedo e o monitoramento pós-operatória da sutura seria feito de casa.
Mas esses são planos para o futuro…
Atualmente, as complicações pós-operatórias muitas vezes não são detectadas até que o paciente experimente sintomas sistêmicos como dor, febre ou frequência cardíaca elevada. O desenvolvimento de suturas inteligentes permitirá a detecção precoce de irregularidades, possibilitando a intervenção médica antes que as complicação tornem-se fatal.
As promessas acerca deste dispositivo são grandes, podendo resultar em menores taxas de reoperação, além de recuperação mais rápida e melhores prognósticos para os pacientes. Todos saem ganhando.
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Referências: